terça-feira, 28 de dezembro de 2010

39 Degraus



Ao longo de 50 anos de carreira, Alfred Hitchcock dirigiu 53 longas metragens, sendo a maioria deles sucesso de público e de crítica. Conseguir uma carreira consistente e duradoura como Hitchcock conseguiu é uma tarefa extremamente difícil, principalmente porque suas produções foram elogiadas na época e atualmente.

Apesar de frequentemente ser avaliado positivamente, as opiniões sobre as produções do "Mestre do Suspense" sempre foram dividas entre aqueles que acreditavam que Hitchcock era um gênio do cinema e entre aqueles que o consideravam um diretor comercial. Opiniões à parte o diretor sempre teve em mente a função de contribuir para o cinema como entretenimento.

E para envolver a platéia, Hitchcock fazia dela uma grande cúmplice de seus filmes. Também conseguiu modelar o espectador para fazer com que ele percebesse certas sutilezas durante os filmes - o Mestre do Suspense acreditava que essa a principal função do diretor que trabalha com esse gênero.

Mas assim como vários cineastas, a relação de Hitchcock com o cinema começou quando ele era jovem. Ele foi ilustrador, fez letreiros de filmes mudos nos anos 20, diretor de arte, produtor e muitas outras funções. Hitchcock conseguiu juntar todo o aprendizado do período "pré-direção" e o transformou em O Inquilino (1926) - filme que chamou pela primeira vez a atenção do público e da crítica. Mas foi com 39 Degraus (1935) que ele conseguiu ser reconhecido e visto como um diretor com grande potencial.

Em 39 Degraus Richard Hannay (Robert Donnat) conhece uma mulher misteriosa que lhe conta um segredo de Estado envolvendo um homem que está sendo perseguido por envolvimento em uma trama de espionagem. Mas quando ela é assassinada, Hannay passa a ser o principal suspeito do crime. O roteiro não é nada original, tendo em vista que o próprio Hitchcock filmaria Intriga Internacional, que tem a trama parecida.

Além do problema do fraco roteiro, 39 Degraus também se perde nas prioridades da trama. O grande segredo sobre os "39 Degraus" é toda hora posto de lado pelo diretor, que prefere tratar de todos os outros temas que permeiam o filme à encaminhar a revelação do segredo. A produção não é muito envolvente, possui diálogos fracos e abusa negativamente do humor. Vale levar em consideração que 39 Degraus é um dos primeiros filmes de Hitchcock, logo, o diretor não estava em sua melhor forma; ele ainda estava aperfeiçoando sua linguagem e técnica cinematográfica.

Não adianta compara 39 Degraus com as obras primas de Hitchcock, como Psicose, Intriga Internacional e Um Corpo que Cai: quando fez esses filmes já tinha em mente tudo o que agrada o espectador e uma forte personalidade como diretor. Mas vale assistir o filme pelo seu significado na história do cinema: 39 Degraus foi a porta de entrada para o Mestre do Suspense e para o diretor de várias obras primas do cinema.


Ficha Técnica:

39 Degraus (39 Steps)
Reino Unidos - 1935
Direção: Alfred Hitchcock
Produção: Michael Balcon e Ivor Montagu
Roteiro: Charles Bennett, baseado em romance de John Buchan
Fotografia: Bernard Knowles
Trilha Sonora: Hubert Bath, Jack Beaver, Charles Williams
Elenco: Robert Donat, Madeleine Carrol, Lucie Mannheim, Godfrey Tearle, Peggy Ashcorft, John Laurie, Helen Haye
Duração: 86 minutos

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo



Parece que Príncipe da Pérsia foi a maneira encontrada pela Disney para repetir o grande sucesso que a franquia Piratas do Caribe alcançou. Apesar da tentativa, ainda é preciso aprimorar muito os próximos filmes de Príncipe da Pérsia para atingir a mesma aceitação do público.

Apesar de não ter conquistado a platéia de primeira, o filme segue a mesma fórmula desenvolvida pelos filmes de ação da Disney, em parceria com o produtor Jerry Bruckheimer: muita ação, efeitos especiais de alta qualidade e estórias exóticas, que mexem com a imaginação do público. A verdade é que Príncipe da Pérsia sofre das mesmas frustrações que as várias adaptações de jogos de video game para o cinema: nos jogos é possível interagir com as personagens, já no cinema a platéia apenas observa o desenrolar dos fatos. Então, para agradar o público é necessário um roteiro consistente e envolvente. O problema é que em Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo tudo acontece como uma simples sequência de acontecimentos, parece que nada tem finalidade e que o Príncipe Dastan (Jake Gyllenhaal) faz tudo por mera sorte. Ou seja, apesar do tom didático com que o filme é narrado, de alguma maneira, as coisas continuam confusas para o espectador que não conhecia a trama através dos jogos de video game.

No filme, o Príncipe Dastan (Jake Gyllenhall) se junta a princesa Tamina (Gemma Arterton), para proteger uma adaga antiga que tem o poder de inverter o tempo e permitir ao seu possessor o domínio do mundo. Excluindo toda a previsibilidade da estória, Príncipe da Pérsia ainda demora a engrenar, mas depois disso, até se torna um bom entretenimento. Com certeza não é o pior filme realizado pela Disney em parceria com Jerry Bruckheimer, e as outras sequências podem acabar melhorando e dando um outro rumo à nova franquia.

Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo consegue divertir e não é um filme cansativo - apesar de demorar para engrenar. Apesar da diversão, como diriam os degustadores de cerveja, o grau de drinkability do filme é baixo, ou seja, a vontade de assistir o que vem por aí não é satisfatória.


Ficha Técnica:

Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo (Prince of Persia: The Sands of Time)
Estados Unidos - 2010
Direção: Mike Newell
Produção: Jerry Bruckheimer, Chad Oman, Eric Mcleod, Mike Stenson
Roteiro: Jordan Mechner, Boaz Yakin, Doug Miro, Carlo Bernard
Fotografia: John Seale
Trilha Sonora: Harry Gregson-Williams
Elenco: Jake Gyllenhaal, Gemma Arterton, Ben Kingsley, Alfred Molina, Ronald Pickup, Steve Toussaint, Richard Coyle, Toby Kebbell, Reece Ritchie, Gísli Örn Garöarsson, William Foster
Duração: 116 minutos

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Olympia: Ídolos do estádio e Vencedores Olímpicos



Olympia é um dos filmes mais admirados e polêmicos de toda a história do cinema. Admirado porque foi uma revolução na maneira de filmar, a diretora Leni Riefenstahl provou que era possível transformar o corpo humano em pintura e poesia. E polêmico porque, a partir dele, surgiu uma questão a respeito do uso dos filmes: Olympia foi encomendado por Adolf Hitler para propagar o nazismo e a supremacia da "raça ariana". Artistas, diretores, estudiosos e todos aqueles envolvidos com o cinema levantaram a questão da viabilidade da arte como propaganda, a venda do artista e a verdadeira função do cinema como meio de comunicação de massa. Afinal, o que Leni Riefenstahl fez foi ético ou não? A verdade é que a diretora ficou marcada até o final da carreira pela direção de Olympia e O Triunfo da Vontade. Além de todos esses motivos, Olympia também se tornou uma obra clássica por ter, pela primeira vez, levado o esporte ao cinema.

Para mostrar a superioridade dos alemães, a estética do filme lembra estátuas e monumentos gregos. Leni Riefenstahl conseguiu obter esse feito graças aos planos e as montagens utilizadas; os dois recursos também foram uma tentativa de acabar com a estética expressionista, que utilizava temas mórbidos, personagens e cenários distorcidos - tudo o que Hitler lutava contra. Mas foi exatamente com o expressionismo que os alemães se consolidaram como grandes produtores de cinema. Desde a década de 20, cineastas como Murnau e Fritz Lang retratavam lendas da Alemanha, sentimentos pós-guerra e várias outras temáticas que representavam a sociedade da época.

Olympia deve ser visto não como entretenimento, mas para entender um filme que foi marcante para a época, esteticamente e como temática. O filme se torna um pouco cansativo, já que o tempo todo a diretora mostra, apenas, as provas das Olimpíadas de 1936. Mas vale assistir porque é realmente um filme lindo visualmente.


Ficha Técnica:

Olympia - Parte 1: Ídolos do Estádio (Olympia 1. Teil - Fest Der Völker)
Olympia - Parte 2: Vencedores Olímpicos (Olympia 2. Teil - Fest Der Schönheit)
Alemanha - 1938
Direção: Leni Riefenstahl
Produção: Leni Riefenstahl
Roteiro: Leni Riefenstahl
Fotografia: Wilfried Basse, Werner Bundhausen, Leo De Lafrue, Walter Frentz, Hans Karl Gottschalk, Willy Hameister, Walter Hege, Carl Junghans, Albert Kling, Ernst Kunstmann, Guzzi Lanstchner, Otto Lantschner, Kurt Neubert, Erich Nitzschmann, Hans Scheib, Hugo O. Schulze, Károly Vass, Willy Zielke, Andor von Barsy, Franz von Friedl, Heinz von Jaworsky, Hugo von Kaweczynski, Alexander von Lagorio
Trilha Sonora: Herbert Windt, Walter Gronostay
Elenco: David Albritton, Jack Beresford, Henri de Baillet-Latour, Philip Edwards, Donald Finlay, Wilhelm Frick, Josef Goebbels, Hermann Göring, Ernest Harper, Rudolf Hess, Adolf Hitler, Cornelius Johnson, Theodor Lewald, Luz Long, John Lovelock, Ralph Metcalfe, Seung-yong Nam, Henri Nannen, Dorothy Odam, Martinius Osendarp, Jesse Owens, Leni Riefenstahl, Julius Schaub, Fritz Schilgen, Jee-chung Sohn, Julius Streicher, Forrest Towns, Werner von Blomber, August von Mackensen, Gleen Morris, Conrad von Wagenheim
Duração: 118 e 107 minutos

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Sangue Negro




Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) e seu filho HW (Dillon Freasier) sobrevivem da incansável busca por ouro e prata. Até que eles descobrem, em uma pequena cidade no Oeste dos Estados Unidos, que o petróleo é farto e ainda não explorado. Daniel Plainview precisa convencer os moradores da cidade a vender as terras para ele e para o filho. Lá eles encontram o pastor Eli Sunday (Paul Dano), uma espécie de porta-voz dos habitantes e que vai ter um importante papel na busca interminável pelo petróleo.

A ideia central de Sangue Negro é, basicamente, a ambição. O filme é um estudo e um questionamento sobre até onde o homem é capaz de ir para alcançar glória, fortuna e reconhecimento. E o diretor Paul Thomas Anderson trata dessa questão utilizando mais imagens que diálogos; lembrando muitas vezes o estilo de Sergio Leone de filmar: as longas tomadas, a preferência pela imagem e a necessidade de fazer com que o espectador entenda os sentimentos de solidão e a aridez do deserto onde a trama se desenrola.

A Sangue Negro foi considerado por muitos críticos como o filme do ano e como revolucionário, chegando a ser comparado à importância que Cidadão Kane (Orson Welles) teve para seu tempo. Apesar de não concordar muito, Sangue Negro pode ser sim considerado um novo clássico, mas não tão inovador quanto algumas pessoas o classificam. Se for para estabelecer comparações A Sangue Negro se encaixa muito mais no estilo de Era Uma Vez no Oeste (Sergio Leone), de Assim Caminha a Humanidade (George Stevens) e de O Tesouro de Sierra Madre (John Huston).

Alguns aspectos mais elogiados do filme são a fotografia e a trilha sonora; sendo que a fotografia foi responsável por um dos dois Oscar que Sangue Negro foi indicado. Robert Elswit conseguiu ótimos enquadramentos e captou toda a imensidão do deserto e a solidão das duas personagens principais. Mas se a fotografia foi elogiada, a trilha sonora composta por Jonny Greenwood, guitarrista da banda de Oxford, Radiohead. As músicas de Sangue Negro receberam o prêmio de contribuição artística do Festival de Berlim.

Saindo dos aspectos técnicos do filme, o ator Daniel Day-Lewis é, sem dúvida, o melhor de Sangue Negro. Sua personagem já pode ser considerada como um clássico do cinema: tanto pela complexidade como pela atuação em si. Daniel Plainview é carente e desacreditado. Ele precisou criar uma armadura para enfrentar o mundo devido a dureza da vida que leva e das várias decepções sofridas. E toda a maneira que ele possui de ver a vida é transmitida ao filho - até um certo momento.

Difícil de conviver, Plainview é muito competitivo. Precisa de alguém para disputar inteligência e poder. Esse é um dos motivos para o futuro empresário não acreditar em Deus: ninguém pode ser mais poderoso e controlador que ele.

Sangue Negro é um filme de qualidade, em todos os sentidos, mas a fotografia, a trilha sonora e a atuação de Daniel Day-Lewis são os grandes destaques. Apesar de toda qualidade, Sangue Negro não consegue prender a atenção do espectador pelas 2 horas e meia de duração. O filme intercala momentos de altos e baixos, o que permite divagações do espectador. Por todos os acertos, o filme recebeu oito indicações ao Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor ator, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor montagem e melhor direção de arte. E ganhou nas categorias de melhor fotografia, melhor ator.

Sangue Negro (There Will Be Blood)
Estados Unidos - 2007
Direção: Paul Thomas Anderson
Produção: Daniel Lupi, Joanne Sellar e Paul Thomas Anderson
Fotografia: Robert Elswit
Roteiro: Paul Thomas Anderson (baseado no livro de Upton Sinclair
Trilha Sonora: Jonny Greenwood
Elenco: Daniel Day-Lewis, Paul Dano, Ciarán Hinds, Dillon Freasier, Kevin J. O'Connor.
Duração: 158 minutos

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Uma Noite na Ópera



As décadas de 1920 e 1930 são consideradas a época de ouro da comédia cinematográfica. Artistas como Charles Chaplin, Buster Keaton, Harold Lloyd e os próprios Irmãos Marx são considerados os criadores do gênero que prevalecia nesse período; e também são responsáveis pelo modo de fazer comédia que seguiu adiante por muito tempo. Todos esses atores possuíam características semelhantes: piadas, pensamentos rápidos, inteligentes, trejeitos...

E em Uma Noite na Ópera não é diferente. Assim como em Diabo a Quatro - um dos filmes mais famosos dos irmãos Marx - as personagens mais estereotipadas se fazem presentes: a mulher rica, o vilão e, claro, os palhaços. Neste filme os irmãos invadem o mundo da ópera para proteger um casal de conhecidos que foi separado na seleção para participar de um musical. Os irmãos Marx precisam tirar o tenor principal do espetáculo, para que o casal volte a se encontrar; já que ela foi selecionada para o elenco e ele não.

Uma Noite na Ópera deixa a desejar quanto comédia em si. Mas é possível perceber várias sequências que influenciaram comediantes bastante atuais. Woody Allen, por exemplo, sempre se declarou um fã incondicional de Groucho Marx. Mas nesse filme os irmãos exageraram na dose: algumas piadas são repetitivas e eles insistem em algumas gags ao longo do filme inteiro. Porém, por mais que Uma Noite na Ópera não seja um filme brilhante, nem o melhor dos irmãos Marx, existe uma cena no filme hilária e inesquecível, que é o momento em que eles estão dentro de um cômodo do navio e, de repente, a sala de enche de pessoas (a cena que está na foto do post). Esse momento do filme deveria ser repetido pelos comediantes atuais por ser tão engraçada e bem organizada.

Uma Noite na Ópera (A Night at the Opera)
Estados Unidos - 1935
Direção: Edmund Goulding e Sam Wood
Produção: Irving Thalberg
Fotografia: Merritt B. Gerstald
Roteiro: George S. Kauffman e Morrie Ryskind
Trilha Sonora original: Herbert Stothart
Elenco: Groucho Marx, Chico Marx, Harpo Marx, Kitty Carlisle, Allan Jones, Walter Woolf King, Sig Ruman, Margaret Dumont, Edward Keane, Robert Emmett O'Connor
Duração: 96 minutos

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Robbin Hood




Para refilmar um clássico do cinema, que já foi retratado em dezenas, ou centenas, de filmes, é necessário fazer algo grandioso. É preciso revolucionar algum aspecto da obra original. Caso contrário, será apenas mais uma refilmagem de um clássico. A ideia de Robin Hood foi boa: o filme mostra o herói antes de se tornar uma lenda. Ele revela quais caminhos Robin Hood seguiu para se transformar em uma das estórias mais contadas, e filmadas, de todos os tempos.

A trama se passa na véspera da morte do rei inglês Ricardo Coração de Leão (Danny Huston), a quem Robin (Russel Crowe) era fiel. Com a morte do rei, Robin e um grupo de amigos abandonam o exército inglês, que já estava debilitado devido as longas Cruzadas empreendidas pelo rei Ricardo. A partir daí Robin passa por diversas aventuras até encontrar Lady Marion (Cate Blanchett) e Sir Walter Loxley (Max Von Sidow).

Talvez por abordar o começo da lenda de Robin Hood, o público não tenha se identificado tanto com o filme. Pode ser que tenham esperado o tempo todo por uma visão moderna e cheia de tecnologia daquele que "rouba os ricos para dar aos pobres". Mas é importante ressaltar que, pelo menos nesse sentido, o herói de Riddley Scott é inovador. Até então poucos ou nenhum filme tinham abordado a lenda dessa forma. Mas se o filme agrada pela abordagem, ele deixa a desejar em alguns aspectos.

Não é o bastante mostrar uma nova maneira de ver uma lenda, é necessário usar milhões de outros recursos para destacar um filme que já foi tão repetido. E parece que nesse Robin Hood o único aspecto que chegou perto de uma inovação foi a fotografia. John Mathieson consegue criar uma atmosfera muito interessante no filme. Ele deixa de lado a felicidade e a paz de "As Aventuras de Robin Hood" - com Errol Flynn, dirigido por Michael Curtiz - e carrega o cenário e a imagem de elementos sujos e obscuros. Robin e seus companheiros estão sempre sujos, suados e com aparência sofrida; o que corresponde exatamente ao clima da Inglaterra no período das cruzadas.

Apesar de ser um filme mediano, o Robin Hood de Riddley Scott deve ser o que mais se aproxima da realidade do país na época, da sociedade, e da "verdadeira" estória do herói. O retrato de Robin Hood é desconstruído: ele deixa de ser aquele ser bom e extremamente honesto e adquire características mais humanas. O herói rouba, mata quando precisa e não é feliz o tempo todo. É interessante ver a versão porque ela mostra um herói mais humanizado, que não foi mostrado pelos filmes que o antecederam.

Robin Hood (Robin Hood)
Estados Unidos/Reino Unido - 2010
Direção: Riddley Scott
Produção: Brian Grazer
Fotografia: John Mathieson
Roteiro: Brian Helgeland, Ethan Reiff, Cyrus Voris
Trilha Sonora: Marc Streitenfeld
Elenco: Russel Crowe, Cate Blanchett, Mark Strong, Matthew Macfayden, Danny Huston, Kevin Durand, William Hurt, Max von Sydow, Scott Grimes, Eileen Atkins, Léa Seydoux, Bronson Webb, Oscar Isaac, Robert Pugh, Alan Doyle
Duração: 148 minutos

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Gritos e Sussurros



Talvez Gritos e Sussurros tenha sido o ápice artístico de Ingmar Bergman. O uso das cores, da música, do silêncio, o próprio roteiro... Tudo no filme se encaixa perfeitamente, principalmente quando combinado com a fotografia de Sven Nykvist - que fez parte da equipe técnica do diretor em vários filmes. Gritos e Sussurros pode ser também, um dos filmes que mais falam com o interior do espectador, principalmente o feminino. Os filmes de Ingmar Bergman sempre são carregados de existencialismo: as dúvidas sobre a vida e a morte, os sentimentos mais simples e os mais sombrios do ser humano, a velhice e tantos outros motivos que permitem horas de reflexão. E em Gritos e Sussurros ele permite ao espectador todas essas indagações.

O filme narra um certo período na vida de quatro mulheres: as irmãs Karin e Maria (Ingrid Thulin e Liv Ullmann, respectivamente), vão visitar a outra irmã Agnes (Harriet Andersson), que está a beira da morte e recebendo os cuidados da criada Anna (Kari Sylwan). Todas as mulheres possuem características bastante específicas, com medos, vontades e desejos secretos. E é a partir dessa diferença, que pode também ser entendida como semelhança, que Bergman narra os dias em que todas estiveram juntas. Ele mostra a vida interior de cada uma, por meio dos remorsos, memórias, fantasias e outros sentimentos.

É curioso ver como o diretor conseguiu explorar aspectos familiares que muitas vezes ficam escondidos em meio às convenções sociais. Essas quatro mulheres passam por momentos curtos de libertação, seguidos de repressão. Parece que, pela primeira vez na vida, elas conseguem demonstrar sentimentos, até então, proibidos. Em vários momentos, por exemplo, a relação das irmãs salta da pureza, para um sentimento de desejo e retorna para a frieza. Bergman realmente revira o mundo feminino e familiar.

Além das atuações e da mescla de sentimentos, o diretor usa de forma brilhante e a cor e o silêncio para criar uma atmosfera agonizante, fria e, por vezes, desesperadora. Bergman disse uma vez que havia imaginado a alma humana como os tons de vermelho utilizados em Gritos e Sussurros. Assim como nas paredes da casa, como na mobília, um vermelho muito quente transmite sensações de agonia ao espectador. O que é confirmado pela cromoterapia: de acordo com a terapia alternativa, o vermelho pode ter efeito vitalizante, excitante e estimulante. Mas quando é utilizado em excesso, como em Gritos e Sussurros, pode causar irritação e aumento da tensão nervosa.

Bergman também soube administrar o silêncio. Junto com a cor das paredes, o silêncio é fundamental para criar essa atmosfera de agonia e angustia. Logo no começo do filme, o som de relógios parece significar cada segundo a menos de vida de Agnes. O espectador também tem a impressão de que é possível escutar cada passo e respiração das irmãs na casa. Momentos em que qualquer diretor colocaria uma trilha sonora imponente, Bergman prefere usar a importância do silêncio para que seja possível entender o que acontece com aquela família.

Gritos e Sussuros é um filme obrigatório em todos os aspectos. A partir desse filme é possível analisar o cinema sob uma outra perspectiva, entender que menos é mais e perceber como posicionamento de câmera, iluminação e pequenos detalhes são fundamentais. É claro que é preciso ter paciência para acompanhar a evolução do filme e prestar atenção em cada movimento das personagens. Mas Gritos e Sussurros merece ser assistido milhares de vezes. Pois em cada uma dessas vezes, ângulos e aspectos diferentes das personagens serão percebidos.

Gritos e Sussurros (Viskningar och rop)
Suécia - 1972
Direção: Ingmar Bergman
Produção: Lars-Owe Carlberg
Fotografia: Sven Nikvyst
Roteiro: Ingmar Bergman
Trilha Sonora não original: Johann Sebastian Bach, Frédéric Chopin
Elenco: Harriet Anderson, Kari Sylwan, Ingrid Thulin, Anders Ek, Liv Ullmann, Erland Josepshson, Henning Moritzen, Inga Gil, George Arlin
Duração: 106 minutos

domingo, 5 de dezembro de 2010

Zulu



O filme narra a história, baseada em fatos reais, de 100 soldados britânicos, que combateram 4000 guerreiros Zulus em 1879. Os Zulus são uma das mais poderosas tribos da África. Eles são retratados no filme com todo esse poder e com a inteligência de quem conhece a região em que vive. Os guerreiros conseguem cercar o pequeno forte britânico e fazer com que as armas de fogo dos soldados pareçam impotentes diante de todo conhecimento territorial e de guerra que eles possuem.

Desprezando os aspectos técnicos, Zulu não é um dos épicos mais brilhantes do cinema. O enredo do filme não é dos mais complexos, logo as mais de duas horas de duração não eram necessárias; o filme é cansativo e se alonga demais em cenas que poderiam ser bem mais curtas.

Porém, não há o que reclamar das cenas de batalha e dos aspectos técnicos de Zulu. A fotografia, as interpretações e as cenas de batalha são impecáveis. O filme foi fotografado em Technirama, o que trouxe cores e detalhes esteticamente impecáveis à produção. E é um bom momento de ver a ótima atuação de Michael Caine como Gonville Bromhead. Já as cenas de enfrentamento entre guerreiros e soldados são muito bem retratadas. Muitos figurantes foram contratados para representar a tribo e Cy Endfield conseguiu extrair de todos esses atores uma real tensão do que estava acontecendo no momento. Mas não é possível desprezar aquela antiga visão das tribos africanas: apesar de Zulu deixar claro a noção de guerra que os guerreiros possuíam, ele não deixa de lado a visão do "selvagem" africano. Enquanto eles apenas defendiam suas terras, os ingleses eram as vítimas que estavam sendo atacadas "sem motivo".

Zulu (The Battle of Rorke's Drift)
Grã-Bretanha - 1964
Direção: Cy Endfield
Produção: Stanley Baker, Cy Endfield
Fotografia: Stephen Dade
Roteiro: Cy Endfield, baseado em artigo de John Prebble
Trilha Sonora: John Barry
Elenco: Stanley Baker, Michael Caine, Jack Hawkins, Ulla Jacobson, James Booth, Nigel Green
Duração: 138 minutos