quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Johnny Vai à Guerra



Perseguido pelo macarthismo, Dalton Trumbo deixou como única obra o filme Johnny Vai à Guerra. Apesar de se passar na Primeira Guerra Mundial, o filme é uma crítica a todas as guerras que aconteceram e que viriam a acontecer. Para narrar a clausura dos soldados, o diretor usa o preto e branco, e para relembrar a vida que eles tinham antes das batalhas, ele usa tons pastéis de colorido.

Johnny, um soldado ferido na Guerra, vai para um hospital e descobre que perdeu braços, pernas, visão e audição. Basicamente, o filme retrata o desespero de uma pessoa que descobre que não pode se ajudar, que depende dos outros para continuar vivo. Vários personagens passam pela vida do soldado, mas ninguém consegue compreender sua dor, para eles, Johnny é apenas mais uma vítima da guerra; ele passa a ser uma pessoa sem passado, sem futuro e sem presente. A única pessoa que se sensibiliza com a situação é uma enfermeira, que passa a ser a voz e os olhos do soldado.

Durante o filme, o que sabemos do desespero de Johnny são suas reflexões; o filme é basicamente todo narrado em off por ele, já que o personagem não pode mais falar. A situação em que ele se encontra é desesperadora. Para mostrar o que pensa, Johnny tenta usar o código morse, já que percebe que os médicos que deveriam tomar conta dele, pensam apenas em como vão se livrar de um "inútil". Nesse momento o diretor debate a eutanásia.

Dalton Trumbo conseguiu passar a aflição de um personagem para os telespectadores, que acabam se sentindo tão impotentes quanto ele. Além do uso das cores, outra escolha sábia do diretor foi optar por não usar cenas de batalhas no filme; o sofrimento do personagem principal é tão forte, que nem sente-se falta das cenas de guerra.

Talvez ao lado de Doutor Fantástico, Johnny Vai à Guerra seja um dos melhores filmes anti-bélicos já feitos. Enquanto um usa o humor para retratar um cenário louco de estratégias, Johnny Vai à Guerra usa o drama e a comoção para fazer com que as pessoas reflitam se batalhas são realmente necessárias e o que acontece com os jovens que precisam enfrentá-las.

O slogan "Johnny Got His Gun", nome original do filme, era o lema do governo para fazer com que os jovens se alistassem. Dalton Trumbo primeiramente escreveu o livro Johnny Vai à Guerra e só então ele foi transformado em filme, que, inicialmente, seria dirigido por Luis Buñuel. Como Trumbo e Buñuel não conseguiram financiamento para a obra, o diretor espanhol abandonou o projeto. Mas Trumbo nunca esqueceu a ideia do filme: ele reescreveu o texto várias vezes e passou muito tempo tentando conseguir alguém para bancar sua obra. A insistência do diretor valeu à pena: é quase impossível manter o mesmo olhar sobre a guerra, depois que assistimos a esse filme.

Johnny Vai à Guerra (Johnny Got His Gun)
Estados Unidos - 1971
Direção: Dalton Trumbo
Roteiro: Dalton Trumbo
Trilha Sonora: Jerry Fielding
Elenco: Timothy Bottoms, Kathy Fields, Marsha Hunt, Jason Robards, Donald Sutherland, Diane Varsi, Milton Barnes, Donald Barry, Craig Bovia, Peter Brocco, Judy Howard Chaikin, Eric Christmas, Kendell Clarke, Maurice Dallimore, Robert Easton
Duração: 111 minutos

sábado, 18 de setembro de 2010

Era Uma Vez na América



Era Uma Vez na América foi o último filme de Sergio Leone. Ironicamente, o diretor que ficou famoso pelos westerns spaghetti, com locações amplas e espaços abertos no deserto, teve como cenário de sua última produção a Nova York na época da Lei Seca. Com quase quatro horas de filme, o roteiro explora a trajetória de vida de dois parceiros de crime: o calado Noodles (Robert De Niro) e o explosivo Max (James Woods). O filme mostra os dois personagens nos vários momentos da vida, de 1921 até 1968. Com temperamentos tão díspares fica claro que os dois terão uma série de desentendimentos ao longo da vida, mas o que importa em Era Uma Vez na América é a construção dessa realidade.

Mesmo fora dos grandes desertos dos westerns, Sergio Leone continua mantendo as principais características de seus filmes: o valor da imagem sobre o poder dos diálogos (não que estes não sejam importantes, mas o diretor consegue transmitir todos os pensamentos dos personagens nos enquadramentos),a grande quantidade de planos-detalhe (close em um objeto isolado) e closes no rosto e olhos dos atores.

Apesar de ter todos os elementos dos filmes de gangster (família, drogas, poder, sexo, relacionamentos fadados ao fracasso etc), Era Uma Vez na América não é, nem de longe um clichê: ele retrata toda a podridão e o desespero de uma sociedade falida e sem escrúpulos. Na verdade, os personagens de Era Uma Vez na América podem ser considerados retratos de tipos da época da Grande Depressão Americana.

E os tipos que Robert De Niro e James Woods retratam estão muito bem representados. De Niro foge do estereótipo de "esquentado" e explosivo que o consagrou em parcerias com Martin Scorsese, em filmes como: Caminhos Perigosos e Touro Indomável. Seu personagem controlado e até racional é tão bom quanto sua versão impaciente.

Era Uma Vez na América é um ótimo filme, de um excelente diretor. Sergio Leone conseguiu encerrar sua grande carreira em alto nível, mostrando todas as suas características e extraindo dos atores excelentes atuações.

Era Uma Vez na América (Once Upon a Time in America)
Itália/Estados Unidos - 1984
Direção: Sergio Leone
Produção: Arnon Milchan
Roteiro: Leonardo Benvenuti, Piero De Bernardi, Enrico Medioli, Franco Arcali, Franco Ferrini, Sergio Leone, Ernesto Gastaldi, baseado no livro The Hoods, de Harry Grey
Fotografia: Tonino Delli Colli
Música: Ennio Morricone
Elenco: Robert De Niro, James Woods, Elizabeth McGovern, Treat Williams, Tuesday Weld, Joe Pesci, Burt Young, Danny Aiello, William Forsythe, James Hayden, Darlanne Fluegel, Larry Rapp, Dutch Miller, Robert Harper, Richard Bright.