quinta-feira, 21 de julho de 2011

As Confissões de Schmidt

A maioria das pessoas encara a aposentadoria como uma libertação para se dedicar aquilo que realmente goste. Mas existem aquelas que encaram o momento em que param de trabalhar de uma forma angustiante: é como se elas não tivessem mais lugar no mundo. Este é o caso de Warren Schmidt (Jack Nicholson).

A aposentadoria de Schmidt vem acompanhada da morte da esposa. Com os dois acontecimentos, a vida de Warren fica deslocada de um sentido. Ele precisa buscar algum motivo para viver e para não deixar a vidar cair na monotonia. Então, Schmidt resolve partir em seu trailer rumo ao Nebraska para ajudar nos preparativos do casamento da filha, com um homem que ele não aprova. Mas todos os passos que Warren dá, rumo a uma nova vida, parecem estar errados. Tudo sai da maneira totalmente contrária como ele planejou. Já desacreditado em um futuro melhor, Schmidt se corresponde por meio de cartas com um garoto da Tanzânia - que ele ajuda com doações de 73 centavos por dia - e passa a expor toda a sua vida ao menino desconhecido.

Já é possível perceber o foco de "As Confissões de Schmidt" desde os primeiros minutos do filme: a busca de um homem pelo sentido da vida. Para incrementar essa busca, o diretor Alexander Payne não usa nenhum artifício inovador, nem tramas mirabolantes. O que realmente conta nesse filme é a simplicidade. Os personagens são interessantes, mas não são fantásticos - no sentido de serem apenas uma ideia do homem. O que acontece com Warren pode acontecer com qualquer pessoa que busca um algo a mais na vida. Um motivo que talvez tenha sido responsável por esse apoio na simplicidade, é a questão do orçamento. Comparado com os filmes atuais, "As Confissões de Schmidt" teve o "singelo" custo de pouco mais de 30 milhões de dólares.

Apesar de tentar explorar a comédia, o filme não consegue passar uma mensagem de felicidade. "As Confissões de Schmidt" tem um ar meio que desesperado e deslocado de um universo comum. Com todas essas características, parece não haver ator melhor para interpretar Warren que Jack Nicholson. Ele consegue fazer com que o espectador reflita em todos os momentos do filme, inclusive quando a produção acaba e resta aquela dúvida de "será que tenho aproveitado a vida?".

"As Confissões de Schmidt" é um dos melhores road movies feitos recentemente e vale ser lembrado como um dos filmes mais marcantes da década. Alexander Payne consegue reunir e revelar todas as dúvidas da sociedade moderna em uma produção que deixa o espectador pensando no que tem feito até hoje.


Ficha Técnica:

As Confissões de Schmidt (About Schmidt)
Estados Unidos - 2002
Direção: Alexander Payne
Produção: Michael Besman e Harry Gittes
Roteiro: Alexander Payne e Jim Taylor
Fotografia: James Glennon
Trilha Sonora: Rolfe Kent
Elenco: Jack Nicholson, Kathy Bates, Hope Davis, Dermont Mulroney, June Squibb, Howard Hesseman, Harry Groener, Connie Ray, Len Cariou, Mark Venhuizen, Cheryl Hamada, Phil Reeves, Matt Winston, James M. Connor, Jill Anderson.
Duração: 125 minutos

terça-feira, 19 de julho de 2011

De Tanto Bater Meu Coração Parou


"De Tanto Bater Meu Coração Parou" foi - merecidamente - mencionado na lista dos 100 melhores filmes da década, feita pelo jornal britânicoThe Times. Dualidade, escolha, destino e caráter são os principais elementos da produção do diretor francês Jacques Audiard.

Baseado no filme americano "Fingers", de 1978, o cenário deixa de ser Nova York e se muda para Paris, onde uma estória pesada, mas cheia de esperança, toma lugar. Thomas Seyr (Roman Duris) trabalha com o pai no ramo imobiliário. Eles não têm pena de expulsar os inquilinos devedores de maneira violenta e nem de agredir eventuais invasores dos imóveis que tomam conta. Apesar de ter esse exemplo do pai, Thomas tem uma outra metade herdada da mãe, que morreu há muitos anos: ele é um excelente pianista, mas foi deixando a música de lado, para entrar no lucrativo negócio do pai. Mas Thomas começa a deixar transparecer o lado sensível, quando o ex-professor da mãe o encontra e convida para uma audição. Agora, ele precisa voltar a estudar piano, se quiser levar a nova carreira adiante. Uma professora chinesa, que não fala nenhuma palavra de francês, está à frente dessa missão.

Thomas Seyr é um personagem com dois lados bem definidos. Enquanto não mede esforços para levar o negócio da família adiante, se envergonha da maneira corrupta e brutal como as coisas são feitas. A música tem na vida do personagem uma função de fuga, de evasão. É no momento em que está tocando piano, que Thomas parece se conhecer e aceitar o que realmente gostaria de estar fazendo na vida. É a música também a responsável por tornar o personagem uma pessoa determinada e com muito mais personalidade. Ele enfrenta a oposição dos sócios e do pai, abre mão diversas vezes do trabalho para poder ter as aulas de música e até aprende a ter paciência e ultrapassar dificuldades, já que a professora escolhida e ele precisam encontrar um jeito de se comunicar.

Audiard tem uma maneira muito especial de mostrar que a música é uma linguagem universal. A relação da professora chinesa e de um aluno francês só poderia dar certo com algo muito forte para os unir. Para retratar a maneira vazia com que Thomas viveu durante esses 28 anos, Audiard utiliza as cores do filme: nada é vibrante e colorido. As roupas do personagem principal e os locais onde ele frequenta tem aquela aparência meio suja e mórbida. Um dos únicos locais onde o diretor utiliza cores quentes e uma ambientação mais limpa é na casa da professora chinesa.

"De Tanto Bater Meu Coração Parou" é um filme que retrata o drama de milhares de pessoas que ficam divididas entre o que fazer com a razão e a emoção; que precisam escolher entre dois caminhos extremamente diferentes para seguir e, principalmente, como superar as dificuldades e ter coragem para assumir um dos dois caminhos.




Ficha Técnica:
De Tanto Bater Meu Coração Parou (De Battre Mon Coeur S'arrêté)
França - 2005
Direção: Jaques Audiard
Produção: Pascal Cacheteux
Roteiro: Jacques Audiard e Tonino Belacquista, baseado em roteiro de James Toback
Trilha Sonora: Alexandre Desplat
Fotografia: Stéphanie Fontaine
Elenco: Roman Duris, Neils Arestrup, Jonathan Zaccai, Giles Cohen, Linh Dan Pham, Aure Atika, Emanuelle Devos, Anton Yokovlev, Mélanie Laurent, Agnés Aubé
Duração: 108 minutos