terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ladrão de Casaca



Dizer que "Ladrão de Casaca" é um filme fraco seria uma injustiça. É certo que ele não apresenta toda a complexidade das outras obras de Alfred Hitchcock, mas nem por isso deixa de ter os principais elementos que constituem os filmes do diretor. Estabelecer uma comparação entre os filmes de Hitchcock é uma tarefa difícil. As obras têm tanta qualidade, que qualquer simplicidade é percebida. E é o que acontece com "Ladrão de Casaca".

John Robie (Cary Grant) é um ex-ladrão de jóias conhecido como "O Gato". Pela fama que conquistou ao longo dos anos, Robie tornou-se o principal suspeito de uma série de roubos que vinham acontecendo na Riviera Francesa. Para não ser acusado de um crime que não cometeu, "O Gato" utiliza as jóias da mãe de Frances Steves (Grace Kelly), uma jovem que ele conheceu na Riviera, para apanhar o verdadeiro culpado. O roteiro não é nada original; Hitchcock já havia utilizado o drama do inocente sendo injustiçado em "39 Degraus" e "Festim Diabólico". Mas mesmo que a base da trama não seja de um todo original, o diretor sabe como fazer com que "Ladrão de Casaca" seja um filme completamente diferente dos outros. O cenário romântico da Riviera Francesa, a atmosfera do local, o figurino e Grace Kelly são o principal diferencial da produção.

As cores quentes utilizadas nas filmagens - que ressaltam a beleza do local - fazem com que a ilha francesa seja mais encantadora ainda. A impressão que o espectador tem é que tudo em "Ladrão de Casaca" foi cuidadosamente planejado. Principalmente a fotografia de Robert Burks e o figurino. A direção de fotografia consegue criar um clima de romance, quando necessário, e muda bruscamente para uma atmosfera tensa. A cena da perseguição no telhado, o passeio de carro de Robie e Steves e a cena em que eles estão juntos vendo os fogos, são um ótimo exemplo dessa versatilidade de Burks, que foi vencedor de um Oscar por esse filme.

Já o figurino de Edith Head é um capítulo à parte. Os vestido que Grace Kelly usa são um clássico do cinema. Não é a toa que a figurinista continua sendo a mais premiada de toda a históra de Hollywood: foi indicada a 35 Oscar - incluindo "Ladrão de Casaca" - e venceu 8. Edith Head também serviu de inspiração para a criação da personagem Edna Moda no filme "Os Íncríveis". Os vestidos continuam atuais e poderiam servir de modelo para muitos estilistas.

Por todos esses motivos, fica claro que "Ladrão de Casaca" é menos um filme que uma ode à beleza de Grace Kelly. Tudo foi escolhido a dedo para elevar e homenagear a beleza da atriz, por quem Hitchcock era apaixonado. Na verdade, o diretor conseguiu enfatizar tanto a beleza de Grace Kelly que ela acabou chamando a atenção do Príncipe Rainier de Mônaco. É como se o tiro tivesse saído pela culatra: Grace Kelly se tornou a Princesa de Mônaco e nunca mais viria a atuar.

"Ladrão de Casaca" é um filme encantador. É, na verdade, o filme de um apaixonado. A maior preocupação de Alfred Hitchcock não era o roteiro, a direção ou qualquer outro aspecto técnico do filme. A intenção do diretor era homenagear a beleza, a vida e o encantamento; tudo isso personificado na figura de Grace Kelly.

Ficha Técnica:

Ladrão de Casaca (To Catch a Thief)
Estados Unidos - 1955
Direção: Alfred Hitchcock
Produção: Alfred Hitchcock
Roteiro: John Michael Hayes, baseado no livro de David Dodge
Fotografia: Robert Burks
Trilha Sonora: Lyn Murray
Elenco: Cary Grant, Grace Kelly, Jassie Royce Landis, John Williams, Charles Vanel, Brigitte Auber, Jean Martinelli, Georgette Anys, Alberto Morin, Eugene Borden, Philip Van Zandt, Guy de Vestel, John Alderson, George Adrian, Rebé Blancard, Jean Hébey, Dominique Davray, Russell Gaie, Michael Hadlow, Gladys Holland, Roland Lesaffre, Marie Stoddard, Alfred Hitchcock
Duração: 106 minutos

Nenhum comentário:

Postar um comentário