terça-feira, 28 de dezembro de 2010

39 Degraus



Ao longo de 50 anos de carreira, Alfred Hitchcock dirigiu 53 longas metragens, sendo a maioria deles sucesso de público e de crítica. Conseguir uma carreira consistente e duradoura como Hitchcock conseguiu é uma tarefa extremamente difícil, principalmente porque suas produções foram elogiadas na época e atualmente.

Apesar de frequentemente ser avaliado positivamente, as opiniões sobre as produções do "Mestre do Suspense" sempre foram dividas entre aqueles que acreditavam que Hitchcock era um gênio do cinema e entre aqueles que o consideravam um diretor comercial. Opiniões à parte o diretor sempre teve em mente a função de contribuir para o cinema como entretenimento.

E para envolver a platéia, Hitchcock fazia dela uma grande cúmplice de seus filmes. Também conseguiu modelar o espectador para fazer com que ele percebesse certas sutilezas durante os filmes - o Mestre do Suspense acreditava que essa a principal função do diretor que trabalha com esse gênero.

Mas assim como vários cineastas, a relação de Hitchcock com o cinema começou quando ele era jovem. Ele foi ilustrador, fez letreiros de filmes mudos nos anos 20, diretor de arte, produtor e muitas outras funções. Hitchcock conseguiu juntar todo o aprendizado do período "pré-direção" e o transformou em O Inquilino (1926) - filme que chamou pela primeira vez a atenção do público e da crítica. Mas foi com 39 Degraus (1935) que ele conseguiu ser reconhecido e visto como um diretor com grande potencial.

Em 39 Degraus Richard Hannay (Robert Donnat) conhece uma mulher misteriosa que lhe conta um segredo de Estado envolvendo um homem que está sendo perseguido por envolvimento em uma trama de espionagem. Mas quando ela é assassinada, Hannay passa a ser o principal suspeito do crime. O roteiro não é nada original, tendo em vista que o próprio Hitchcock filmaria Intriga Internacional, que tem a trama parecida.

Além do problema do fraco roteiro, 39 Degraus também se perde nas prioridades da trama. O grande segredo sobre os "39 Degraus" é toda hora posto de lado pelo diretor, que prefere tratar de todos os outros temas que permeiam o filme à encaminhar a revelação do segredo. A produção não é muito envolvente, possui diálogos fracos e abusa negativamente do humor. Vale levar em consideração que 39 Degraus é um dos primeiros filmes de Hitchcock, logo, o diretor não estava em sua melhor forma; ele ainda estava aperfeiçoando sua linguagem e técnica cinematográfica.

Não adianta compara 39 Degraus com as obras primas de Hitchcock, como Psicose, Intriga Internacional e Um Corpo que Cai: quando fez esses filmes já tinha em mente tudo o que agrada o espectador e uma forte personalidade como diretor. Mas vale assistir o filme pelo seu significado na história do cinema: 39 Degraus foi a porta de entrada para o Mestre do Suspense e para o diretor de várias obras primas do cinema.


Ficha Técnica:

39 Degraus (39 Steps)
Reino Unidos - 1935
Direção: Alfred Hitchcock
Produção: Michael Balcon e Ivor Montagu
Roteiro: Charles Bennett, baseado em romance de John Buchan
Fotografia: Bernard Knowles
Trilha Sonora: Hubert Bath, Jack Beaver, Charles Williams
Elenco: Robert Donat, Madeleine Carrol, Lucie Mannheim, Godfrey Tearle, Peggy Ashcorft, John Laurie, Helen Haye
Duração: 86 minutos

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo



Parece que Príncipe da Pérsia foi a maneira encontrada pela Disney para repetir o grande sucesso que a franquia Piratas do Caribe alcançou. Apesar da tentativa, ainda é preciso aprimorar muito os próximos filmes de Príncipe da Pérsia para atingir a mesma aceitação do público.

Apesar de não ter conquistado a platéia de primeira, o filme segue a mesma fórmula desenvolvida pelos filmes de ação da Disney, em parceria com o produtor Jerry Bruckheimer: muita ação, efeitos especiais de alta qualidade e estórias exóticas, que mexem com a imaginação do público. A verdade é que Príncipe da Pérsia sofre das mesmas frustrações que as várias adaptações de jogos de video game para o cinema: nos jogos é possível interagir com as personagens, já no cinema a platéia apenas observa o desenrolar dos fatos. Então, para agradar o público é necessário um roteiro consistente e envolvente. O problema é que em Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo tudo acontece como uma simples sequência de acontecimentos, parece que nada tem finalidade e que o Príncipe Dastan (Jake Gyllenhaal) faz tudo por mera sorte. Ou seja, apesar do tom didático com que o filme é narrado, de alguma maneira, as coisas continuam confusas para o espectador que não conhecia a trama através dos jogos de video game.

No filme, o Príncipe Dastan (Jake Gyllenhall) se junta a princesa Tamina (Gemma Arterton), para proteger uma adaga antiga que tem o poder de inverter o tempo e permitir ao seu possessor o domínio do mundo. Excluindo toda a previsibilidade da estória, Príncipe da Pérsia ainda demora a engrenar, mas depois disso, até se torna um bom entretenimento. Com certeza não é o pior filme realizado pela Disney em parceria com Jerry Bruckheimer, e as outras sequências podem acabar melhorando e dando um outro rumo à nova franquia.

Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo consegue divertir e não é um filme cansativo - apesar de demorar para engrenar. Apesar da diversão, como diriam os degustadores de cerveja, o grau de drinkability do filme é baixo, ou seja, a vontade de assistir o que vem por aí não é satisfatória.


Ficha Técnica:

Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo (Prince of Persia: The Sands of Time)
Estados Unidos - 2010
Direção: Mike Newell
Produção: Jerry Bruckheimer, Chad Oman, Eric Mcleod, Mike Stenson
Roteiro: Jordan Mechner, Boaz Yakin, Doug Miro, Carlo Bernard
Fotografia: John Seale
Trilha Sonora: Harry Gregson-Williams
Elenco: Jake Gyllenhaal, Gemma Arterton, Ben Kingsley, Alfred Molina, Ronald Pickup, Steve Toussaint, Richard Coyle, Toby Kebbell, Reece Ritchie, Gísli Örn Garöarsson, William Foster
Duração: 116 minutos

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Olympia: Ídolos do estádio e Vencedores Olímpicos



Olympia é um dos filmes mais admirados e polêmicos de toda a história do cinema. Admirado porque foi uma revolução na maneira de filmar, a diretora Leni Riefenstahl provou que era possível transformar o corpo humano em pintura e poesia. E polêmico porque, a partir dele, surgiu uma questão a respeito do uso dos filmes: Olympia foi encomendado por Adolf Hitler para propagar o nazismo e a supremacia da "raça ariana". Artistas, diretores, estudiosos e todos aqueles envolvidos com o cinema levantaram a questão da viabilidade da arte como propaganda, a venda do artista e a verdadeira função do cinema como meio de comunicação de massa. Afinal, o que Leni Riefenstahl fez foi ético ou não? A verdade é que a diretora ficou marcada até o final da carreira pela direção de Olympia e O Triunfo da Vontade. Além de todos esses motivos, Olympia também se tornou uma obra clássica por ter, pela primeira vez, levado o esporte ao cinema.

Para mostrar a superioridade dos alemães, a estética do filme lembra estátuas e monumentos gregos. Leni Riefenstahl conseguiu obter esse feito graças aos planos e as montagens utilizadas; os dois recursos também foram uma tentativa de acabar com a estética expressionista, que utilizava temas mórbidos, personagens e cenários distorcidos - tudo o que Hitler lutava contra. Mas foi exatamente com o expressionismo que os alemães se consolidaram como grandes produtores de cinema. Desde a década de 20, cineastas como Murnau e Fritz Lang retratavam lendas da Alemanha, sentimentos pós-guerra e várias outras temáticas que representavam a sociedade da época.

Olympia deve ser visto não como entretenimento, mas para entender um filme que foi marcante para a época, esteticamente e como temática. O filme se torna um pouco cansativo, já que o tempo todo a diretora mostra, apenas, as provas das Olimpíadas de 1936. Mas vale assistir porque é realmente um filme lindo visualmente.


Ficha Técnica:

Olympia - Parte 1: Ídolos do Estádio (Olympia 1. Teil - Fest Der Völker)
Olympia - Parte 2: Vencedores Olímpicos (Olympia 2. Teil - Fest Der Schönheit)
Alemanha - 1938
Direção: Leni Riefenstahl
Produção: Leni Riefenstahl
Roteiro: Leni Riefenstahl
Fotografia: Wilfried Basse, Werner Bundhausen, Leo De Lafrue, Walter Frentz, Hans Karl Gottschalk, Willy Hameister, Walter Hege, Carl Junghans, Albert Kling, Ernst Kunstmann, Guzzi Lanstchner, Otto Lantschner, Kurt Neubert, Erich Nitzschmann, Hans Scheib, Hugo O. Schulze, Károly Vass, Willy Zielke, Andor von Barsy, Franz von Friedl, Heinz von Jaworsky, Hugo von Kaweczynski, Alexander von Lagorio
Trilha Sonora: Herbert Windt, Walter Gronostay
Elenco: David Albritton, Jack Beresford, Henri de Baillet-Latour, Philip Edwards, Donald Finlay, Wilhelm Frick, Josef Goebbels, Hermann Göring, Ernest Harper, Rudolf Hess, Adolf Hitler, Cornelius Johnson, Theodor Lewald, Luz Long, John Lovelock, Ralph Metcalfe, Seung-yong Nam, Henri Nannen, Dorothy Odam, Martinius Osendarp, Jesse Owens, Leni Riefenstahl, Julius Schaub, Fritz Schilgen, Jee-chung Sohn, Julius Streicher, Forrest Towns, Werner von Blomber, August von Mackensen, Gleen Morris, Conrad von Wagenheim
Duração: 118 e 107 minutos

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Sangue Negro




Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) e seu filho HW (Dillon Freasier) sobrevivem da incansável busca por ouro e prata. Até que eles descobrem, em uma pequena cidade no Oeste dos Estados Unidos, que o petróleo é farto e ainda não explorado. Daniel Plainview precisa convencer os moradores da cidade a vender as terras para ele e para o filho. Lá eles encontram o pastor Eli Sunday (Paul Dano), uma espécie de porta-voz dos habitantes e que vai ter um importante papel na busca interminável pelo petróleo.

A ideia central de Sangue Negro é, basicamente, a ambição. O filme é um estudo e um questionamento sobre até onde o homem é capaz de ir para alcançar glória, fortuna e reconhecimento. E o diretor Paul Thomas Anderson trata dessa questão utilizando mais imagens que diálogos; lembrando muitas vezes o estilo de Sergio Leone de filmar: as longas tomadas, a preferência pela imagem e a necessidade de fazer com que o espectador entenda os sentimentos de solidão e a aridez do deserto onde a trama se desenrola.

A Sangue Negro foi considerado por muitos críticos como o filme do ano e como revolucionário, chegando a ser comparado à importância que Cidadão Kane (Orson Welles) teve para seu tempo. Apesar de não concordar muito, Sangue Negro pode ser sim considerado um novo clássico, mas não tão inovador quanto algumas pessoas o classificam. Se for para estabelecer comparações A Sangue Negro se encaixa muito mais no estilo de Era Uma Vez no Oeste (Sergio Leone), de Assim Caminha a Humanidade (George Stevens) e de O Tesouro de Sierra Madre (John Huston).

Alguns aspectos mais elogiados do filme são a fotografia e a trilha sonora; sendo que a fotografia foi responsável por um dos dois Oscar que Sangue Negro foi indicado. Robert Elswit conseguiu ótimos enquadramentos e captou toda a imensidão do deserto e a solidão das duas personagens principais. Mas se a fotografia foi elogiada, a trilha sonora composta por Jonny Greenwood, guitarrista da banda de Oxford, Radiohead. As músicas de Sangue Negro receberam o prêmio de contribuição artística do Festival de Berlim.

Saindo dos aspectos técnicos do filme, o ator Daniel Day-Lewis é, sem dúvida, o melhor de Sangue Negro. Sua personagem já pode ser considerada como um clássico do cinema: tanto pela complexidade como pela atuação em si. Daniel Plainview é carente e desacreditado. Ele precisou criar uma armadura para enfrentar o mundo devido a dureza da vida que leva e das várias decepções sofridas. E toda a maneira que ele possui de ver a vida é transmitida ao filho - até um certo momento.

Difícil de conviver, Plainview é muito competitivo. Precisa de alguém para disputar inteligência e poder. Esse é um dos motivos para o futuro empresário não acreditar em Deus: ninguém pode ser mais poderoso e controlador que ele.

Sangue Negro é um filme de qualidade, em todos os sentidos, mas a fotografia, a trilha sonora e a atuação de Daniel Day-Lewis são os grandes destaques. Apesar de toda qualidade, Sangue Negro não consegue prender a atenção do espectador pelas 2 horas e meia de duração. O filme intercala momentos de altos e baixos, o que permite divagações do espectador. Por todos os acertos, o filme recebeu oito indicações ao Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor ator, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor montagem e melhor direção de arte. E ganhou nas categorias de melhor fotografia, melhor ator.

Sangue Negro (There Will Be Blood)
Estados Unidos - 2007
Direção: Paul Thomas Anderson
Produção: Daniel Lupi, Joanne Sellar e Paul Thomas Anderson
Fotografia: Robert Elswit
Roteiro: Paul Thomas Anderson (baseado no livro de Upton Sinclair
Trilha Sonora: Jonny Greenwood
Elenco: Daniel Day-Lewis, Paul Dano, Ciarán Hinds, Dillon Freasier, Kevin J. O'Connor.
Duração: 158 minutos

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Uma Noite na Ópera



As décadas de 1920 e 1930 são consideradas a época de ouro da comédia cinematográfica. Artistas como Charles Chaplin, Buster Keaton, Harold Lloyd e os próprios Irmãos Marx são considerados os criadores do gênero que prevalecia nesse período; e também são responsáveis pelo modo de fazer comédia que seguiu adiante por muito tempo. Todos esses atores possuíam características semelhantes: piadas, pensamentos rápidos, inteligentes, trejeitos...

E em Uma Noite na Ópera não é diferente. Assim como em Diabo a Quatro - um dos filmes mais famosos dos irmãos Marx - as personagens mais estereotipadas se fazem presentes: a mulher rica, o vilão e, claro, os palhaços. Neste filme os irmãos invadem o mundo da ópera para proteger um casal de conhecidos que foi separado na seleção para participar de um musical. Os irmãos Marx precisam tirar o tenor principal do espetáculo, para que o casal volte a se encontrar; já que ela foi selecionada para o elenco e ele não.

Uma Noite na Ópera deixa a desejar quanto comédia em si. Mas é possível perceber várias sequências que influenciaram comediantes bastante atuais. Woody Allen, por exemplo, sempre se declarou um fã incondicional de Groucho Marx. Mas nesse filme os irmãos exageraram na dose: algumas piadas são repetitivas e eles insistem em algumas gags ao longo do filme inteiro. Porém, por mais que Uma Noite na Ópera não seja um filme brilhante, nem o melhor dos irmãos Marx, existe uma cena no filme hilária e inesquecível, que é o momento em que eles estão dentro de um cômodo do navio e, de repente, a sala de enche de pessoas (a cena que está na foto do post). Esse momento do filme deveria ser repetido pelos comediantes atuais por ser tão engraçada e bem organizada.

Uma Noite na Ópera (A Night at the Opera)
Estados Unidos - 1935
Direção: Edmund Goulding e Sam Wood
Produção: Irving Thalberg
Fotografia: Merritt B. Gerstald
Roteiro: George S. Kauffman e Morrie Ryskind
Trilha Sonora original: Herbert Stothart
Elenco: Groucho Marx, Chico Marx, Harpo Marx, Kitty Carlisle, Allan Jones, Walter Woolf King, Sig Ruman, Margaret Dumont, Edward Keane, Robert Emmett O'Connor
Duração: 96 minutos

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Robbin Hood




Para refilmar um clássico do cinema, que já foi retratado em dezenas, ou centenas, de filmes, é necessário fazer algo grandioso. É preciso revolucionar algum aspecto da obra original. Caso contrário, será apenas mais uma refilmagem de um clássico. A ideia de Robin Hood foi boa: o filme mostra o herói antes de se tornar uma lenda. Ele revela quais caminhos Robin Hood seguiu para se transformar em uma das estórias mais contadas, e filmadas, de todos os tempos.

A trama se passa na véspera da morte do rei inglês Ricardo Coração de Leão (Danny Huston), a quem Robin (Russel Crowe) era fiel. Com a morte do rei, Robin e um grupo de amigos abandonam o exército inglês, que já estava debilitado devido as longas Cruzadas empreendidas pelo rei Ricardo. A partir daí Robin passa por diversas aventuras até encontrar Lady Marion (Cate Blanchett) e Sir Walter Loxley (Max Von Sidow).

Talvez por abordar o começo da lenda de Robin Hood, o público não tenha se identificado tanto com o filme. Pode ser que tenham esperado o tempo todo por uma visão moderna e cheia de tecnologia daquele que "rouba os ricos para dar aos pobres". Mas é importante ressaltar que, pelo menos nesse sentido, o herói de Riddley Scott é inovador. Até então poucos ou nenhum filme tinham abordado a lenda dessa forma. Mas se o filme agrada pela abordagem, ele deixa a desejar em alguns aspectos.

Não é o bastante mostrar uma nova maneira de ver uma lenda, é necessário usar milhões de outros recursos para destacar um filme que já foi tão repetido. E parece que nesse Robin Hood o único aspecto que chegou perto de uma inovação foi a fotografia. John Mathieson consegue criar uma atmosfera muito interessante no filme. Ele deixa de lado a felicidade e a paz de "As Aventuras de Robin Hood" - com Errol Flynn, dirigido por Michael Curtiz - e carrega o cenário e a imagem de elementos sujos e obscuros. Robin e seus companheiros estão sempre sujos, suados e com aparência sofrida; o que corresponde exatamente ao clima da Inglaterra no período das cruzadas.

Apesar de ser um filme mediano, o Robin Hood de Riddley Scott deve ser o que mais se aproxima da realidade do país na época, da sociedade, e da "verdadeira" estória do herói. O retrato de Robin Hood é desconstruído: ele deixa de ser aquele ser bom e extremamente honesto e adquire características mais humanas. O herói rouba, mata quando precisa e não é feliz o tempo todo. É interessante ver a versão porque ela mostra um herói mais humanizado, que não foi mostrado pelos filmes que o antecederam.

Robin Hood (Robin Hood)
Estados Unidos/Reino Unido - 2010
Direção: Riddley Scott
Produção: Brian Grazer
Fotografia: John Mathieson
Roteiro: Brian Helgeland, Ethan Reiff, Cyrus Voris
Trilha Sonora: Marc Streitenfeld
Elenco: Russel Crowe, Cate Blanchett, Mark Strong, Matthew Macfayden, Danny Huston, Kevin Durand, William Hurt, Max von Sydow, Scott Grimes, Eileen Atkins, Léa Seydoux, Bronson Webb, Oscar Isaac, Robert Pugh, Alan Doyle
Duração: 148 minutos

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Gritos e Sussurros



Talvez Gritos e Sussurros tenha sido o ápice artístico de Ingmar Bergman. O uso das cores, da música, do silêncio, o próprio roteiro... Tudo no filme se encaixa perfeitamente, principalmente quando combinado com a fotografia de Sven Nykvist - que fez parte da equipe técnica do diretor em vários filmes. Gritos e Sussurros pode ser também, um dos filmes que mais falam com o interior do espectador, principalmente o feminino. Os filmes de Ingmar Bergman sempre são carregados de existencialismo: as dúvidas sobre a vida e a morte, os sentimentos mais simples e os mais sombrios do ser humano, a velhice e tantos outros motivos que permitem horas de reflexão. E em Gritos e Sussurros ele permite ao espectador todas essas indagações.

O filme narra um certo período na vida de quatro mulheres: as irmãs Karin e Maria (Ingrid Thulin e Liv Ullmann, respectivamente), vão visitar a outra irmã Agnes (Harriet Andersson), que está a beira da morte e recebendo os cuidados da criada Anna (Kari Sylwan). Todas as mulheres possuem características bastante específicas, com medos, vontades e desejos secretos. E é a partir dessa diferença, que pode também ser entendida como semelhança, que Bergman narra os dias em que todas estiveram juntas. Ele mostra a vida interior de cada uma, por meio dos remorsos, memórias, fantasias e outros sentimentos.

É curioso ver como o diretor conseguiu explorar aspectos familiares que muitas vezes ficam escondidos em meio às convenções sociais. Essas quatro mulheres passam por momentos curtos de libertação, seguidos de repressão. Parece que, pela primeira vez na vida, elas conseguem demonstrar sentimentos, até então, proibidos. Em vários momentos, por exemplo, a relação das irmãs salta da pureza, para um sentimento de desejo e retorna para a frieza. Bergman realmente revira o mundo feminino e familiar.

Além das atuações e da mescla de sentimentos, o diretor usa de forma brilhante e a cor e o silêncio para criar uma atmosfera agonizante, fria e, por vezes, desesperadora. Bergman disse uma vez que havia imaginado a alma humana como os tons de vermelho utilizados em Gritos e Sussurros. Assim como nas paredes da casa, como na mobília, um vermelho muito quente transmite sensações de agonia ao espectador. O que é confirmado pela cromoterapia: de acordo com a terapia alternativa, o vermelho pode ter efeito vitalizante, excitante e estimulante. Mas quando é utilizado em excesso, como em Gritos e Sussurros, pode causar irritação e aumento da tensão nervosa.

Bergman também soube administrar o silêncio. Junto com a cor das paredes, o silêncio é fundamental para criar essa atmosfera de agonia e angustia. Logo no começo do filme, o som de relógios parece significar cada segundo a menos de vida de Agnes. O espectador também tem a impressão de que é possível escutar cada passo e respiração das irmãs na casa. Momentos em que qualquer diretor colocaria uma trilha sonora imponente, Bergman prefere usar a importância do silêncio para que seja possível entender o que acontece com aquela família.

Gritos e Sussuros é um filme obrigatório em todos os aspectos. A partir desse filme é possível analisar o cinema sob uma outra perspectiva, entender que menos é mais e perceber como posicionamento de câmera, iluminação e pequenos detalhes são fundamentais. É claro que é preciso ter paciência para acompanhar a evolução do filme e prestar atenção em cada movimento das personagens. Mas Gritos e Sussurros merece ser assistido milhares de vezes. Pois em cada uma dessas vezes, ângulos e aspectos diferentes das personagens serão percebidos.

Gritos e Sussurros (Viskningar och rop)
Suécia - 1972
Direção: Ingmar Bergman
Produção: Lars-Owe Carlberg
Fotografia: Sven Nikvyst
Roteiro: Ingmar Bergman
Trilha Sonora não original: Johann Sebastian Bach, Frédéric Chopin
Elenco: Harriet Anderson, Kari Sylwan, Ingrid Thulin, Anders Ek, Liv Ullmann, Erland Josepshson, Henning Moritzen, Inga Gil, George Arlin
Duração: 106 minutos

domingo, 5 de dezembro de 2010

Zulu



O filme narra a história, baseada em fatos reais, de 100 soldados britânicos, que combateram 4000 guerreiros Zulus em 1879. Os Zulus são uma das mais poderosas tribos da África. Eles são retratados no filme com todo esse poder e com a inteligência de quem conhece a região em que vive. Os guerreiros conseguem cercar o pequeno forte britânico e fazer com que as armas de fogo dos soldados pareçam impotentes diante de todo conhecimento territorial e de guerra que eles possuem.

Desprezando os aspectos técnicos, Zulu não é um dos épicos mais brilhantes do cinema. O enredo do filme não é dos mais complexos, logo as mais de duas horas de duração não eram necessárias; o filme é cansativo e se alonga demais em cenas que poderiam ser bem mais curtas.

Porém, não há o que reclamar das cenas de batalha e dos aspectos técnicos de Zulu. A fotografia, as interpretações e as cenas de batalha são impecáveis. O filme foi fotografado em Technirama, o que trouxe cores e detalhes esteticamente impecáveis à produção. E é um bom momento de ver a ótima atuação de Michael Caine como Gonville Bromhead. Já as cenas de enfrentamento entre guerreiros e soldados são muito bem retratadas. Muitos figurantes foram contratados para representar a tribo e Cy Endfield conseguiu extrair de todos esses atores uma real tensão do que estava acontecendo no momento. Mas não é possível desprezar aquela antiga visão das tribos africanas: apesar de Zulu deixar claro a noção de guerra que os guerreiros possuíam, ele não deixa de lado a visão do "selvagem" africano. Enquanto eles apenas defendiam suas terras, os ingleses eram as vítimas que estavam sendo atacadas "sem motivo".

Zulu (The Battle of Rorke's Drift)
Grã-Bretanha - 1964
Direção: Cy Endfield
Produção: Stanley Baker, Cy Endfield
Fotografia: Stephen Dade
Roteiro: Cy Endfield, baseado em artigo de John Prebble
Trilha Sonora: John Barry
Elenco: Stanley Baker, Michael Caine, Jack Hawkins, Ulla Jacobson, James Booth, Nigel Green
Duração: 138 minutos

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Turba



"O mundo irá falar deste menino": esta foi a primeira frase que o pai de John Sims (James Murray) disse quando ele nasceu. E é exatamente sobre isso que A Turba trata: a busca pelo reconhecimento, pelo crescimento na vida profissional e social; King Vidor vai mostrar se John Sims vai ou não se tornar um homem histórico. Recém chegado a Nova York, John Sims é apenas mais um na multidão da cidade e mais um em busca de alcançar um futuro brilhante. Após algum tempo em Nova York, John se casa com Mary (Eleanor Boardman). O marido não ganha muito no escritório onde trabalha, mas garante à Mary que "o amanhã será brilhante". Vários anos depois, John continua com a mesma premissa e a família não vê nada melhorando.

A Turba poderia caminhar para dois lados distintos: poderia abordar com muita ênfase a questão da massa: John Sims é mais um tentando conquistar um futuro satisfatório, sustentar a família e viver dignamente. Ou poderia abordar o lado romântico: o casamento, que seria uma fuga, se transforma em mais uma responsabilidade para o personagem. King Vidor conseguiu abordar dois temas muito atuais de maneiras iguais: em alguns momento a questão da turba, da multidão merece destaque, já em outros, o diretor aborda a questão do matrimônio e suas implicações. Além da abordagem, King Vidor conseguiu feitos imensos na questão técnica do filme.

O diretor transforma os altos arranha-céus de Nova York, em extensas salas de escritórios, em que todos estão alienados e fazem a mesma coisa todos os dias, sem nenhum senso crítico; talvez em meio àquelas tantas pessoas, várias teriam a mesma vontade de John Sims, crescer na vida e acreditar no "american way of life". Essa questão de abordar o capitalismo e o modelo americano foi muito pertinente à época: os Estados Unidos mergulhavam na maior crise econômica de todos os tempos. A sociedade, o estado, tudo estava arrasado. E A Turba mostra isso me maneira muito poética: o filme estabelece um contraponto entre os altos prédios e o desemprego; entre a tristeza dos empresários que perdiam tudo e o descontentamento daqueles que nunca tiveram nada. Apesar de ter sido filmado em 1928, o filme continua muito atual em todos os aspectos.

A Turba é um dos melhores filmes mudos já realizados. A técnica do diretor, o roteiro, a abordagem sobre os aspectos econômicos e matrimôniais, a sabedoria em explorar um período tão difícil para uma nação, fez de A Turba um filme obrigatório. Mais obrigatório ainda, por não se deixar levar pela emoção do momento. E por ser um filme muito pé no chão; o que difere da maioria das produções da época.



Ficha Técnica:

A Turba (The Crowd)
Estados Unidos - 1928
Direção: King Vidor
Produção: Irving Thalberg
Fotografia: Henry Sharp
Roteiro: John A. Weaver
Trilha Sonora: Carl Davis
Elenco: Eleanor Boardman, James Murray, Bert Roach, Estelle Clark, Daniel G. Tomlinson, Dell Henderson, Lucy Beaumont, Freddie Burke Frederick, Alice Mildred Puter
Duração: 98 minutos

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Âncora: a lenda de Ron Burgundy



Na década de 70, Ron Burgundy (Will Ferrell) é um dos mais famosos âncoras de San Diego. Ele divide a apresentação do jornal com Veronica (Christina Applegate), que faz matérias relacionadas apenas a supostos interesses femininos: cozinha e moda. Quando ela resolve querer mais espaço, Veronica passa a disputar com Ron, e eles começam uma intensa disputa nos bastidores, para ver quem vai ser o âncora principal do telejornal.

O Âncora sintetiza o que 90% dos filmes de comédia representam atualmente e o que eles acrescentam à vida de quem os assiste: nada. Um filme limitado, que busca fazer piada atrás de piada, e sem nenhum bom gosto. É, mais uma vez, a ideia de que para a maioria dos americanos, fazer rir significa humilhar as minorias, fazer piadas a troco de nada e achar que palavrões e pornografia, salvam qualquer filme. É uma receita que, infelizmente, faz sucesso. O Âncora é um daqueles filmes que apenas pela sinopse, o espectador consegue adivinhar absolutamente tudo que vai acontecer até o final do filme. Previsível e de mau gosto: essa é a definição desse filme.

O Âncora não apresenta pontos positivos e se apresenta não são tão bons assim pra fazer com que sejam lembrados. É uma pena que o estilo de fazer comédia criado por Charles Chaplin, passando pelos Irmãos Marx e atualizado por Woody Allen, sejam tão restritos: existe uma minoria que faz e outra minoria que assiste. O filme de Adam McKay é muito supérfluo, e apesar de ter apenas 90 minutos, parece uma e-t-e-r-n-i-d-a-d-e! É uma pena que esse tipo de filme faça tanto sucesso.

O Âncora figura em uma lista que aponta os 100 melhores filmes da década. Essa aparição continua uma ENORME dúvida. Não é possível que entre os anos 2000 e 2010, foram feitos tão poucos filmes bons. Na verdade, uma lista de filmes poderiam ser feitas apenas para disputar um lugar contra O Âncora nessa listinha. Adam McKay até faz referências a filmes antigos e gêneros clássicos do cinema, como o Velho Oeste, mas a piada é tão forçada e exagerada que atinge o ridículo.

O Âncora é um filme não aconselhável, ridículo e de muito mau gosto.


Ficha Técnica:

O Âncora: a lenda de Ron Burgundy
Estados Unidos - 2004
Direção: Adam McKay
Produção: Judd Apatow
Fotografia: Thomas E. Ackerman
Roteiro: Will Ferrell e Adam McKay
Trilha Sonora: Alex Wurman
Elenco: Will Ferrell, Christina Applegate, Paul Rudd, Steve Carrel, David Koechner, Fred Willard, Chris Parnell, Kathryn Hahn, Fred Armisen, Luke Wilson, Vince Vaughn, Paul F Tompkins, Jack Black, Tim Robbins, Ben Stiller, Danny Trejo, Seth Rogen
Duração: 91 minutos

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Diabo a Quatro



"A origem da expressão Diabo a Quatro é francesa - faire le diable a quatre - e provém de certas representações teatrais na Idade Média em que era constante a presença do diabo. Para diabruras maiores, o autor usava quatro diabos, todos eles fazendo enorme confusão e estardalhaço no palco". A definição da expressão também poderia ser a sinopse do filme.

O pequeno país Freedonia atravessa uma péssima fase econômica. A Sra. Tiesdale (Margaret Dumont) doa 20 milhões de dólares aos caixas públicos, se T. Firefly (Groucho Marx) for eleito presidente. Porém, o país vizinho e rival de Freedonia, Sylvania, envia dois espiões (Chipo e Harpo Marx) para conseguir informações sigilosas, enquanto uma guerra pode ser travada se os líderes dos dois países não decidirem quem vai ser o futuro marido da Sra. Tiesdale.

"Diabo a Quatro" é o mais famoso filme dos Irmãos Marx e uma fonte de influências para comediantes. Eles abusam tanto de piadas e gags que em alguns momentos chega a ser cansativo. Fora esses deslizes, fica claro que foi em filmes como "Diabo a Quatro" que muitos comediantes se inspiraram para compor personagens. Um exemplo disso é Woody Allen. O diretor/ator nunca escondeu a admiração que tinha por Groucho Marx; ele fala sobre o ator em seus livros e filmes. Os Irmãos Marx chegam a lembrar o estilo de comédia de Charlie Chaplin, mas de maneira mais exagerada.

Claro que o destaque do filme fica com os irmãos, mas além de Groucho, o principal deles, Chico Marx, que interpreta Chicolini está muito bem no papel de um italiano que vai morar na América. Ele concentra todos os trejeitos explorados dos italianos: é exagerado, desesperado e mandão. Chico Marx rouba a cena nos momentos em que aparece. "Diabo a Quatro" tem uma das cenas mais inesquecíveis do cinema e várias referências às questões políticas da época. Freedonia e Sylvania são dois países totalitários, que fazem referência aos regimes da época (Mussolini até chegou a proibir o filme) e a memorável cena do espelho, em que Groucho trava uma batalha consigo mesmo - a cena que está na foto do post.

"Diabo a Quatro" é um filme em que é possível encontrar várias referências e descobrir de onde grandes comediantes tiraram suas influências. Mas às vezes o filme se torna cansativo e apela para certos tipos de gags que, hoje em dia, já é muito conhecido; ver dessa maneira é analisar o filme 70 anos depois, com certeza não foi isso que o público dos anos 30 pensou. "Diabo a Quatro" é melhor lembrado por momentos memoráveis do que pelo filme inteiro.





Ficha Técnica:

Diabo a Quatro - Duck Soup
Estados Unidos: 1933
Direção: Leo McMarey
Produção: Herman J. Mankiewicz
Fotografia: Henry Sharp
Roteiro: Bert Kalmar, Harry Ruby, Nat Perrin, Arthur Sheekman
Trilha Sonora:John Leipold
Elenco: Groucho Marx, Harpo Marx, Chico Marx, Zeppo Marx, Margaret Dumont, Raquel Torres, Louis Calhern, Edmund Breese, Leonid Kinskey, Charles Middleton, Edgar Kennedy
Duração: 68 minutos

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A Palavra



Um fazendeiro viúvo, muito religioso, tem três filhos. O mais velho é ateu; o do meio foi estudar para ser padre, mas após várias crises ele acredita que é o próprio Jesus Cristo e o mais novo quer se casar com a filha do alfaiate da cidade. O único problema é que ela é outra religião. Tudo poderia ser simples, mas a maneira de filmar de Dryer e os assuntos abordados no filme mudam todo o significado da obra.

A Palavra pode ser acusado de ter envelhecido em alguns aspectos, porém, eles se tornam detalhes dentro do contexto e da exploração do tema: religião. É irônico um pai super religioso, desejar que um dos filhos siga a carreira da igreja e, de uma hora pra outra, ele acredita que é Jesus Cristo e o pai não fica "satisfeito" com o que aconteceu. As personagens de A Palavra são todas secas e frias; chega até a ser incômodo imaginar que aquelas pessoas tão distantes sejam parentes. Com exceção de Ingrid, mulher do filho mais velho, que pode ser encarada como o elo entre todos os personagens. Ingrid carrega toda a família nas costas.

Mas é preciso que o espectador esteja preparado para assistir a esse filme. Por vários momentos Carl Dryer chegou a ser reverenciado por críticos e ao mesmo tempo ser acusado de tedioso. É verdade que A Palavra segue um ritmo lento, desalecerado, quase parado... O espectador deve comprar a ideia do diretor, se quiser entender a mensagem principal do filme. A Palavra não é um filme que diverte, mas ele faz pensar em temas bastante polêmicos e muito atuais.

A verdade é que a maioria dos críticos ficam divididos em dois momentos quando vão julgar o filme: analisar a beleza, a estética da obra ou pensar o filme como entretenimento? Se pensarmos pela primeira perspectiva, A Palavra é impecável. Se analisarmos pela segunda, o filme torna-se torturante (mas com algum envolvimento). A Palavra tem uma das fotografias mais belas da história do cinema: os tons de preto e branco, o posicionamento da câmera, a movimentação dos personagens em cena... É com certeza uma referência no assunto. Já pelo ângulo do entretenimento, é muito difícil assistir A Palavra sem sentir uma pontada de tédio, de vontade que tudo se resolva. Mas em alguns desses momentos, principalmente quando o filme vai se encaminhando pro final, torna-se obrigatório insistir e ver o ápice da obra.

Se uma palavra pudesse definir o filme seria: densidade. Qualquer aspecto levantado pelo diretor, é passível de várias interpretações e de análises muito ricas. A religião ou a falta dela, o misticismo, a vida após a morte, os costumes, a instituição família. São muitos pontos interessantes para prestar atenção e discutir. Mas a verdade é que é preciso estar disposto para assistir A Palavra. O filme é tedioso e permite divagações, mas está classificado entre aqueles filmes em que o melhor é o depois, quando todas as questões levantadas se organizam e o espectador fica um bom tempo tentando digerí-las.


Ficha Técnica:

A Palavra (Ordet)
Dinamarca - 1955
Direção: Carl Theodor Dryer
Produção: Carl Theodor Dryer, Erik Nielsen, Tage Nielsen
Fotografia: Henning Bendtsen
Roteiro: Kaj Munk (autor da peça em que o filme é baseado)
Trilha Sonora: Poul Schierbeck
Elenco: Hanne Agensen, Kirsten Andreasen, Sylvia Eckhausen, Birgitte Federspiel, Ejner Federspiel, Emil Hass Christensen, Cay Kristiansen, Preben Ledorff Rye
Duração: 126 minutos

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Guerra e Paz



Baseado em uma das maiores obras de literatura da Rússia e escrita por um dos mais importantes autores da história das letras, está Guerra e Paz. Leon Tolstoi retratou a Rússia do século XIX. Natasha (Audrey Hepburn) pertence à aristocracia da família Rostov. Pierre Bexukhov (Henry Fonda) é um pacifista amigo da família e um discreto amor de Natasha. Durante uma caçada de raposas, Natasha conhece Andrei (Mel Ferrer), um príncipe por quem Natasha vai se apaixonar. O livro trata desse triângulo amoroso, usando o cenário político e econômico da Rússia ou faz um retrato político e econômico da história da Rúusia utilizando o triângulo amoroso? Tanto o amor, quando as questões sociais do país são exploradas pelo autor e, por consequência, pelo diretor King Vidor.

Guerra e Paz se passa na época da invasão Napoleônica à Rússia e retrata diversas batalhas como a de Austerlitz e Borodino. Esse período histórico é mostrado narrando as condições de vida e política da população russa. O cenário de Guerra e Paz é riquíssimo. E o diretor do filme, King Vidor, soube aproveitar toda essa opulência.

A mega produção de King Vidor foi a segunda maior até então realizada pelo estúdio do filme, a Paramount. Guerra e Paz só ficou atrás de Os Dez Mandamentos de Cecil B. DeMille. O diretor muda de cenas de salões de baile até reconstruções das grandes batalhas. Vidor tem como um dos principais aliados a bela fotografia colorida de Jack Cardiff, que criou composições maravilhosas de movimento e cor. Até porque para entreter o espectador, além de um excelente roteiro e uma brilhante direção, o diretor precisa usar de outros artifícios para prender a atenção da plateia. E King Vidor faz isso muito bem. Além da opulência das imagens, o figurino e as atuações são os outros destaques do filme.

A interpretação de Audrey Hepburn está fantástica como a jovem Natasha. Até porque a atriz estava com quase 30 anos quando filmou Guerra e Paz e ela consegue transmitir uma pureza e jovialidade impressionante. Henry Fonda também está muito marcante como o conformado Pierre. Ele consegue reunir toda a tristeza e esperança que alguém pode ter, em alguns momentos chegamos até a sentir pena de todas as tentativas que ele faz para ser um pouco mais feliz. E o Andrei de Mel Ferrer também está muito bom! Ele é, definitivamente, o galã do filme. O conquistador que representa tudo que uma jovem russa, da época, poderia desejar: corajoso, bonito e valente.

Guerra e Paz é um dos melhores épicos que já assisti e um dos filmes mais envolventes já produzidos. É impressionante a opulência do filmes, os quesitos técnicos, as atuações, tudo é conduzido de uma maneira brilhante. Além de ter um contexto histórico muito rico e que permite vários caminhos de exploração. Guerra e Paz é um daqueles filmes obrigatórios e inesquecíveis.


Ficha Técnica:

Guerra e Paz (War and Peace)
Itália e Estados Unidos - 1956
Direção: King Vidor
Produção: Carlo Ponti e Mario Camerini
Roteiro: King Vidor, Robert Westerby, Ivo Perilli, Mario Camerini, Ennio De Concini. Baseado no livro homônimo de Leon Tolstoi
Trilha Sonora: Nino Rota
Elenco: Henry Fonda, Audrey Hepburn, Mel Ferrer, Vittorio Gassman, John Mills, Herbert Lom, Anita Ekberg, Barry Jones, Jeremy Brett, Oscar Homolka, Helmut Dantine
Duração: 208 minutos

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Lula e a Baleia




A Lula e a Baleia é um filme americano, porém com ares franceses. Assim como as produções atuais mais aclamadas, a trama fala de cotidiano, de conflitos, de relacionamentos que não seriam tão bem explorados há 20 anos atrás. Nesse caso, o filme fala sobre dois adolescentes que estão tendo que lidar com a separação dos pais. Bernard Berkman (Jeff Daniels) é um escritor de sucesso, que está vendo a esposa Joan (Laura Linney) atingir fama nessa mesma área. Os dois continuam com as frequentes brigas, mesmo tendo consciência de que o casamento já estava comprometido. Para um dos filhos do casal, a mudança é positiva, mas para o outro é uma complicada transição.

O filme trata de dois temas de uma maneira muito interessante. A primeira, e principal, é a separação: enquanto um dos filhos enxerga o processo de uma maneira natural (como se tivesse consciência do que estava acontecendo) o outro precisa de tempo e precisa entender mais a vida para saber que aquela decisão já estava tomada. No quesito separação também é curioso o fato de que um filho é mais apegado à mãe, enquanto o outro é mais apegado ao pai. Até aí, nada de diferente da realidade de milhões de pessoas. Outro fator explorado em A Lula e a Baleia é a questão da masculinidade. É muito difícil para o marido, enxergar que a esposa está trilhando um caminho de sucesso, na mesma área em que ele atuava.

A Lula e a Baleia é um daqueles filmes que a gente tem a impressão que foi feito com todo cuidado (apesar de ter sido filmado em 23 dias): desde a escolha dos atores, até a trilha sonora. Jeff Daniels e Laura Linney estão ótimos como o casal Berkman. Ele está o típico marido insuportável e machista e ela consegue construir uma personagem em constante evolução. A escolha das músicas também é ótima: praticamente todas as músicas são folks e trouxe de volta grandes cantores do estilo: Bert Jansch e Loudor Wainright III. Além do folk, Pink Floyd também faz parte da trilha sonora.

A Lula e a Baleia é leve e discute temas atuais de uma maneira bem interessante; tudo é baseado no cotidiano, nada que é mostrado no filme não poderia acontecer com qualquer um, em qualquer lugar do mundo. Mas, por ser tão leve, não é um daqueles filmes inesquecíveis. Serve para assistir, refletir e depois já pensar em outra coisa.

Ficha Técnica:

A Lula e a Baleia (The Squid and the Whale)
Estados Unidos - 2005
Direção: Noah Baumbach
Produção: Wes Anderson
Roteiro: Noah Baumbach
Trilha Sonora: Britta Phillips e Dean Wareham
Elenco: Owen Kline, Jeff Daniels, Laura Linney, Jesse Eisenberg, William Baldwin, David Benger, Anna Paquin, Halley Feiffer
Duração: 81 minutos

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quando Explode a Vingança




- You taught me one thing! (Juan)
- What?! (Sean)
- How to get fucked! (Juan)

Quando Explode a Vingança - Giù La Testa/Duck You Sucker
Itália - 1971
Direção: Sergio Leone
Produção: Fulvio Morsella
Roteiro: Luciano Vincenzoni, Sergio Leone e Sergio Donati
Trilha Sonora: Ennio Morricone
Elenco: James Coburn, Rod Steiger, Maria Monti, Rik Bataglia, Franco Grazosi
Duração: 158 minutos

Juan Miranda (Rod Steiger) é um camponês com aspirações de Robin Hood - roubar dos ricos, para dar aos pobres. Sean Mallory (James Coburn) é um revolucionário irlandês viciado em danamites (!). Inicialmente os dois desenvolvem uma relação muito difícil, mas depois se unem e se envolvem em um plano para libertar prisioneiros políticos, na defesa de seus compatriotas (os dois vivem no México) perante a milícia de um sádico oficial.

Quando Explode a Vingança é o filme mais desconhecido de Sergio Leone e um dos menos bem recebidos pelo público. Apesar dos pontos negativos, não se pode dizer que o filme não apresenta as características marcantes do diretor: longos planos-sequências, paisagens extensas e calorentas, grande quantidade de closes etc. Mas um novo traço de Sergio Leone apareceu em Quando Explode a Vingança: o senso de humor. O camponês Juan Miranda é hilário. Ele aprende a lidar com as dificuldades da vida de uma maneira bem otimista; que até chega a lembrar a visão brasileira do que é viver. Não que essa característica nunca tivesse aparecido nas obras de Leone, mas, nesse filme, ela é bastante explorada.

Outro ponto técnico positivo é a trilha sonora de Ennio Morricone. Se Leone falhou em Quando Explode a Vingança, a trilha sonora não deixou nada a desejar. Mais uma vez fica evidente a grandeza de Ennio Morricone; as músicas do filme são aquelas bem grudentas (de uma meneira positiva) e, portanto, marcante. Como Quando Explode a Vingança é o filme menos conhecido de Leone, a trilha sonora seguiu o mesmo caminho. Mas é excelente.

Quando Explode a Vingança é tedioso! Por Um Punhado de Dólares (primeiro filme de Leone) é muito mais divertido que este que foi um de seus últimos. As duas horas e meia do filme passam arrastando, salvo por alguns momentos em que as atuações de James Coburn e Rod Steiger conseguem divertir bastante. A respeito da parte técnica, não há o que reclamar. Mas tudo é muito longo, a trama não consegue prender o espectador (apesar da ideia ser muito boa). O filme foi tão mal recebido pelo público, que Sergio Leone entrou em depressão e adiou por 10 anos a direção de Era Uma Vez na América. Mas toda essa tristeza é até compreensível: um diretor que errou "poucas vezes" na carreira deve sempre exigir o melhor de si. E Quando Explode a Vingança está longe da lista dos melhores de Sergio Leone.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Frenesi



A trama de Frenesi é simples: um estrangulador de mulheres está solto em Londres. A polícia começa a investigar o caso e, pra variar, o principal suspeito do assassinato é assim considerado por estar no lugar errado, na hora errada. Richard (John Finch) precisa lutar para provar a inocência e acaba se envolvendo mais do que deveria no caso. O roteiro não é nada original. É até estranho imaginar que um diretor que já fez Um Corpo Que Cai e Psicose possa ter se dedicado a uma trama nada inovadora.

O que é mais curioso no filme, é que Frenesi foi a penúltima produção de Hitchcock e o filme que marcou a volta do diretor à Inglaterra. Porém, ao contrário do que poderia ser esperado, Frenesi não une as melhores características do diretor, apesar de apresentar muitas delas. Hitchcock continua utilizando os grandes planos-sequência, assim como em Festim Diabólico e usa e abusa das reviravoltas - o que nos dá alguma esperança de que o roteiro vai melhorar. Não há também aqueles personagens tão fortes, complexos e marcantes como Norman Bates de Psicose.

Frenesi não é o pior filme do mestre do suspense, mas também não está perto dos melhores. Os pontos positivos de Frenesi é a maneira quase única com que Hitchcock faz que o espectador se sinta participante da trama; algumas vezes ele deixa de mostrar algumas cenas, para que a platéia tenha a impressão de estar vendo tudo ao vivo. Ele sabe dosar o que vai mostrar na tela.

Frenesi é o tipo de filme que poderia ter alguns minutos a menos que tudo ficaria bem. Não faria falta no entendimento da história. Até porque os momentos mais gloriosos são os de assassinato, fora isso, resta ao espectador esperar mais momentos de suspense.

Talvez para alguém que esteja assistindo pela primeira vez um filme de Hitchcock, Frenesi não pareça assim tão inferior. Mas depois de ver Um Corpo Que Cai, Intriga Internacional, Festim Diabólico etc. Frenesi adquire o tom de mais um filme policial.

Ficha Técnica:

Frenesi (Frenzy)
Inglaterra - 1972
Direção: Alfred Hitchcock
Produção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Anthony Shaffer
Trilha Sonora: Ron Goodwin
Elenco: John Finch, Alec McCowen, Barry Foster, Billie Withelaw, Ann Massey, Barbara Leigh-Hunt, Bernanrd Cribbins, Vivien Merchant, Michael Bates, Jean Marsh, Clive Swift, John Boxer, Madge Ryan, Elsie Randolph
Duração: 116 minutos

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Os Dez Mandamentos



Os Dez Mandamentos é baseado na história Bíblica de Moisés, O Príncipe do Egito. O Faraó Ramses I manda matar todas as crianças do Egito, quando fica sabendo que uma delas seria a libertadora dos escravos. No entanto, Yochabel (mãe de Moisés) consegue salver seu filho, abandonando-o dentro de uma cesta no Rio Nilo. O bebê é encontrado por Bithiah, filha do faraó, e Moisés acaba sendo criado como um príncipe. Já adulto, Moisés descobre sua verdadeira origem e dedica-se a libertar os escravos do Egito.

Os Dez Mandamentos talvez tenha sido a maior aventura de Cecil B. DeMille - o que não significa que seja seu melhor filme. Mas a visão que o diretor tem de Moisés é curiosa. Diferente do que é encontrado nos filmes bíblicos, o Moisés de Os Dez Mandamentos (Charlton Heston) é um super galã. O começo do envolvimento dele com Nefertiti, personagem de Anne Bexter, é extremamente sensual; o Príncipe do Egito quase não consegue resistir aos seus encantos. Moisés aparece como um homem comum, que possui sonhos, fraquezas e, sobretudo, desejos. E é uma das primeiras vezes que uma orgia é retratada em um filme bíblico - respeitando o assunto e a época, é claro.

Tudo em Os Dez Mandamentos é grandioso. Os figurinos são extremamente detalhados, os cenários são imensos e os figurantes são milhares, além dos efeitos especiais que foram inovadores para a época (principalmente na cena em que Moisés abre o mar ao meio). E as atuações, com todos os olhos voltados para Charlton Heston e não por acaso: Moisés foi uma das melhores atuações da carreira do ator.

Cecil B. DeMille já havia filmado Os Dez Mandamentos em 1923, mas em 1956 ele refilmou a obra usando os recursos do Technicolor. Com a refilmagem o diretor estabeleceu um parâmetro por meio do qual a qualidade das futuras produções bíblicas e épicas seriam medidas.

Os Dez Mandamentos é um retrato de DeMille do mundo nos anos 50, em meio à Guerra Fria. Quando o diretor vai apresentar o filme, fazer uma sinopse é menos importante que enfatizar e implantar a dúvida se "o homem deve ser governado pelas leis de Deus ou pelos caprichos de um ditador como Ramsés". Nesse momento ele, claramente, tem a intenção de comparar o Faraó com o chinês Mao Tse-Tung.

DeMille faz com que as quase 4 horas de filme não passem arrastando; o que é muito mais um mérito seu do que da própria história de Moisés. O diretor usa elementos que na época nunca haviam sido utilizados e até hoje, 50 anos depois, a exuberância de Os Dez Mandamentos ainda não foi completamente superada.



Ficha Técnica:
Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments)
Estados Unidos - 1956
Direção: Cecil B. DeMille
Produção: Cecil B. DeMille
Roteiro: Eneas McKenzie, Jesse Lasky Jr., Jack Gariss e Fredric M. Frank, baseado nos livros de J.H. Ingraham, A.E. Southom e Dorothy Clarke Wilson
Trilha Sonora: Elmer Bernstein
Elenco: Charlton Heston, Yul Bryner, Anne Bexter, Edward G. Robinson, Yvone De Carlo, Debra Paget, John Derek, Sir Cedric Hardwicke, Nina Foch, Martha Scott, Judilh Anderson, Vincent Price, John Carradine
Duração: 222 minutos

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O Grande Motim



O Grande Motim foi o vencedor do Oscar de 1935 e o único filme da história em que os três atores principais foram indicados ao Oscar nessa categoria; apesar de nenhum deles ter levado a estatueta. O Grande Motim é um dos melhores filmes de aventura marítima já feitos e uma aula de técnica para os filmes recentes; a maior parte da trama se desenrola no mar, e isso nos anos 30.

Charles Laughton é o Capitão William Bligh, o grande vilão do filme e um dos melhores personagens malvados da história. Ele é, praticamente, o responsável pelos maus tratos à tripulação do navio que comanda. Enquanto a tripulação buscava mudas de fruta-pão no Taiti, o Capitão tratava todos com severidade e conseguia o que queria sendo corrupto. William Bligh não perdoava nem os mortos. Para sair da situação de desespero em que se encontravam, a tripulação arma um enorme motim para destituir o Capitão do cargo. A revolução marítima é liderada por Fletcher Christian, interpretado por Clark Gable. Gable reúne todas as características de um herói: tem carisma, boa vontade e um enorme senso de justiça.

Além dos personagens principais muito marcantes, outro aspecto interessante do filme são os personagens coadjuvantes - eles conferem ao filme, em vários momentos, tons de comédia - existe um marujo bêbado, o desespero dos tripulantes quando encontram mulheres e um grande romance. A trilha sonora também não deixa a desejar: Herbert Stothart compôs o típico estilo de músicas de filmes de marujos: aquele tom marcante e imponente.

O Grande Motim reúne grandes atuações e é um belo representante da época de ouro dos filmes de Hollywood. Apesar de todos os pontos positivos, o filme peca em um aspecto: o motim - principal momento do filme que é composto por três atos; a viagem ao Taiti, a estadia e a volta à Inglaterra - demora bastante para ocorrer. A qualquer momento o espectador tem a impressão de que os marujos vão se rebelar. Mas o grande momento só acontece na viagem de retorno à Inglaterra. Assim como é bom para ilustrar a realidade dos marujos, o filme poderia ter alguns minutos a menos se as ações fossem um pouco mais aceleradas. Para aqueles que gostam do gênero capa e espada marítimos, O Grande Motim é um filme necessário.


Ficha Técnica:
O Grande Motim (Mutiny of the Bounty)
Estados Unidos - 1935
Direção: Frank Lloyd
Produção: Irving Thalberg, Frank Lloyd.
Roteiro: Talbot Jennings, Jules Furthman, Carey Wilson
Trilha Sonora: Herbert Stothart
Elenco: Clark Gable, Charles Laughton, Franchot Tone, Dudley Digges, Herbert Mundin, Donald Crisp, Eddie Quillan, Movita, Henry Stephenson, Francis Lister, Spring Byington, Ian Wolfe.
Duração: 132 minutos

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Johnny Vai à Guerra



Perseguido pelo macarthismo, Dalton Trumbo deixou como única obra o filme Johnny Vai à Guerra. Apesar de se passar na Primeira Guerra Mundial, o filme é uma crítica a todas as guerras que aconteceram e que viriam a acontecer. Para narrar a clausura dos soldados, o diretor usa o preto e branco, e para relembrar a vida que eles tinham antes das batalhas, ele usa tons pastéis de colorido.

Johnny, um soldado ferido na Guerra, vai para um hospital e descobre que perdeu braços, pernas, visão e audição. Basicamente, o filme retrata o desespero de uma pessoa que descobre que não pode se ajudar, que depende dos outros para continuar vivo. Vários personagens passam pela vida do soldado, mas ninguém consegue compreender sua dor, para eles, Johnny é apenas mais uma vítima da guerra; ele passa a ser uma pessoa sem passado, sem futuro e sem presente. A única pessoa que se sensibiliza com a situação é uma enfermeira, que passa a ser a voz e os olhos do soldado.

Durante o filme, o que sabemos do desespero de Johnny são suas reflexões; o filme é basicamente todo narrado em off por ele, já que o personagem não pode mais falar. A situação em que ele se encontra é desesperadora. Para mostrar o que pensa, Johnny tenta usar o código morse, já que percebe que os médicos que deveriam tomar conta dele, pensam apenas em como vão se livrar de um "inútil". Nesse momento o diretor debate a eutanásia.

Dalton Trumbo conseguiu passar a aflição de um personagem para os telespectadores, que acabam se sentindo tão impotentes quanto ele. Além do uso das cores, outra escolha sábia do diretor foi optar por não usar cenas de batalhas no filme; o sofrimento do personagem principal é tão forte, que nem sente-se falta das cenas de guerra.

Talvez ao lado de Doutor Fantástico, Johnny Vai à Guerra seja um dos melhores filmes anti-bélicos já feitos. Enquanto um usa o humor para retratar um cenário louco de estratégias, Johnny Vai à Guerra usa o drama e a comoção para fazer com que as pessoas reflitam se batalhas são realmente necessárias e o que acontece com os jovens que precisam enfrentá-las.

O slogan "Johnny Got His Gun", nome original do filme, era o lema do governo para fazer com que os jovens se alistassem. Dalton Trumbo primeiramente escreveu o livro Johnny Vai à Guerra e só então ele foi transformado em filme, que, inicialmente, seria dirigido por Luis Buñuel. Como Trumbo e Buñuel não conseguiram financiamento para a obra, o diretor espanhol abandonou o projeto. Mas Trumbo nunca esqueceu a ideia do filme: ele reescreveu o texto várias vezes e passou muito tempo tentando conseguir alguém para bancar sua obra. A insistência do diretor valeu à pena: é quase impossível manter o mesmo olhar sobre a guerra, depois que assistimos a esse filme.

Johnny Vai à Guerra (Johnny Got His Gun)
Estados Unidos - 1971
Direção: Dalton Trumbo
Roteiro: Dalton Trumbo
Trilha Sonora: Jerry Fielding
Elenco: Timothy Bottoms, Kathy Fields, Marsha Hunt, Jason Robards, Donald Sutherland, Diane Varsi, Milton Barnes, Donald Barry, Craig Bovia, Peter Brocco, Judy Howard Chaikin, Eric Christmas, Kendell Clarke, Maurice Dallimore, Robert Easton
Duração: 111 minutos

sábado, 18 de setembro de 2010

Era Uma Vez na América



Era Uma Vez na América foi o último filme de Sergio Leone. Ironicamente, o diretor que ficou famoso pelos westerns spaghetti, com locações amplas e espaços abertos no deserto, teve como cenário de sua última produção a Nova York na época da Lei Seca. Com quase quatro horas de filme, o roteiro explora a trajetória de vida de dois parceiros de crime: o calado Noodles (Robert De Niro) e o explosivo Max (James Woods). O filme mostra os dois personagens nos vários momentos da vida, de 1921 até 1968. Com temperamentos tão díspares fica claro que os dois terão uma série de desentendimentos ao longo da vida, mas o que importa em Era Uma Vez na América é a construção dessa realidade.

Mesmo fora dos grandes desertos dos westerns, Sergio Leone continua mantendo as principais características de seus filmes: o valor da imagem sobre o poder dos diálogos (não que estes não sejam importantes, mas o diretor consegue transmitir todos os pensamentos dos personagens nos enquadramentos),a grande quantidade de planos-detalhe (close em um objeto isolado) e closes no rosto e olhos dos atores.

Apesar de ter todos os elementos dos filmes de gangster (família, drogas, poder, sexo, relacionamentos fadados ao fracasso etc), Era Uma Vez na América não é, nem de longe um clichê: ele retrata toda a podridão e o desespero de uma sociedade falida e sem escrúpulos. Na verdade, os personagens de Era Uma Vez na América podem ser considerados retratos de tipos da época da Grande Depressão Americana.

E os tipos que Robert De Niro e James Woods retratam estão muito bem representados. De Niro foge do estereótipo de "esquentado" e explosivo que o consagrou em parcerias com Martin Scorsese, em filmes como: Caminhos Perigosos e Touro Indomável. Seu personagem controlado e até racional é tão bom quanto sua versão impaciente.

Era Uma Vez na América é um ótimo filme, de um excelente diretor. Sergio Leone conseguiu encerrar sua grande carreira em alto nível, mostrando todas as suas características e extraindo dos atores excelentes atuações.

Era Uma Vez na América (Once Upon a Time in America)
Itália/Estados Unidos - 1984
Direção: Sergio Leone
Produção: Arnon Milchan
Roteiro: Leonardo Benvenuti, Piero De Bernardi, Enrico Medioli, Franco Arcali, Franco Ferrini, Sergio Leone, Ernesto Gastaldi, baseado no livro The Hoods, de Harry Grey
Fotografia: Tonino Delli Colli
Música: Ennio Morricone
Elenco: Robert De Niro, James Woods, Elizabeth McGovern, Treat Williams, Tuesday Weld, Joe Pesci, Burt Young, Danny Aiello, William Forsythe, James Hayden, Darlanne Fluegel, Larry Rapp, Dutch Miller, Robert Harper, Richard Bright.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Todo Mundo Quase Morto



Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead)
Inglaterra - 2004
Direção: Edgar Wright
Roteiro: Simon Pegg, Edgar Wright
Elenco: Simon Pegg, Kate Ashfield, Nick Frost, Lucy Davis, Dylan Moran, Nicola Cunningham, Peter Serafinowicz.
Duração: 99 minutos


Todo Mundo Quase Morto gerou algumas dúvidas em debates sobre o filme: seria uma comédia de humor negro ou uma sátira aos incontáveis filmes de zumbis já feitos? Ou simplesmente pode-se dizer que é uma sátira aos temas de zumbi com bastante humor negro (que é a principal características das comédias atuais).

Shaun (Simon Pegg) é um típico inglês fracassado, vendedor em uma loja de eletrodomésticos, que divide um apartamento imundo com Ed (Nick Frost) e tem uma namorada que implora por atenção (Kate Ashfield). Quando Shaun percebe que precisa melhorar de vida, descobre que Londres está sendo transformada em uma cidade zumbi.

O filme abusa dos elementos clássicos dos filmes trash de horror, por exemplo, as armas usadas para combater os mortos-vivos, as situações desesperadoras que o herói coloca os demais personagens na tentativa de salvá-los, o uso de estereótipos da sociedade etc. À medida em que Shaun tenta salvar a namorada e a mãe, um grupo de amigos também se junta à procura de proteção.

Todo Mundo Quase Morto é, como a maioria das comédias comerciais atuais, bastante previsível e acelerada: todo instante acontece alguma coisa. Mas no geral, tem algumas cenas engraçadas e bastante características do gênero comédia e zumbi. E ainda fica a dúvida do porquê ter sido escolhido como um dos melhores filmes da década.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Capitão Blood



Capitão Blood (Captain Blood)
Estados Unidos - 1935
Direção: Michael Curtiz
Elenco: Elenco: Errol Flynn, Olivia de Havilland, Lionel Atwill, Basil Rathbone, Ross Alexander, Guy Kibbee, Henry Stephenson, Robert Barrat, Hobart Cavanaugh, Donald Meek, Jessie Ralph, Forrester Harvey, Frank McGlynn Sr., Holmes Herbert, David Torrence.
Duração: 119 min

Na Inglaterra do século 17, o doutor Peter Blood (Errol Flynn) socorre um soldado rebelde ferido e por isso é preso pro traição e condenado à morte. Mas, ao invés disso, embarca para a Jamaica para ser vendido como escravo. Lá, é comprado por Arabella Bishop (Olivia de Havilland) e trabalha na plantação de sua família. Mas quando um ataque de piratas ataca a Jamaica, Blood aproveita a chance para fugir com seus amigos e formar a tripulação "Piratas do Caribe".

Capitão Blood foi o filme que alavancou a carreira de Errol Flynn em Hollywood. E o primeiro de uma série de filmes tipo "capa e espada" de sua carreira. Além de ter uma atuação muito divertida, após esse filme, o ator ainda foi considerado como um dos mais bonitos da época; fator que era sempre bastante explorado em todos os seus filmes.

Este foi o primeiro filme de longas parcerias, como a do diretor Michael Curtiz (Casablanca) e Olivia de Havilland (As Aventuras de Robin Hood) junto com Errol Flynn. Curtiz conseguiu inserir em Capitão Blood todas as características que um filme capa e espada precisam ter: confrontos no mar, uma mocinha apaixonada e em perigo, um herói vibrante e corajoso, muitos equívocos e brilhantes golpes de espadas.

Capitão Blood pode não ser um daqueles filmes inesquecíveis, mas marca a ascensão de um ator muito importante para o período clássico de Hollywood, mostra também a evolução do diretor Michael Curtiz; que tem como ponto alto da carreira o filme Casablanca e traduz exatamente as características do estilo de filme "capa e espada".

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Spartacus



Spartacus (Spartacus)
Estados Unidos - 1960
Direção: Stanley Kubrick

Apesar de não ter sido o primeiro filme de Stanley Kubrick, Spartacus foi a sua primeira grande produção. E grande abrange vários aspectos: a quantidade de figurantes, a longa duração do filme (184 minutos), as memoráveis atuações e o início de várias marcas registradas do diretor, que, obviamente, ainda não estavam completamente consolidadas.

O filme conta a odisséia de Spartacus (Kirk Douglas), um escravo que é comprado por um mercador para entreter multidões como gladiador. O que diferenciava Spartacus dos outros escravos era a vontade inabalável de ser livre e de fazer os outros livres. A partir desse sentimento, ele lidera uma grande fuga em busca da liberdade.

Stanley Kubrick não foi a primeira opção para a direção de Spartacus. Anthony Mann que era o diretor escalado, foi demitido logo no começo das filmagens, dando lugar a Kubrick que tinha apenas 29 anos. Até o término das filmagens o diretor enfrentou alguns problemas com produtores, com Kirk Douglas (que deu um grande apoio ao filme) e até mesmo problemas com o roteiro; talvez por isso o filme não tenha tanto a cara de Kubrick.

Spartacus é considerado até hoje um dos maiores épicos de Hollywood e da história do cinema, tanto pelo renomado elenco (Charles Laughton, Jean Simmons, Tony Curtis, Laurence Olivier etc), como pela trilha sonora, fotografia e, claro, pela direção de Kubrick. Este é um filme que além de explorar movimentos de câmera e vários outros aspectos próprios da linguagem cinematográfica, ainda consegue transmitir ao espectador uma mensagem de liberdade, luta pelos direitos e amor que poucos filmes até hoje foram capazes de fazer.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Amores Brutos



Amores Brutos - Amores Perros
México (2000)
Direção: Alejandro González-Iñárritu

Amores Brutos é um filme de mil sentimentos: quem o assiste intercala momentos de felicidade e realização, com tristezas e frustrações. A diferente narrativa, o grande sentimentalismo (de qualidade) mexicano e as inesquecíveis atuações fazem deste um dos melhores filmes atuais.

Alejando Iñarritu tem no currículo Amores Brutos, 21 Gramas e Babel, todos filmes de ótima qualidade e sempre com algo a acrescentar. Os três filmes possuem a narrativa semelhante: eles fazem parte de um projeto em que o roteiro (de Guillermo Arriaga) intercala três histórias, de pessoas que nunca se viram, mas que no desenvolvimento da trama, parecem ser fundamentais para o rumo que a vida de cada um tomou. Amores Brutos foi o primeiro longa-metragem de Alejandro Iñarritu e já entrou para várias listas como um dos 1000 melhores do mundo.

As três histórias envolvem Ocátivo (Gael Garcia Bernal), dono de um cão de briga; um empresário (Álvaro Guerrero) que se separa da esposa para viver com uma modelo (Goya Toledo) e um mendigo (Emilio Echevarría) que busca ter de volta o amor da filha. Os três núcleos são intercalados, para que se tenha a impressão de que tudo acontece simultaneamente.

Amores Brutos não apresenta fantasia e idealizações, tudo o que acontece na vidas dos personagens é algo que poderia acontecer com qualquer um, o que torna tudo ainda mais fascinante. O filme também foi considerado o primeiro passo para uma verdadeira renovação do cinema mexicano; o último grande reconhecimento do país no aspecto cinematográfico foram os filmes de Luis Buñuel na fase em que esteve por lá, o que corresponde a uns 60 anos.

Amores Brutos é um filme realmente forte e que consegue falar com o espectador de uma maneira muito própria. Este, com certeza, é um dos melhores filmes da geração de novos diretores do mundo. E é impossível esquecer suas cenas, mesmo depois de ter assistido há muito tempo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Capote



Capote (Capote)
Estados Unidos - 2005
Direção: Bennett Miller

Truman Capote foi um dos mais importantes escritores americanos de todos os tempos: começou a escrever aos 17 anos, ganhou vários prêmios importantes de literatura, criou um novo gênero literário e teve várias obras adaptadas para o cinema, entre elas o romance Bonequinha de Luxo. O novo estilo criado por Capote misturava elementos jornalísticos e literários, ficando conhecido como "new journalism".

Mas o filme não tem o objetivo de fazer um apanhado geral sobre a vida do escritor, mas se concentrar em um período de cerca de 10 anos, que é o momento em que ele escreve seu mais famoso e cultuado livro: A Sangue Frio, que relata o assassinato de uma família do interior do Kansas.

O escritor demorou 6 anos apurando os fatos para escrever o livro, que viria a conturbar sua vida pessoal e profissional; após A Sangue Frio, ele nunca mais conseguiu escrever outro livro tão reconhecido. Capote visitou o local do crime, conversou com os vizinhos da família e construiu uma amizade muito forte com Perry Smith, um dos dois assassinos. Existe até especulações sobre um caso de amor entre os dois ao longo dos anos.

A Sangue Frio é um livro cheio de polêmica e o filme consegue retratar isso com bastante eficácia. Fica claro que Capote vê Perry como algo mais que um simples personagem de seu livro, é óbvio o seu envolvimento com a história (Capote não conseguiu manter um distanciamento dos fatos, o que compromete a veracidade de sua obra).

Mas além de explorar todas as polêmicas que cercam o livro, há também a ótima atuação de Phillip Seymour Hoffman, ele realmente consegue imitar todos os jeitos do escritor, inclusive a voz; que chega até ser um pouco irritante. A atuação tão convincente o tornou vencedor do Oscar de 2006 de Melhor Ator.

Não que esse seja um filme inesquecível, mas é interessante assistir a Capote porque ilustra o processo de criação de um livro polêmico e muito aclamado, por fazer um retrato cheio de falhas do personagem principal (e não buscar sua elevação) e pela fotografia intrigante de Adam Kimmel.

sábado, 3 de julho de 2010

A Ceia dos Acusados




A Ceia dos Acusados (The Thin Man)
Estados Unidos - 1934
Direção: : W.S. Van Dyke

Nick Charles (William Powel) é um detetive que está afastado de casos criminais desde que se casou com Nora Charles (Myrna Loy). E assim procurar manter-se até que se vê sem saída para resolver o caso de um magnata que desapareceu. A Ceia dos Acusados deu início a uma série de filmes de "casais detetives", tendo aí talvez o maior motivo para ser considerado uma referência.

A Ceia dos Acusados não foi um filme que permaneceu atual, até porque as tramas que envolvem investigações hoje em dia, em sua maioria, são velozes e contam com muitos recursos tecnológicos. Diferente deste filme da "era de ouro de Hollywood", que aposta na comédia, boas atuações e criatividade para solucionar o desaparecimento.

E por falar em atuações, elas merecem três destaques: William Powel, Myrna Loy e o cão Asta (o cachorro é usado, neste caso, para quebrar alguns momentos de tensão no filme ou apenas como recurso de comédia). Já William Powel é a melhor atuação de A Ceia dos Acusados; sua interpretação de um detetive que procura estar afastado do crime funciona muito bem ao lado de Myrna Loy. Os dois tem um humor muito próprio, com bons diálogos e conversas baseadas, acima de tudo, no sarcasmo. Esta é a principal marca da comédia dos dois. Eles transparecem uma ótima ligação para o espectador e um casamento atípíco: enquanto ele pretende ficar afastado de qualquer problema, a esposa o influencia a todo momento a retormar a vida de detetive, inclusive o ajudando na solução do caso.

Mas o verdadeiro clímax do filme está na cena final, assim como em inúmeras produções que seguiriam este filme, e que explica o porque da escolha deste nome na tradução: Nick, na dúvida de quem é o culpado, resolve juntar todos os suspeitos em um jantar e deixá-los cara a cara com suas mentiras.

A Ceia dos Acusados é uma comédia deliciosa. É o retrato de uma época muito marcante do cinema, um período em que os filmes americano explodiam em referências para diretores no mundo todo. E vale a pena assistir por ter a trama baseada nas histórias de Dashiell Hammett, o mesmo que inspirou o roteiro de "Falcão Maltês", um clássico filme noir. E para se divertir assistindo uma comédia leve, interessante e de qualidade.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Por Uns Dólares A Mais



Por Uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro In Piu)
Itália, Espanha, Alemanha e Mônaco - 1965
Direção: Sergio Leone

Clint Eastwood (Manco) e Lee Van Cleef (Coronel Douglas Mortimer) são dois pistoleiros que estão atrás do mesmo bandido: El Indio (Gian Maria Volonté). Quando percebem isso, procuram se aliar para capturá-lo; apesar de não ser uma aliança tão confiável.

Em Por Uns Dólares a Mais o estilo de filmar de Leone já é bem mais definido do que em Por Um Punhado de Dólares, apesar de ainda não ter alcançado todo seu potencial de direção. Os planos-sequência e os infinitos closes já aparecem bem mais, dando mais qualidade ao filme. Também há melhoria nas atuações, no caso, de Clint Eastwood: parece que com esse filme, ele, finalmente, marca o seu personagem enigmático que viria a se repetir em tantos outros papéis. Leone também revela, aos poucos, os elementos emocionais que mais utiliza em seus filmes: angústia e tensão, mas sempre com uma dose de bom-humor.

Um dos motivos que permitiu que Leone explorasse mais a fotografia e o movimento de câmeras foi um considerável aumento de orçamento que recebeu após popularizar os western spaghetti.

Sergio Leone é um daqueles diretores que dão um grande passo a cada filme que realizam. E mais importante: sabe como usar todo esse aprendizado, criando uma estética e uma atmosfera única. A Tilogia do Homem Sem Nome é um dos maiores exemplos de rápida superação de um cineasta. Por Um Punhado de Dólares e Por Uns Dólares a Mais culminaram em um dos maiores westerns de todos os tempos: Três Homens Em Conflito. Neste filme sim Sergio Leone mostra suas características com plenitude.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Intriga Internacional



Intriga Internacional (North by Northwest)
Estados Unidos - 1959
Direção: Alfred Hitchcock

Cary Grant interpreta Roger Tornhill, um publicitário que é confundido com um agente secreto. Para provar que é inocente, Tornhill passa por diversas situações perigosas, que culminam em uma perseguição no Monte Rushmore (monumento com o rosto dos 4 presidentes dos Estados Unidos, na Dakota do Sul).

Intriga Internacional é um filme típico de Hitchcock: mantém o suspense até os últimos minutos. É considerado uma de suas melhores produções e aparece em algumas listas como um dos maiores filmes de todos os tempos. Todas as atribuições positivas que recebeu são merecidas.

Logo que o filme começa, qualquer um que conheça um pouco do estilo de Hitchcock, sabe que Intriga Internacional tem todas as características do diretor, inclusive os créditos, que conta com mais uma parceria de Saul Bass.

Intriga Internacional também foi inspiração para diversos filmes, inclusive para as sequências de 007, como afirma o cineasta francês François Truffaut (Os Incompreendidos, Fahrenheit 451), para ele, os filmes do espião James Bond jamais seriam os mesmos sem Intriga Internacional.

Além da inspirada direção de Alfred Hitchcock, a atuação do casal Roger Tornhill (Cary Grant) e Eve (Eva Marie Saint) é totalmente sincronizada. Os dois conseguem deixar o espectador confuso sobre o que é realmente verdade ou não em tudo o que dizem. É notável também a fotografia do filme, principalmente nas cenas do Monte Rushmore e na perseguição de Tornhill por um avião do meio de um campo de milho. Esses dois momentos são considerados uns dos mais famosos na história do cinema.

Intriga Internacional é um filme perfeito: o roteiro não deixa a desejar, as atuações são notáveis, a fotografia é muito expressiva e a direção tem todos os elementos característicos de Alfred Hitchcock. Este filme é mais uma confirmação de que ele realmente merece todas as menções feitas a seu nome.

terça-feira, 1 de junho de 2010

O Jardineiro Fiel



O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener)
Estados Unidos - 2005
Direção: Fernando Meirelles

Antes de ser um filme extremamente interessante, O Jardineiro Fiel situa o espectador em um dos problemas mais polêmicos da África: o lobby da indústria farmacêutica, a exploração da população como "cobaias" para experiências científicas e o alto custo desses remédios, entre eles o coquetel usado contra o vírus da AIDS. Fernando Meirelles conseguiu fazer um filme polêmico, atual e muito dinâmico.

O diplomata Britânico Justin Quayle (Ralph Fiennes) é enviado à África junto com sua esposa Tessa (Rachel Weisz). Ela acaba se tornando uma ativista em prol da população africana e ele precisa continuar trabalhando para o governo, mesmo sabendo de toda podridão que está por trás dessa aliança entre os países. Porém, Justin só consegue acreditar no que a esposa havia descoberto, quando ela é assassinada por ordens do governo local. Nesse momento Justin resolve retomar as atividades da esposa, enfrentando diversos desafios.

Ralph Fiennes e Rachel Weisz estão perfeitos como marido e mulher: ele, representando toda a seriedade de um diplomata, e ela, vivendo todos os seus sonhos e ideais para ajudar a causa que acredita. A relação dos dois vai amadurecendo a cada ano que passam juntos; até mesmo com a morte da esposa, ele continua descobrindo cada dia que passa um lado diferente da personalidade de Tessa.

O Jardineiro Fiel é baseado no livro do autor inglês John Carré e Fernando Meirelles conseguiu fazer um filme de temática essencialmente política, mas sem ficar preso à subjetividades. O problema da indústria farmacêutica é claro. Não há uma tentativa de indicar um país culpado, o que interessa no filme é expor o fato do jeito que ele realmente é, sem se prender em mocinhos e bandidos.

Também é possível retomar várias questões de cunho social com o tema de O Jardineiro Fiel, por exemplo, qual é o valor de uma vida para as grandes empresas da indústria farmacêutica? até onde é possível chegar para alcançar um objetivo? até onde a população pode se informar sem sofrer represálias pelo governo? que tipo de governo temos? entre outros temas. Este é o tipo de filme que deixa o espectador pensando em muitas coisas, até mesmo dias depois de tê-lo assistido.

O Jardineiro Fiel pode ser considerado um Thriller da melhor qualidade. A direção de Fernando Meirelles é impecável: ele dá movimento quando precisa ou diminui o ritmo quando o espectador precisa de mais atenção. Tudo é extremamente bem equilibrado. Então, esse filme é mais uma prova do grande trabalho que o diretor brasileiro vem fazia ao longo de vários anos; além de O Jardineiro Fiel, obteve destaque também na direção de Cidade de Deus (2002) e Ensaio Sobre a Cegueira (2008).

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Cinema Paradiso



Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso)
Itália - 1988
Direção: Giuseppe Tornatore

As lembranças da infância de Salvatore di Vita (Jacques Perrin) vem à tona quando ele recebe um telefone de sua mãe dizendo que Alfredo (Philippe Noiret) está morto. Quando criança, Salvatore era conhecido como Totó (Salvatore Cascio) e tinha como melhor amigo o projecionista do cinema Paradiso, o então falecido Alfredo.

Giuseppe Tornatore escolheu contar o filme através de flashbacks (cenas do passado, alternada com cenas do presente), o que parece ter sido, sem dúvida, a melhor maneira de contar a trajetória de vida de Totó e o que o cinema representava em sua vida quando criança. Para quem é apaixonado por filmes, Cinema Paradiso é um prato cheio para emocionar e ter uma ideia do que significava assistir filmes e se encontrar em uma sala de projeção décadas atrás.

Cinema Paradiso é ambientado logo após a Segunda Guerra Mundial, portanto, antes da chegada da televisão. Por não ter outra forma de conhecer outras culturas e saber o que acontecia no mundo através de imagens, o povo daquela pequena cidade italiana fazia do encontro no Cinema Paradiso um evento social. Lá as pessoas se reuniam para namorar, encontrar prostitutas, juntar a família, dormir, ver as estrelas dos filmes e mostrar que possuiam status. É curioso ver a separação por nível social do cinema: os ricos ficavam em lugares acima dos pobres, sem precisar se misturar com a maioria da população.

Apesar de Cinema Paradiso retratar a vida de Salvatore, parece que Tornatore faz a sua declaração de amor ao cinema, fazendo referência aos filmes que mais marcaram sua vida. Fica transparente que Totó é a personificação do amor do diretor pelo mundo do cinema. E qualquer pessoa que se identifique com todo esse sentimento vai se emocionar enormemente com os rumos que esse roteiro tomou.

Este é um daqueles filmes inesquecíveis por três aspectos principais: a delicadeza de Tonatore de tratar o cinema e a amizade sem precedentes de Totó e Alfredo; mais do que amigos, eles desenvolvem uma verdadeira relação de pai e filho e a belíssima atuação desses dois atores: Salvatore Cascio e Philippe Noiret. Totó é a criança que todo mundo gostaria de ter por perto e Alfredo aquele amigo que, assim como Totó, faríamos de tudo para preservar ao lado.

Com certeza Cinema Paradiso é um filme OBRIGATÓRIO e INESQUECÍVEL na vida de qualquer pessoa; sendo apaixonada por cinema ou não.

terça-feira, 25 de maio de 2010

De Volta Para o Futuro



De Volta Para o Futuro (Beck To The Future)
Estados Unidos - 1985, 1989 e 1990
Direção: Robert Zemeckis

Marty McFly (Michael J. Fox) é um adolescente americano típico: tem uma família complicada, um garoto fortão que o persegue e um namoro feliz. O que o difere dos demais jovens de sua idade é a grande amizade como o cientista Dr. Brown (Christopher Lloyd), que construiu uma máquina do tempo em um carro, o DeLorean. Devido a essa grande amizade, McFly é enviado ao futuro e precisa tomar todo cuidado para não alterar nada no passado.

De Volta Para o Futuro é um filme dinâmico e divertido. O roteiro de Robert Zemeckis (que também é o diretor) e Bob Gale trata o jovem como uma pessoa normal e inteligente; apesar de o cientista ser Dr. Brown, sem McFly a maioria das soluções dos problemas da máquina do tempo não seriam possíveis. Lloyd e Fox formam uma das duplas mais interessantes e marcantes da história do cinema.

Robert Zemeckis fez um filme para adolescentes, que passou a ser cultuado por pessoas de todas as idades e de várias décadas seguintes; até hoje não assistir "De Volta Para o Futuro" é visto como uma "falha" pela geração de adolescentes atuais. Ao contrário da maioria dos filmes de ficção científica, não é preciso ter conhecimento físico nenhum para entender a trilogia de De Volta Para o Futuro, só é preciso embarcar nas ideias malucas de Dr. Brown e prestar atenção em alguns detalhes.

É curioso, e até mesmo inquietante, a forma do roteiro de conduzir a trama: quando o espectador acha que finalmente McFly vai voltar para casa, sempre aparece Dr. Brown para acrescentar algum detalhe no que parecia estar resolvido. Ao mesmo tempo que desejamos a volta de McFly, também desejamos que Dr. Brown consiga sobreviver às loucuras em que se envolve.

De um modo geral, a trilogia segue uma sequência interessante, não há uma grande disparidade de qualidade entre os três filmes (principalmente a abordagem maluca de o último filme acontecer em moldes de faroeste). Porém, apesar de o final ser meio inesperado, pelo menos até os dois primeiros filmes, o desfecho ficou regado de sentimentalismos; o que pode ser explicado pelo público alvo do filme ser composto por adolescentes.

É muito interessante ver um diretor conduzir uma trilogia sem perder a qualidade e a atmosfera criada na primeira sequência. Mas a fato de não deixar o espectador entediado parece ser uma característica de Zemeckis, que também dirigiu outros filmes importantes, como "Forest Gump". De Volta Para o Futuro é ótimo para assistir milhões de vezes e sempre se surpreender com algum detalhe ou com as excelentes confusões de Dr. Brown e Marty McFly.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Evangelho Segundo São Mateus





O Evangelho Segundo São Mateus (Il Vangelo Secondo Matteo)
Itália - 1964
Direção: Pier Paolo Pasolini

Na hora de escolher a abordagem que iria usar em O Evangelho Segundo São Mateus, Pasolini tinha duas opções: fazer uma leitura pessoal sobre a vida de Jesus Cristo ou procurar algum fato extraordinário sobre sua vida, mas que nunca tivesse sido aproveitado pelo cinema. Então, o diretor optou por seguir fielmente as escrituras bíblicas do Evangelho de São Mateus, o que entre as duas opções, o encaixa na primeira alternativa.

O Evangelho não apresenta nenhuma grande novidade sobre a vida de Jesus Cristo; o que torna o filme realmente diferente é o modo como Pasolini cria Jesus Cristo: ele consegue aproximar o maior ícone de todos os tempos da plateia, permite que Cristo seja um homem, não um santo (como é abordado em dezenas de filmes), mostrando-o, várias vezes, em momentos de impaciência.

Além da humanização de Jesus, Pasolini também dirigiu seu filme como se estivesse escrevendo uma poesia, para isso ele abusa da subjetividade como elemento essencial para diferenciar sua obra. Não é preciso que os personagens façam longos discursos para o espectador entender quais são as emoções sentidas. Para conseguir "falar sem falar" ele usa incontáveis closes nos atores (o que poderia ser uma estratégia perigosa, pois a maioria dos atores não eram profissionais). Outro recurso utilizado na poesia de Pasolini é a trilha sonora; em alguns momentos é possível perceber uma trilha viva, marcante. Já em outras situações o silêncio é o principal recurso para agregar fidelidade ao filme.

O Evangelho Segundo São Mateus é a produção de um diretor homossexual, contestador, marxista e ateu. Ou seja, tinha tudo para ser uma leitura extremamente pessoal e crítica do catolicismo. Mas, Pasolini preferiu usar o Evangelho como base para filmar uma verdadeira poesia.