É impressionante a quantidade de provocações que "Entre os Muros da Escola" propõe ao espectador. Diversidade cultural, função das instituições sociais, educação da juventude e muitas outras. Mas acima de todas essas polêmicas, duas coisas ficam cada vez mais claras no cinema europeu: a urgência em fazer o espectador pensar e a abordagem de temas extremamente atuais.
O professor François, interpretado por François Bégaudeuau escritor do livro que deu origem ao filme, tem a difícil missão de ensinar e - sobretudo - educar jovens da sétima série do ensino fundamental. A maioria deles é da periferia francesa e já são todos cheios de personalidade e de visão de mundo. Esses alunos já têm noção do que é ser negro na França e do que é ser filho de imigrantes africanos no país. Atormentados pelo preconceito e pelo xenofobismo, esses jovens são extremamente desacreditados de um mundo melhor. Basta prestar atenção no debate que eles travam, a todo momento, com o prefessor - branco - François.
O curioso da realidade desses jovens é que eles tinham o poder de mudar a realidade que os pais e avós viveram. Ou seja, poderiam canalizar todo o sofrimento causado pelo preconceito, para o bem, para fazer com que a geração deles e as próximas não vivenciassem os mesmos problemas. Mas, no lugar disso, eles se fecharam em uma realidade e quem ousar transpor esse muro vai sofrer as consequências.
Em francês o nome do filme é apenas "Entre os Muros" - o que permite uma interpretação bem mais ampla. Em português, a tradução ficou "Entre os Muros da Escola" e, pra variar, a adaptação brasileira ficou bem mais abaixo que o título original. O problema é que no filme, os muros - as limitações - não só as da escola. Nesse caso, os muros são uma metáfora para explicar a dificuldade em lidar com culturas, pessoas, vidas e estilos diferentes. Cada um dos alunos da sala do professor François tem um estilo, tem uma personalidade. Saber incluir todos os estudantes de maneira democrática e fazer com que eles se sintam fazendo parte de um processo é a grande missão do educador. Os jovens de "Entre os Muros da Escola" são franceses e da periferia. Mas eles não são nada diferentes da realidade que pode ser encontrada em escolas particulares do mundo inteiro. Nos Estados Unidos, no Brasil, na Inglaterra... Em todos os países existem estudantes que desrespeitam professores e que se acham o centro do universo.
E para fazer com que o público se identifique mais ainda, o diretor Laurent Cantet não selecionou atores. O elenco do filme é composto por pessoas que não tinham nenhuma - ou quase nenhuma - experiência com atuação. E - como já foi dito - o próprio escritor do livro que deu origem à obra é o ator principal de "Entre os Muros da Escola". O mais curioso desse núcleo é que as ações dos personagens são tão naturais, que não dá pra perceber que eles não tem experiência nenhuma com as telas. Talvez nem os jovens atores mais profissionais da França, fossem conseguir transmitir tanta realidade ao filme. Os adolescentes, que realmente são da sétima série, interpretam tipos complexos talvez até sem saber.
"Entre os Muros da Escola" venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes e mostra como um diretor consegue prender o espectador por mais de duas horas com, praticamente, um cenário e uma trama "simples".
Ficha Técnica:
Entre os Muros da Escola (Entre les Murs)
França - 2007
Direção: Laurent Cantet
Produção: Caroline Benjo, Carole Scotta, Barbara Letellier e Simon Arnal
Roteiro: Robin Campillo e Laurent Cantet, baseado no livro de François Bégaudeau
Fotografia: Pierre Milon, Catherine Pujol e Georgi Lazarevski
Trilha Sonora:
Elenco: François Bégaudeau, Nassim Amrabt, Laura Baquela, Cherif Boundaïdja Rachedi, Juliette Demaille, Dalla Doucure, Arthur Fodel e Damien Gomes.
Duração: 128 minutos
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