quarta-feira, 19 de maio de 2010
O Evangelho Segundo São Mateus
O Evangelho Segundo São Mateus (Il Vangelo Secondo Matteo)
Itália - 1964
Direção: Pier Paolo Pasolini
Na hora de escolher a abordagem que iria usar em O Evangelho Segundo São Mateus, Pasolini tinha duas opções: fazer uma leitura pessoal sobre a vida de Jesus Cristo ou procurar algum fato extraordinário sobre sua vida, mas que nunca tivesse sido aproveitado pelo cinema. Então, o diretor optou por seguir fielmente as escrituras bíblicas do Evangelho de São Mateus, o que entre as duas opções, o encaixa na primeira alternativa.
O Evangelho não apresenta nenhuma grande novidade sobre a vida de Jesus Cristo; o que torna o filme realmente diferente é o modo como Pasolini cria Jesus Cristo: ele consegue aproximar o maior ícone de todos os tempos da plateia, permite que Cristo seja um homem, não um santo (como é abordado em dezenas de filmes), mostrando-o, várias vezes, em momentos de impaciência.
Além da humanização de Jesus, Pasolini também dirigiu seu filme como se estivesse escrevendo uma poesia, para isso ele abusa da subjetividade como elemento essencial para diferenciar sua obra. Não é preciso que os personagens façam longos discursos para o espectador entender quais são as emoções sentidas. Para conseguir "falar sem falar" ele usa incontáveis closes nos atores (o que poderia ser uma estratégia perigosa, pois a maioria dos atores não eram profissionais). Outro recurso utilizado na poesia de Pasolini é a trilha sonora; em alguns momentos é possível perceber uma trilha viva, marcante. Já em outras situações o silêncio é o principal recurso para agregar fidelidade ao filme.
O Evangelho Segundo São Mateus é a produção de um diretor homossexual, contestador, marxista e ateu. Ou seja, tinha tudo para ser uma leitura extremamente pessoal e crítica do catolicismo. Mas, Pasolini preferiu usar o Evangelho como base para filmar uma verdadeira poesia.
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