É muito curiosa a identificação do diretor Werner Herzog com os assuntos ligados ao "exótico". Em 1972 o cineasta filmou "Aguirre, A Cólera dos Deuses", baseado na real expedição do conquistador Gonzalo Pizarro em busca de El Dorado, a lendária cidade feita de ouro. E 10 anos depois, Herzog filmaria "Fitzcarraldo" que conta a tentativa do empresário Brian Fitzgerald de construir um imenso teatro às margens do rio Amazonas.
Ao longo da carreira, a maioria dos diretores vai conseguindo definir um estilo muito característico de filmar. Seja pelo assunto que tratam ou pela fotografia que frequentemente adotam, as produções acabam se tornando "marcas registradas" dos cineastas. Com Werner Herzog não foi diferente. Se o espectador pudesse assistir "Aguirre" e "Fitzcarraldo" um logo após o outro, iria perceber que as cores, os planos e algumas críticas são bastante características do diretor.
Apesar de ser baseado em fatos reais, "Aguirre, A Cólera dos Deuses" não trata da aventura da expedição em busca de El Dorado. O filme aborda as complicações da mente humana, quando o homem se deixa levar pela ambição. Logo de início dá pra ver que Aguirre é uma pessoa forte, obstinada e de personalidade forte. Mas por trás de toda essa armadura, o guerreiro não consegue se manter lúcido após tantos dias perseguindo seu objetivo.
Outro fator que ajuda a ilustrar as mudanças mentais nos participantes da expedição é o cenário do filme. Durante 5 semanas, a equipe de filmagem esteve no Peru e no Rio Amazonas para conferir à produção um caráter mais real. E é impressionante como Herzog consegue transferir ao espectador toda a solidão da expedição. A locação ao longo do Rio Amazonas é vazia. É possível ouvir o barulho do rio, dos pássaros e mais nada - a não ser os ataques contra os índios, é claro.
É interessante assistir a "Aguirre, A Cólera dos Deuses" para ver a excelente atuação de Klaus Kinski como o personagem principal. Na verdade, a parceria entre o ator e Werner Herzog foi bem sucedida. O diretor sabia como extrair de Kinski a atuação na medida certa para os papéis que deveria interpretar, que variaram de um guerreiro ambicioso a um vampiro expressionista. Outro fator que vale a pena em "Aguirre" é a fotografia. Thomas Mauch conseguiu mostrar ao espectador porque esses guerreiros não conseguem manter a lucidez se alguma coisa sai errada. Mas, como é possível imaginar, em alguns momentos o filme perde um pouco o ritmo e se torna cansativo. Mas é normal, já que o principal foco de Werner Herzog era o comportamento humano e não a ação.
Ficha Técnica:
Aguirre, A Cólera dos Deuses (Aguirre, der Zorn Golles)
Alemanha - 1972
Direção: Werner Herzog
Produção: Werner Herzog,
Roteiro: Werner Herzog
Fotografia: Thomas Mauch
Trilha Sonora: Herbert Prach
Elenco: Klaus Kinski, Ruy Guerra, Heler Rojo, Peter Berling, Eduardo Roland, Del Negro, Cecilia Rivera
Duração: 110 minutos
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