sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Falcão Maltês

Ao investigar a morte de seu sócio, Sam Spade (Humphrey Bogart) é procurado por uma mulher misteriosa que afirma estar sendo ameaçada pelo assassino que Spade está perseguindo. Mas quando a maioria das pessoas envolvidas no crime aparecem mortas, o detetive começa a descobrir que por trás de todos os crimes, aparece a figura de um objeto de valor incalculável.

"O Falcão Maltês", filme também conhecido como "Relíquia Macabra", é considerado a primeira produção Noir do cinema americano.

Os filmes Noir ficaram famosos nas décadas de 1940 e são reconhecidos pela estética e pelas características psicológicas dos personagens. Os filmes eram feitos em preto e branco, com relevantes contrastes e sombras - a principal influência dos filmes noir era o expressionismo alemão. No gênero, os personagens não são apresentados como mocinhos e vilões; as características dos dois se fundem de tal maneira que o espectador nunca sabe quem pode chamar de herói. O universo que cerca essas pessoas também é impuro. Eles vivem em uma sociedade corrupta, onde subir na vida e ganhar dinheiro é o único objetivo a ser alcançado, não importando os meios pelos quais a pessoa deve passar. Outro fator marcante do filme noir é a figura da femme fatale: as mulheres perderam o ar de inocentes donas de casa e vão pra rua atormentar homens sozinhos e inseguros. Todos esses elementos característicos da estética noir estão presentes em "O Falcão Maltês".

"O Falcão Maltês" tem o ritmo bastante acelerado. Talvez por ser baseado na obra do escritor Dashiell Hammet, o diretor John Huston teve que colocar a maior quantidade de detalhes possíveis - em um curto espaço de tempo - para que o espectador entedesse a complexidade do filme. Ou talvez simplesmente por ser a estreia de John Huston na direção, o cineasta ainda não tinha a experiência necessária para selecionar aquilo que era realmente importante e o que poderia ser deixado de lado ou contado de uma outra maneira. O fato é que "O Falcão Maltês" é um despejo de informações ao espectador a todo momento. Mal a plateia consegue digerir uma situação e já vem outra para mudar tudo. Apesar de dar ritmo ao filme, esse excesso não permite que quem esteja assistindo ao filme, formule hipóteses e tenha opiniões a respeito da estória.

O lado curioso de "O Falcão Maltês" são as sequências carregadas de humor que John Huston conseguiu criar. Seja pelos estereótipos dos personagens ou pela própria situação em que eles estão inseridos em determinados momentos do filme, é muito interessante ver como o diretor conseguiu inserir comédia em momentos de pura tensão. Esse lado cômico é personificado na figura de Peter Lorre no filme.

Outro ator que tem destaque no filme é Humphrey Bogart. Interpretar Sam Spade não era a tarefa mais difícil do mundo por ator, já que o personagem não diferia muito de outros que ele já havia interpretado. Mas mesmo assim, Humphrey Bogart está muito bem em "O Falcão Maltês". Principalmente ao lado de Mary Astor que interpreta a primeira femme fatale dos filmes noir.

"O Falcão Maltês" é um excelente filme pra quem se interessa pelo gênero policial e pela estética noir. É uma boa oportunidade de se divertir e para ver um dos melhores filmes da história do cinema.

Ficha Técnica:

O Falcão Maltês (The Maltese Falcon)
Estados Unidos - 1941
Direção: John Huston
Produção: Hal B. Walis
Roteiro: John Huston, baseado no romance de Dashiell Hammet
Fotografia: Arthur Edeson
Trilha Sonora: Adolph Deutsch
Elenco: Humphrey Bogart, Mary Astor, Gladys George, Peter Lorre, Barton MacLane, Sydney Greenstreet, Ward Bond, Jerome Cowan, James Burke, Walter Huston, Charles Drake, William Hopper, Hank Mann, Lee Patrick, John Hamilton, Elisha Cok Jr, Creighton Hale, Murray Alper, Robert Homans
Duração: 101 minutos

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Música e Fantasia


27 anos após o revolucionário filme da Disney "Fantasia", de 1940, o diretor Bruno Bozzetto resolveu criar a versão italiana do clássico: Música e Fantasia. Ele utiliza a mesma fórmula que fez a produção americana ser reconhecida mundialmente: Bazzetto cria animações de vários clássicos da música, como Ravel, Stravinski e Vivaldi e intercala com rápidas atuações de atores. Todos os momentos musicais são carregados de críticas à sociedade.

Bruno Bozzetto critica a busca incansável pela beleza; a tentativa de estar sempre no meio da sociedade e ser igual a todos; e satiriza também a criação do homem e da mulher, de acordo com o capítulo Gênesis, da Bíblia.

Duas animações merecem destaque em "Música e Fantasia": a da evolução humana a partir de uma garrafa de Coca-Cola - ao som de Bolero, de Ravel - e a triste vida de um gato que morava em uma casa que foi bombardeada em alguma guerra - com a trilha de Valsa Triste, de Sibelius, ao fundo.

A comparação entre "Fantasia" e "Música e Fantasia" é inevitável, já que o modelo dos dois filmes é semelhante. A diferença é que a produção americana explora a mais alta qualidade da animação, levando ao espectador um filme grandioso para a época e até para os dias atuais. Já a produção italiana, não explora tanto a qualidade dos desenhos - a diferença entre os dois é óbvia - mas abusa da provocação, de fazer o senso crítico dos espectadores trabalhar e, o mais importante, de abrir os olhos do mundo e mostrar que animações não são feitas somente para crianças; elas podem ser tão críticas quanto qualquer outro filme.

"Música e Fantasia" tem um problema que quebra o ritmo do filme. As intervenções dos atores, na cena em que uma orquestra de velhinhas é regida por um maestro maluco, ficaram muito datadas. Bruno Bazzetto, que interpreta o próprio maestro, usou o típico humor pastelão da época e acabou perdendo o ritmo das intervenções. Fora isso, "Música e Fantasia" é um ótimo filme, com ótimas críticas e uma boa oportunidade de conhecer animações que fogem das grandiosas produções americanas.


Ficha Técnica:

Música e Fantasia (Allegro Non Troppo)
Itália - 1976
Direção: Bruno Bozzetto
Produção: Bruno Bozzetto
Roteiro: Bruno Bozzetto, Maurizio Nichetti e Guido Manuli
Fotografia: Luciano Marzetti e Mario Masini
Trilha Sonora: Stravinski, Ravel, Vivaldi, Dvorak, Debussy
Elenco: Marialuisa Giovannini, Néstor Garay, Maurizio Nichetti, Mirella Falco, Osvaldo Salvi, Jolanda Cappi, Franca Mantelli
Duração: 85 minutos

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Última Noite de Boris Grushenko




Talvez "A Última Noite de Boris Grushenko" seja um dos filmes mais originais de Woody Allen. No caso, a originalidade não está nos assuntos abordados - até porque, mais uma vez, ele bate na tecla da morte, das convenções sociais e do intelecto do ser humano - mas na maneira como o diretor escolheu para retratar suas inquietações.

"A Última Noite de Boris Grushenko" é um filme que não se faz sozinho. Para apreciar a produção de verdade, Woody Allen exige da plateia interaja com o filme por meio de uma vasta bagagem cultural. É necessário, principalmente, entender o contexto social da época e ter conhecimento dos clássicos da literatura russa: Os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo, Guerra e Paz, O Idiota, entre outros.

Boris (Woody Allen) passou a vida inteira filosofando sobre a morte. Ele tem uma família que obedece totalmente aos estereótipos vendidos da Rússia da época: grossos, sem senso crítico e apesar da vasta terra, vivem enclausurados em um pequeno mundo. Mas o principal ponto dessa relação em família e em sociedade é que Boris não se sente parte do universo em que vive. Ele é apaixonado por Sonja (Diane Keaton), que é apaixonada pelo irmão dele, que é apaixonado por outra mulher. E, pra variar, os participantes desse triângulo amoroso só querem uma coisa: subir na vida, não importando de que maneira isso seja alcançado; com exceção de Boris, é claro.

O contexto histórico do filme, é a conquista da Europa por Napoleão. E a trama começa a se desenrolar no momento em que Boris é convocado para o exército, para proteger a pátria. Apesar de se declarar um pacifista, ele não tem escolha e acaba parando no front da batalha.

O ponto alto de "A Última Noite de Boris Grushenko" é a crítica à sociedade, feita por meio da literatura russa. As sátiras aos clássicos, fazem com que o filme continue interessante, mesmo depois de assistido várias vezes. É como se a cada exibição, o espectador notasse um detalhe que passou intacto. Mas além das críticas, Woody Allen investe, essencialmente, naquilo que o fez ser o grande diretor que é: a comédia. Os diálogos são incríveis, cheios que duplo sentido e de provocações à plateia. Não dá pra assistir "A Última Noite de Boris Grushenko" só uma vez. Para entender o verdadeiro sentido do filme, é preciso se dedicar e buscar compreender que nada está ali por acaso; desde a estética das personagens até à crítica mais disfarçada. Vale a pena assistir o filme também para identificar as referências que Woody Allen faz aos seus grandes mestres do cinema: os diretores Ingmar Bergman e Sergei Eisenstein.


Ficha Técnica:

A Última Noite de Boris Grushenko (Love and Death)
Estados Unidos - 1975
Direção: Woody Allen
Produção: Jack Rollings e Charles H. Joffe
Roteiro: Woody Allen
Fotografia: Ghislain Cloquet
Trilha Sonora: Sergei Prokofiev
Elenco: Woody Allen, Diane Keaton, Georges Adet, Frank Adu, Edward Ardisson, Féodor Atkine, Albert Augier, Yves Barsacq, Lloyd Battista, Jack Berard, Eva Betrand, George Birt, Yves Brainville, Gérard Buhr, Brian Coburn, Henri Coutet, Patricia Crown, Henry Czarniak, Despo Diamantidou, Sandor Elès, Luce Fabiole, Florian, Jacqueline Fogt, Sol Frieder, Olga Georges-Picot, Harold Gould, Harry Hankin, Jessica Harper, Tony Jay, Tutte Lemkow, Jack Lenoir.
Duração: 82 minutos