terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Possessão




"Is it desire? Or violation? Devotion? Bondage? Your hidden fears will be around"



"Possessão" é o tipo de filme que é preciso ter muito cuidado sobre o que falar. Qualquer exposição de detalhes pode prejudicar o impacto da obra sobre a platéia. Por isso, a sinopse é apenas esta: Mark (Sam Neill) volta de viagem e descobre que sua esposa Anna (Isabelle Adjani) está tendo um amante. Por esse e outros motivos o casal embarca em uma grande crise no relacionamento. "Possessão" serve para mostrar que, mais uma vez, no cinema não é importante O QUE você conta, mas COMO se conta. Daí o grande mérito do diretor que, nesse filme, em especial, teve função determinante.

É curioso ver que alguns críticos classificaram "Possessão" como um filme de terror. É certo que cada um tem suas interpretações acerca de qualquer obra e que a partir do momento em que um filme, um livro, uma propaganda... são expostas ao público, cada um fica livre para interpretar como quiser. Sendo assim, "Possessão" pode ser classificado como um dos dramas mais densos da história do cinema. A trama é um drama de casal, de amor obsessivo e de psicose sexual. É aquele tipo de relação que o fim não pode chegar, mas por razões saudáveis é preciso que ele acabe. "Possessão" trata do amor carnal, do desejo e dos pensamentos mais íntimos das duas partes de um relacionamento.

Após assistir o filme é impossível não comparar vários elementos e a abordagem do diretor Andrzej Zulawski com o estilo de David Lynch. As loucuras de Lynch, a obscuridade, os pequenos detalhes que fazem a diferença... tudo está presente em "Possessão". E assim como o próprio Lynch falou "alguns filmes são para ser sentidos, não entendidos". É normal que o espectador passe o filme inteiro sem entender várias partes e o motivos de certos elementos estarem presentes, mas quando "Possessão" vai acabando e todos estão envolvidos pela atmosfera densa do filme, cada pedacinho da obra vai se juntando - até os detalhes mais monstruosos. Sentir o drama do casal, se colocar na situação e entender o que significa essa psicose de marido e mulher vale mais que se aborrecer por não acompanhar os elementos adicionados pelo diretor.

Há rumores de que o casamento de Andrzej Zulawski tenha sido inspirador para "Possessão"; talvez por isso alguns detalhes sejam tão difíceis de entender, pode ser que o diretor tenha adicionado pensamentos e sentimentos próprios para deixar tudo mais denso. Por esse motivo a direção de Zulawski foi o elemento mais importante para que "Possessão" fosse um dos filmes mais diferentes e complexos já realizados. Na cena em que Anna aborta é possível perceber que ela foi filmada de uma só vez, ou seja, não existem cortes. A atuação de Isabelle Adjani é perfeita. Principalmente nessa cena do aborto, que é uma das mais marcantes e inesquecíveis do filme. A atriz sabe quando ponderar e quando deve exagerar e enlouquecer. Talvez por isso sua atuação seja mais marcante que a de Sam Neill. Parece que ela como o lado feminino da relação e como personagem mais enigmática chama mais atenção que o marido. Mas Adjani está perfeita no papel, se o filme fosse feito de novo não seria necessário mudar nada do que ela fez.

É preciso ter muita paciência com "Posessão": seja para acompanhar o ritmo meio lento do filme, para encarar os surtos do casal e para assistir a maioria das cenas que são bastante pesadas. Se o espectador conseguir chegar ao final do filme não vai ser uma experiência perdida e vai ser possível assistir uma das mais diferentes e complexas produções do cinema.


Ficha Técnica:

Possessão (Possession)
França/Alemanha - 1981
Direção: Andrzej Zulawski
Produção: Marie-Laure Reyre
Roteiro: Andrzej Zulawski e Frederic Tuten
Fotografia: Bruno Nuytten
Trilha Sonora: Andrzej Korzynski
Elenco: Isabelle Adjani, Sam Neill, Heinz Bennet, Margit Carstensen, Michael Hogben, Joanna Hofer, Carl Duering, Shaun Lawton, Miximiliam, Rühtlein, Thomas Frey, Leslie Malton, Gerd Neubert
Duração: 123 minutos

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