segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Mensageiro do Diabo




O reverendo Harry Powell utiliza seu carisma e a religião para conquistar as pessoas os seu redor. Mas na verdade, Harry Powell é um golpista que se aproveita da fragilidade de jovens viúvas para tirar todo o dinheiro deixado pelo marido para eles. A mais nova vítima do reverendo é Willa Harper (Shelley Winters) que viu seu marido morrer enforcado, acusado de assassinato. "O Mensageiro do Diabo" tem uma trama bastante simples, mas toda a atmosfera criada ao redor da situação e as polêmicas propostas pelo roteiro fazem toda a diferença no que poderia ter sido mais um filme de suspense/terror.

A questão do filme é toda psicológica. Em nenhum momento se vê sangue, tiros, fantasmas e outros elementos comuns dos filmes do gênero. Robert Mitchum consegue deixar os espectadores desesperados apenas com palavras, olhares e subjetividade. Talvez "O Mensageiro do Diabo" seja um filme bastante a frente do seu tempo; é fácil imaginar o problema que um filme que critica a religião o tempo todo pode ter causado nos anos dourados. O fato é que os ensinamentos católicos e evangélicos são postos à prova em todo momento. Começando pelo ditado que pode resumir o filme inteiro: Harry Powell é "lobo em pele de cordeiro". A distância dos filmes da época ficam mais evidente quando pensamos que enquanto "O Mensageiro do Diabo" propunha uma estética diferente, temas e abordagens diferentes, os grandes estúdios filmavam "Ladrão de Casaca" e "O Pecado Mora ao Lado", ambos ótimos filmes, mas que pouco provocavam o público.

A única direção de Charles Laughton - que ficou arrasado com as críticas de "O Mensageiro do Diabo" e nunca mais realizou nenhum outro filme - foi cheia de referências e homenagens. É fácil perceber a influência do movimento expressionista e várias características do filme noir (sendo a mais óbvia, todo o clima gerado em torno do reverendo e o jeito com que o diretor utiliza as sombras e as luzes para dar um toque especial ao filme). Mas se a única direção de Charles Laughton só foi reconhecida como obra de arte muitos anos depois, um ponto em que todos chegam a concordar é a inesquecível atuação de Robert Mitchum. O reverendo Harry Powell já está ao lado de grandes personagens do cinema. Ele consegue transmitir toda maldade, crueldade e, ao mesmo tempo, carisma que os piores - ou melhores - vilões possuem.

Apesar de todas as qualidades, "O Mensageiro do Diabo" não deixa de ter problemas. O roteiro, por exemplo, é um deles. A insistência na "cegueira" das pessoas que cercam a vida do reverendo, em não ver sua verdadeira personalidade é o principal defeito. Apesar de ser convincente, a personagem dá diversas pistas de que não é a bondade que todos veem. A insistência chega até a ser um pouco irritante. Outro defeito é a atuação da pequena Sally Jane Bruce, que interpreta Pearl Harper, a garotinha que acredita cegamente no reverendo. Fora esses problemas, "O Mensageiro do Diabo" é um filme muito especial e bastante à frente do tempo em que foi filmado. E é uma raridade também: o filme chegou a pouco tempo em DVD e vale a pena ser visto.


Ficha Técnica:

O Mensageiro do Diabo (The Night of the Hunter)
Estados Unidos - 1955
Direção: Charles Laughton
Produção: Paul Gregory
Roteiro: Davis Grubb, James Agee, Charles Laughton
Fotografia: Stanley Cortez
Trilha Sonora: Walter Schumann
Elenco: Robert Mitchum, Shelley Winters, Lilian Gish, Evelyn Varden, Peter Graves, Billy Chaplin, Sally Jane Bruce, Gloria Castillo
Duração: 93 minutos

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