sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Gritos e Sussurros



Talvez Gritos e Sussurros tenha sido o ápice artístico de Ingmar Bergman. O uso das cores, da música, do silêncio, o próprio roteiro... Tudo no filme se encaixa perfeitamente, principalmente quando combinado com a fotografia de Sven Nykvist - que fez parte da equipe técnica do diretor em vários filmes. Gritos e Sussurros pode ser também, um dos filmes que mais falam com o interior do espectador, principalmente o feminino. Os filmes de Ingmar Bergman sempre são carregados de existencialismo: as dúvidas sobre a vida e a morte, os sentimentos mais simples e os mais sombrios do ser humano, a velhice e tantos outros motivos que permitem horas de reflexão. E em Gritos e Sussurros ele permite ao espectador todas essas indagações.

O filme narra um certo período na vida de quatro mulheres: as irmãs Karin e Maria (Ingrid Thulin e Liv Ullmann, respectivamente), vão visitar a outra irmã Agnes (Harriet Andersson), que está a beira da morte e recebendo os cuidados da criada Anna (Kari Sylwan). Todas as mulheres possuem características bastante específicas, com medos, vontades e desejos secretos. E é a partir dessa diferença, que pode também ser entendida como semelhança, que Bergman narra os dias em que todas estiveram juntas. Ele mostra a vida interior de cada uma, por meio dos remorsos, memórias, fantasias e outros sentimentos.

É curioso ver como o diretor conseguiu explorar aspectos familiares que muitas vezes ficam escondidos em meio às convenções sociais. Essas quatro mulheres passam por momentos curtos de libertação, seguidos de repressão. Parece que, pela primeira vez na vida, elas conseguem demonstrar sentimentos, até então, proibidos. Em vários momentos, por exemplo, a relação das irmãs salta da pureza, para um sentimento de desejo e retorna para a frieza. Bergman realmente revira o mundo feminino e familiar.

Além das atuações e da mescla de sentimentos, o diretor usa de forma brilhante e a cor e o silêncio para criar uma atmosfera agonizante, fria e, por vezes, desesperadora. Bergman disse uma vez que havia imaginado a alma humana como os tons de vermelho utilizados em Gritos e Sussurros. Assim como nas paredes da casa, como na mobília, um vermelho muito quente transmite sensações de agonia ao espectador. O que é confirmado pela cromoterapia: de acordo com a terapia alternativa, o vermelho pode ter efeito vitalizante, excitante e estimulante. Mas quando é utilizado em excesso, como em Gritos e Sussurros, pode causar irritação e aumento da tensão nervosa.

Bergman também soube administrar o silêncio. Junto com a cor das paredes, o silêncio é fundamental para criar essa atmosfera de agonia e angustia. Logo no começo do filme, o som de relógios parece significar cada segundo a menos de vida de Agnes. O espectador também tem a impressão de que é possível escutar cada passo e respiração das irmãs na casa. Momentos em que qualquer diretor colocaria uma trilha sonora imponente, Bergman prefere usar a importância do silêncio para que seja possível entender o que acontece com aquela família.

Gritos e Sussuros é um filme obrigatório em todos os aspectos. A partir desse filme é possível analisar o cinema sob uma outra perspectiva, entender que menos é mais e perceber como posicionamento de câmera, iluminação e pequenos detalhes são fundamentais. É claro que é preciso ter paciência para acompanhar a evolução do filme e prestar atenção em cada movimento das personagens. Mas Gritos e Sussurros merece ser assistido milhares de vezes. Pois em cada uma dessas vezes, ângulos e aspectos diferentes das personagens serão percebidos.

Gritos e Sussurros (Viskningar och rop)
Suécia - 1972
Direção: Ingmar Bergman
Produção: Lars-Owe Carlberg
Fotografia: Sven Nikvyst
Roteiro: Ingmar Bergman
Trilha Sonora não original: Johann Sebastian Bach, Frédéric Chopin
Elenco: Harriet Anderson, Kari Sylwan, Ingrid Thulin, Anders Ek, Liv Ullmann, Erland Josepshson, Henning Moritzen, Inga Gil, George Arlin
Duração: 106 minutos

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