terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Criança



A Criança é um filme, no mínimo, muito interessante. Os irmãos Dardenne, já famosos por levar a realidade para o cinema, conseguiram retratar vários assuntos polêmicos em apenas um filme: a gravidez na adolescência, a marginalização dos jovens, a moral e a ética. Sônia (Débora François) e Bruno (Jérémie Rénier), com 18 e 20 anos respectivamente, são namorados e tem um filho não planejado. O pai vive de pequenos roubos e a mãe tenta sobreviver com uma pensão dada pelo governo, enquanto está à procura de emprego para sustentar o filho. A partir do nascimento da criança, os dois começam a ver o bebê de maneiras diferentes: a mãe quer fazer de tudo para dar uma vida digna à família e o pai pensa em usar o filho para conseguir mais dinheiro.

Com essa temática simples, o filme poderia ter sido mais um romance entre os milhares que o cinema já possui. Mas o roteiro e a direção dos irmãos Dardenne fazem toda a diferença. Eles procuram aproximar ao máximo o filme da realidade, seja na interpretação dos atores, seja na utilização do som: eles captam as buzinas, o barulho dos carros na rua, o som de moedas e todos os ruídos que compõe uma cidade. E apesar dos atores Débora François e Jérémie Rénier estarem ainda no início de carreira (na época do filme), a química entre os dois e a atuação comprometida com a realidade consegue aproximar ainda mais o espectador da vida conturbada do casal. Mas o verdadeiro destaque é o ator Jérémie Rénier como o pai irresponsável e imaturo. Ele se sai muito bem. Rénier consegue despertar no espectador sentimentos de raiva e de pena. Afinal, ele é um pai jovem e ainda não tem experiência em cuidar de alguém.

Mas o que é crucial para a diferenciação de A Criança de qualquer outro drama ou romance é o não-julgamento das personagens. Os diretores não estão interessados em avaliar o comportamento da família. Ele deixa essa tarefa para o espectador. A direção apenas mostra os fatos e deixa que cada um tome suas próprias conclusões. Até porque mesmo com toda a inexperiência da mãe e do pai, e com as frequentes brigas, eles não conseguem viver separados. Mesmo sem conhecer nada da vida, eles precisam um do outro para continuar seguindo em frente.

Apesar de não ser um filme ágil e com ritmo intenso, A Criança é um grande filme atual porque retrata, justamente, os problemas enfrentados pelos jovens hoje em dia: a gravidez precoce, seguida pela perda da inocência e a falta de esperança em um futuro melhor. A Criança ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e foi muito merecido. É interessante ver o que o cinema belga/francês conseguiu fazer com um roteiro, aparentemente, simples. Eles transformaram mais uma estória de gravidez na adolescência em um filme cheio de questionamentos.

Ficha Técnica:

A Criança (L'Enfant)
Bélgica/França - 2005
Direção: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
Produção: Denis Freyd, Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
Roteiro: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
Fotografia: Alan Marcoen
Trilha Sonora:
Elenco: Jérémier Renier, Déborah François, Jérémie Segard, Fabrizio Rongione, Olivier Gourmet, Mireille Bailly, Jean-Michel Balthazar, Stéphane Bissot, Frédéric Bodson, Olindo Bolzan
Duração: 95 minutos

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