sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Guerra e Paz



Baseado em uma das maiores obras de literatura da Rússia e escrita por um dos mais importantes autores da história das letras, está Guerra e Paz. Leon Tolstoi retratou a Rússia do século XIX. Natasha (Audrey Hepburn) pertence à aristocracia da família Rostov. Pierre Bexukhov (Henry Fonda) é um pacifista amigo da família e um discreto amor de Natasha. Durante uma caçada de raposas, Natasha conhece Andrei (Mel Ferrer), um príncipe por quem Natasha vai se apaixonar. O livro trata desse triângulo amoroso, usando o cenário político e econômico da Rússia ou faz um retrato político e econômico da história da Rúusia utilizando o triângulo amoroso? Tanto o amor, quando as questões sociais do país são exploradas pelo autor e, por consequência, pelo diretor King Vidor.

Guerra e Paz se passa na época da invasão Napoleônica à Rússia e retrata diversas batalhas como a de Austerlitz e Borodino. Esse período histórico é mostrado narrando as condições de vida e política da população russa. O cenário de Guerra e Paz é riquíssimo. E o diretor do filme, King Vidor, soube aproveitar toda essa opulência.

A mega produção de King Vidor foi a segunda maior até então realizada pelo estúdio do filme, a Paramount. Guerra e Paz só ficou atrás de Os Dez Mandamentos de Cecil B. DeMille. O diretor muda de cenas de salões de baile até reconstruções das grandes batalhas. Vidor tem como um dos principais aliados a bela fotografia colorida de Jack Cardiff, que criou composições maravilhosas de movimento e cor. Até porque para entreter o espectador, além de um excelente roteiro e uma brilhante direção, o diretor precisa usar de outros artifícios para prender a atenção da plateia. E King Vidor faz isso muito bem. Além da opulência das imagens, o figurino e as atuações são os outros destaques do filme.

A interpretação de Audrey Hepburn está fantástica como a jovem Natasha. Até porque a atriz estava com quase 30 anos quando filmou Guerra e Paz e ela consegue transmitir uma pureza e jovialidade impressionante. Henry Fonda também está muito marcante como o conformado Pierre. Ele consegue reunir toda a tristeza e esperança que alguém pode ter, em alguns momentos chegamos até a sentir pena de todas as tentativas que ele faz para ser um pouco mais feliz. E o Andrei de Mel Ferrer também está muito bom! Ele é, definitivamente, o galã do filme. O conquistador que representa tudo que uma jovem russa, da época, poderia desejar: corajoso, bonito e valente.

Guerra e Paz é um dos melhores épicos que já assisti e um dos filmes mais envolventes já produzidos. É impressionante a opulência do filmes, os quesitos técnicos, as atuações, tudo é conduzido de uma maneira brilhante. Além de ter um contexto histórico muito rico e que permite vários caminhos de exploração. Guerra e Paz é um daqueles filmes obrigatórios e inesquecíveis.


Ficha Técnica:

Guerra e Paz (War and Peace)
Itália e Estados Unidos - 1956
Direção: King Vidor
Produção: Carlo Ponti e Mario Camerini
Roteiro: King Vidor, Robert Westerby, Ivo Perilli, Mario Camerini, Ennio De Concini. Baseado no livro homônimo de Leon Tolstoi
Trilha Sonora: Nino Rota
Elenco: Henry Fonda, Audrey Hepburn, Mel Ferrer, Vittorio Gassman, John Mills, Herbert Lom, Anita Ekberg, Barry Jones, Jeremy Brett, Oscar Homolka, Helmut Dantine
Duração: 208 minutos

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Lula e a Baleia




A Lula e a Baleia é um filme americano, porém com ares franceses. Assim como as produções atuais mais aclamadas, a trama fala de cotidiano, de conflitos, de relacionamentos que não seriam tão bem explorados há 20 anos atrás. Nesse caso, o filme fala sobre dois adolescentes que estão tendo que lidar com a separação dos pais. Bernard Berkman (Jeff Daniels) é um escritor de sucesso, que está vendo a esposa Joan (Laura Linney) atingir fama nessa mesma área. Os dois continuam com as frequentes brigas, mesmo tendo consciência de que o casamento já estava comprometido. Para um dos filhos do casal, a mudança é positiva, mas para o outro é uma complicada transição.

O filme trata de dois temas de uma maneira muito interessante. A primeira, e principal, é a separação: enquanto um dos filhos enxerga o processo de uma maneira natural (como se tivesse consciência do que estava acontecendo) o outro precisa de tempo e precisa entender mais a vida para saber que aquela decisão já estava tomada. No quesito separação também é curioso o fato de que um filho é mais apegado à mãe, enquanto o outro é mais apegado ao pai. Até aí, nada de diferente da realidade de milhões de pessoas. Outro fator explorado em A Lula e a Baleia é a questão da masculinidade. É muito difícil para o marido, enxergar que a esposa está trilhando um caminho de sucesso, na mesma área em que ele atuava.

A Lula e a Baleia é um daqueles filmes que a gente tem a impressão que foi feito com todo cuidado (apesar de ter sido filmado em 23 dias): desde a escolha dos atores, até a trilha sonora. Jeff Daniels e Laura Linney estão ótimos como o casal Berkman. Ele está o típico marido insuportável e machista e ela consegue construir uma personagem em constante evolução. A escolha das músicas também é ótima: praticamente todas as músicas são folks e trouxe de volta grandes cantores do estilo: Bert Jansch e Loudor Wainright III. Além do folk, Pink Floyd também faz parte da trilha sonora.

A Lula e a Baleia é leve e discute temas atuais de uma maneira bem interessante; tudo é baseado no cotidiano, nada que é mostrado no filme não poderia acontecer com qualquer um, em qualquer lugar do mundo. Mas, por ser tão leve, não é um daqueles filmes inesquecíveis. Serve para assistir, refletir e depois já pensar em outra coisa.

Ficha Técnica:

A Lula e a Baleia (The Squid and the Whale)
Estados Unidos - 2005
Direção: Noah Baumbach
Produção: Wes Anderson
Roteiro: Noah Baumbach
Trilha Sonora: Britta Phillips e Dean Wareham
Elenco: Owen Kline, Jeff Daniels, Laura Linney, Jesse Eisenberg, William Baldwin, David Benger, Anna Paquin, Halley Feiffer
Duração: 81 minutos

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quando Explode a Vingança




- You taught me one thing! (Juan)
- What?! (Sean)
- How to get fucked! (Juan)

Quando Explode a Vingança - Giù La Testa/Duck You Sucker
Itália - 1971
Direção: Sergio Leone
Produção: Fulvio Morsella
Roteiro: Luciano Vincenzoni, Sergio Leone e Sergio Donati
Trilha Sonora: Ennio Morricone
Elenco: James Coburn, Rod Steiger, Maria Monti, Rik Bataglia, Franco Grazosi
Duração: 158 minutos

Juan Miranda (Rod Steiger) é um camponês com aspirações de Robin Hood - roubar dos ricos, para dar aos pobres. Sean Mallory (James Coburn) é um revolucionário irlandês viciado em danamites (!). Inicialmente os dois desenvolvem uma relação muito difícil, mas depois se unem e se envolvem em um plano para libertar prisioneiros políticos, na defesa de seus compatriotas (os dois vivem no México) perante a milícia de um sádico oficial.

Quando Explode a Vingança é o filme mais desconhecido de Sergio Leone e um dos menos bem recebidos pelo público. Apesar dos pontos negativos, não se pode dizer que o filme não apresenta as características marcantes do diretor: longos planos-sequências, paisagens extensas e calorentas, grande quantidade de closes etc. Mas um novo traço de Sergio Leone apareceu em Quando Explode a Vingança: o senso de humor. O camponês Juan Miranda é hilário. Ele aprende a lidar com as dificuldades da vida de uma maneira bem otimista; que até chega a lembrar a visão brasileira do que é viver. Não que essa característica nunca tivesse aparecido nas obras de Leone, mas, nesse filme, ela é bastante explorada.

Outro ponto técnico positivo é a trilha sonora de Ennio Morricone. Se Leone falhou em Quando Explode a Vingança, a trilha sonora não deixou nada a desejar. Mais uma vez fica evidente a grandeza de Ennio Morricone; as músicas do filme são aquelas bem grudentas (de uma meneira positiva) e, portanto, marcante. Como Quando Explode a Vingança é o filme menos conhecido de Leone, a trilha sonora seguiu o mesmo caminho. Mas é excelente.

Quando Explode a Vingança é tedioso! Por Um Punhado de Dólares (primeiro filme de Leone) é muito mais divertido que este que foi um de seus últimos. As duas horas e meia do filme passam arrastando, salvo por alguns momentos em que as atuações de James Coburn e Rod Steiger conseguem divertir bastante. A respeito da parte técnica, não há o que reclamar. Mas tudo é muito longo, a trama não consegue prender o espectador (apesar da ideia ser muito boa). O filme foi tão mal recebido pelo público, que Sergio Leone entrou em depressão e adiou por 10 anos a direção de Era Uma Vez na América. Mas toda essa tristeza é até compreensível: um diretor que errou "poucas vezes" na carreira deve sempre exigir o melhor de si. E Quando Explode a Vingança está longe da lista dos melhores de Sergio Leone.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Frenesi



A trama de Frenesi é simples: um estrangulador de mulheres está solto em Londres. A polícia começa a investigar o caso e, pra variar, o principal suspeito do assassinato é assim considerado por estar no lugar errado, na hora errada. Richard (John Finch) precisa lutar para provar a inocência e acaba se envolvendo mais do que deveria no caso. O roteiro não é nada original. É até estranho imaginar que um diretor que já fez Um Corpo Que Cai e Psicose possa ter se dedicado a uma trama nada inovadora.

O que é mais curioso no filme, é que Frenesi foi a penúltima produção de Hitchcock e o filme que marcou a volta do diretor à Inglaterra. Porém, ao contrário do que poderia ser esperado, Frenesi não une as melhores características do diretor, apesar de apresentar muitas delas. Hitchcock continua utilizando os grandes planos-sequência, assim como em Festim Diabólico e usa e abusa das reviravoltas - o que nos dá alguma esperança de que o roteiro vai melhorar. Não há também aqueles personagens tão fortes, complexos e marcantes como Norman Bates de Psicose.

Frenesi não é o pior filme do mestre do suspense, mas também não está perto dos melhores. Os pontos positivos de Frenesi é a maneira quase única com que Hitchcock faz que o espectador se sinta participante da trama; algumas vezes ele deixa de mostrar algumas cenas, para que a platéia tenha a impressão de estar vendo tudo ao vivo. Ele sabe dosar o que vai mostrar na tela.

Frenesi é o tipo de filme que poderia ter alguns minutos a menos que tudo ficaria bem. Não faria falta no entendimento da história. Até porque os momentos mais gloriosos são os de assassinato, fora isso, resta ao espectador esperar mais momentos de suspense.

Talvez para alguém que esteja assistindo pela primeira vez um filme de Hitchcock, Frenesi não pareça assim tão inferior. Mas depois de ver Um Corpo Que Cai, Intriga Internacional, Festim Diabólico etc. Frenesi adquire o tom de mais um filme policial.

Ficha Técnica:

Frenesi (Frenzy)
Inglaterra - 1972
Direção: Alfred Hitchcock
Produção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Anthony Shaffer
Trilha Sonora: Ron Goodwin
Elenco: John Finch, Alec McCowen, Barry Foster, Billie Withelaw, Ann Massey, Barbara Leigh-Hunt, Bernanrd Cribbins, Vivien Merchant, Michael Bates, Jean Marsh, Clive Swift, John Boxer, Madge Ryan, Elsie Randolph
Duração: 116 minutos

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Os Dez Mandamentos



Os Dez Mandamentos é baseado na história Bíblica de Moisés, O Príncipe do Egito. O Faraó Ramses I manda matar todas as crianças do Egito, quando fica sabendo que uma delas seria a libertadora dos escravos. No entanto, Yochabel (mãe de Moisés) consegue salver seu filho, abandonando-o dentro de uma cesta no Rio Nilo. O bebê é encontrado por Bithiah, filha do faraó, e Moisés acaba sendo criado como um príncipe. Já adulto, Moisés descobre sua verdadeira origem e dedica-se a libertar os escravos do Egito.

Os Dez Mandamentos talvez tenha sido a maior aventura de Cecil B. DeMille - o que não significa que seja seu melhor filme. Mas a visão que o diretor tem de Moisés é curiosa. Diferente do que é encontrado nos filmes bíblicos, o Moisés de Os Dez Mandamentos (Charlton Heston) é um super galã. O começo do envolvimento dele com Nefertiti, personagem de Anne Bexter, é extremamente sensual; o Príncipe do Egito quase não consegue resistir aos seus encantos. Moisés aparece como um homem comum, que possui sonhos, fraquezas e, sobretudo, desejos. E é uma das primeiras vezes que uma orgia é retratada em um filme bíblico - respeitando o assunto e a época, é claro.

Tudo em Os Dez Mandamentos é grandioso. Os figurinos são extremamente detalhados, os cenários são imensos e os figurantes são milhares, além dos efeitos especiais que foram inovadores para a época (principalmente na cena em que Moisés abre o mar ao meio). E as atuações, com todos os olhos voltados para Charlton Heston e não por acaso: Moisés foi uma das melhores atuações da carreira do ator.

Cecil B. DeMille já havia filmado Os Dez Mandamentos em 1923, mas em 1956 ele refilmou a obra usando os recursos do Technicolor. Com a refilmagem o diretor estabeleceu um parâmetro por meio do qual a qualidade das futuras produções bíblicas e épicas seriam medidas.

Os Dez Mandamentos é um retrato de DeMille do mundo nos anos 50, em meio à Guerra Fria. Quando o diretor vai apresentar o filme, fazer uma sinopse é menos importante que enfatizar e implantar a dúvida se "o homem deve ser governado pelas leis de Deus ou pelos caprichos de um ditador como Ramsés". Nesse momento ele, claramente, tem a intenção de comparar o Faraó com o chinês Mao Tse-Tung.

DeMille faz com que as quase 4 horas de filme não passem arrastando; o que é muito mais um mérito seu do que da própria história de Moisés. O diretor usa elementos que na época nunca haviam sido utilizados e até hoje, 50 anos depois, a exuberância de Os Dez Mandamentos ainda não foi completamente superada.



Ficha Técnica:
Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments)
Estados Unidos - 1956
Direção: Cecil B. DeMille
Produção: Cecil B. DeMille
Roteiro: Eneas McKenzie, Jesse Lasky Jr., Jack Gariss e Fredric M. Frank, baseado nos livros de J.H. Ingraham, A.E. Southom e Dorothy Clarke Wilson
Trilha Sonora: Elmer Bernstein
Elenco: Charlton Heston, Yul Bryner, Anne Bexter, Edward G. Robinson, Yvone De Carlo, Debra Paget, John Derek, Sir Cedric Hardwicke, Nina Foch, Martha Scott, Judilh Anderson, Vincent Price, John Carradine
Duração: 222 minutos

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O Grande Motim



O Grande Motim foi o vencedor do Oscar de 1935 e o único filme da história em que os três atores principais foram indicados ao Oscar nessa categoria; apesar de nenhum deles ter levado a estatueta. O Grande Motim é um dos melhores filmes de aventura marítima já feitos e uma aula de técnica para os filmes recentes; a maior parte da trama se desenrola no mar, e isso nos anos 30.

Charles Laughton é o Capitão William Bligh, o grande vilão do filme e um dos melhores personagens malvados da história. Ele é, praticamente, o responsável pelos maus tratos à tripulação do navio que comanda. Enquanto a tripulação buscava mudas de fruta-pão no Taiti, o Capitão tratava todos com severidade e conseguia o que queria sendo corrupto. William Bligh não perdoava nem os mortos. Para sair da situação de desespero em que se encontravam, a tripulação arma um enorme motim para destituir o Capitão do cargo. A revolução marítima é liderada por Fletcher Christian, interpretado por Clark Gable. Gable reúne todas as características de um herói: tem carisma, boa vontade e um enorme senso de justiça.

Além dos personagens principais muito marcantes, outro aspecto interessante do filme são os personagens coadjuvantes - eles conferem ao filme, em vários momentos, tons de comédia - existe um marujo bêbado, o desespero dos tripulantes quando encontram mulheres e um grande romance. A trilha sonora também não deixa a desejar: Herbert Stothart compôs o típico estilo de músicas de filmes de marujos: aquele tom marcante e imponente.

O Grande Motim reúne grandes atuações e é um belo representante da época de ouro dos filmes de Hollywood. Apesar de todos os pontos positivos, o filme peca em um aspecto: o motim - principal momento do filme que é composto por três atos; a viagem ao Taiti, a estadia e a volta à Inglaterra - demora bastante para ocorrer. A qualquer momento o espectador tem a impressão de que os marujos vão se rebelar. Mas o grande momento só acontece na viagem de retorno à Inglaterra. Assim como é bom para ilustrar a realidade dos marujos, o filme poderia ter alguns minutos a menos se as ações fossem um pouco mais aceleradas. Para aqueles que gostam do gênero capa e espada marítimos, O Grande Motim é um filme necessário.


Ficha Técnica:
O Grande Motim (Mutiny of the Bounty)
Estados Unidos - 1935
Direção: Frank Lloyd
Produção: Irving Thalberg, Frank Lloyd.
Roteiro: Talbot Jennings, Jules Furthman, Carey Wilson
Trilha Sonora: Herbert Stothart
Elenco: Clark Gable, Charles Laughton, Franchot Tone, Dudley Digges, Herbert Mundin, Donald Crisp, Eddie Quillan, Movita, Henry Stephenson, Francis Lister, Spring Byington, Ian Wolfe.
Duração: 132 minutos