Talvez "A Última Noite de Boris Grushenko" seja um dos filmes mais originais de Woody Allen. No caso, a originalidade não está nos assuntos abordados - até porque, mais uma vez, ele bate na tecla da morte, das convenções sociais e do intelecto do ser humano - mas na maneira como o diretor escolheu para retratar suas inquietações.
"A Última Noite de Boris Grushenko" é um filme que não se faz sozinho. Para apreciar a produção de verdade, Woody Allen exige da plateia interaja com o filme por meio de uma vasta bagagem cultural. É necessário, principalmente, entender o contexto social da época e ter conhecimento dos clássicos da literatura russa: Os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo, Guerra e Paz, O Idiota, entre outros.
Boris (Woody Allen) passou a vida inteira filosofando sobre a morte. Ele tem uma família que obedece totalmente aos estereótipos vendidos da Rússia da época: grossos, sem senso crítico e apesar da vasta terra, vivem enclausurados em um pequeno mundo. Mas o principal ponto dessa relação em família e em sociedade é que Boris não se sente parte do universo em que vive. Ele é apaixonado por Sonja (Diane Keaton), que é apaixonada pelo irmão dele, que é apaixonado por outra mulher. E, pra variar, os participantes desse triângulo amoroso só querem uma coisa: subir na vida, não importando de que maneira isso seja alcançado; com exceção de Boris, é claro.
O contexto histórico do filme, é a conquista da Europa por Napoleão. E a trama começa a se desenrolar no momento em que Boris é convocado para o exército, para proteger a pátria. Apesar de se declarar um pacifista, ele não tem escolha e acaba parando no front da batalha.
O ponto alto de "A Última Noite de Boris Grushenko" é a crítica à sociedade, feita por meio da literatura russa. As sátiras aos clássicos, fazem com que o filme continue interessante, mesmo depois de assistido várias vezes. É como se a cada exibição, o espectador notasse um detalhe que passou intacto. Mas além das críticas, Woody Allen investe, essencialmente, naquilo que o fez ser o grande diretor que é: a comédia. Os diálogos são incríveis, cheios que duplo sentido e de provocações à plateia. Não dá pra assistir "A Última Noite de Boris Grushenko" só uma vez. Para entender o verdadeiro sentido do filme, é preciso se dedicar e buscar compreender que nada está ali por acaso; desde a estética das personagens até à crítica mais disfarçada. Vale a pena assistir o filme também para identificar as referências que Woody Allen faz aos seus grandes mestres do cinema: os diretores Ingmar Bergman e Sergei Eisenstein.
A Última Noite de Boris Grushenko (Love and Death)
Estados Unidos - 1975
Direção: Woody Allen
Produção: Jack Rollings e Charles H. Joffe
Roteiro: Woody Allen
Fotografia: Ghislain Cloquet
Trilha Sonora: Sergei Prokofiev
Elenco: Woody Allen, Diane Keaton, Georges Adet, Frank Adu, Edward Ardisson, Féodor Atkine, Albert Augier, Yves Barsacq, Lloyd Battista, Jack Berard, Eva Betrand, George Birt, Yves Brainville, Gérard Buhr, Brian Coburn, Henri Coutet, Patricia Crown, Henry Czarniak, Despo Diamantidou, Sandor Elès, Luce Fabiole, Florian, Jacqueline Fogt, Sol Frieder, Olga Georges-Picot, Harold Gould, Harry Hankin, Jessica Harper, Tony Jay, Tutte Lemkow, Jack Lenoir.
Duração: 82 minutos
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