segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Porky's
Apesar de tratar da explosão de hormônios e da iniciação sexual do jovem americano nos anos 50, Porky's pode ser visto além disso. É certo que é necessário uma enorme boa vontade para enxergar o filme com olhos de quem busca um sentido em toda aquela confusão sexual, mas depois de várias reflexões é possível adquirir essa percepção.
Saindo do âmbito das mudanças que ocorrem na adolescência, Porky's mostra situações de abuso de poder, prostituição, opressão e falsos moralismos. Tudo o que a indústria de cinema de Hollywood odeia - quando é voltado contra eles, é claro. Obviamente não é possível dizer que Porky's é um filme profundo e culto. O diferencial que ele tem das comédias americanas atuais é mostrar a sexualidade e algo a mais. O que não acontece com American Pie, por exemplo. E mesmo que revele outros elementos além do sexo, o tipo de humor continua o mesmo. Porky's é o verdadeiro exemplo de que a comédia americana pouco evoluiu dos anos 80 pra cá - salvo alguns bons filmes do gênero, como os do diretor Woody Allen.
Em 1954 um grupo de adolescentes americanos tentam perder a virgindade em um bordel, o "Porky's". A missão não sai bem como eles esperavam e a vida escolar e familiar dos jovens fica em segundo plano: eles só pensam em se vingar do dono do bordel. Só o fato do filme se passar em um prostíbulo já revela a mentalidade sexual da época: sexo só depois do casamento. Mas, em contrapartida, a repressão da sexualidade era tão grande que os jovens tomavam exatamente o caminho contrário: eles queriam vivenciar tudo a todo momento.
É certo que qualquer pessoa que goste de um tipo de cinema mais refinado não vai ver muitos pontos positivos em "Porky's"; principalmente pela insistência nas piadas de humor negro, que já são extremamente repetidas. Mas o filme é destinado para um tipo específico de público e nesse nicho funciona bem. Talvez aquelas pessoas que assistiram "Porky's" quando tinham uns 12 ou 13 anos tenham adorado o filme e guardado boas lembranças dele. Mas nesse caso, avaliar a produção é muito mais uma questão de emoção que razão. Então, para eles, o filme é ótimo.
Vale assistir "Porky's" para entender de onde saiu a compulsão por filmes de jovens em busca da consolidação da sexualidade nos Estados Unidos. E para ter certeza de que a comédia americana pouco evoluiu ao longo dos anos. Mas o filme pode ser visto com olhos positivos porque incrementa alguns valores e temas que a sociedade americana detesta, ou seja, é interessante ver a provocação à uma das sociedades mais conservadoras do mundo - pelo menos por fora.
Ficha Técnica:
Porky's - A Casa do Amor e do Riso (Porky's)
Canadá, Estados Unidos - 1982
Direção: Bob Clark
Produção: Dom Carmondy e Bob Clark
Roteiro: Bob Clark
Fotografia: Reginald H. Morris
Trilha Sonora: Paul Zaza, Carl Zitter
Elenco: Dan Monahan, Wyatt Knight, Mark Herrier, Roger Wilson, Tony Ganios, Cyrill O'Reilley, Scott Colomby, Kaki Hunter, Scott Colomby, Nancy Parsons, Boyd Gaines, Bill Hindman, Doug McGrath, Eric Christmas, Kim Cattrall, Chuck Mitchell, Art Hindle, Alex Karras, Susan Clarck, Rod Ball, Lisa O'Rilley, Wayne Maunder
Duração:
Marcadores:
Cinema Americano,
Cinema Canadense,
Porky's,
Sexualidade no Cinema
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
O Picolino
O dançarino americano Jerry Travers (Fred Astaire) foi contratado para ser a estrela de um show de sapateado. Enquanto está ensaiando no quarto do hotel em que está hospedado, o barulho acaba incomodando a vizinha do andar de baixo Dale Tremont (Ginger Rogers). Isso é o suficiente para uma série de confusões começar.
O roteiro de "O Picolino" não é nada original; na verdade, quase nenhum dos filmes da dupla Fred Astaire e Ginger Rogers apresenta algo inovador quando o assunto é trama. A especialidade do casal é a química da atuação e os números de dança. Talvez, por esses dois motivos, eles tenham se tornado uma das duplas mais queridas e conhecidas da história do cinema. E "O Picolino" acabou sendo o filme mais conhecido e elogiado do casal.
"O Picolino" foi um filme que envelheceu. Não é possível dizer que ele continua atual ou que foi uma produção à frente de seu tempo. Mas existem dois tipos de envelhecimento quando o assunto é cinema. A primeira delas acontece quando o filme fica tão datado que chega a ser "inacreditável" e pouca coisa consegue se salvar. O segundo modo de envelhecer ocorre quando a trama se torna antiga e até "impossível" de ser repetida, mas o filme consegue ser tão marcante, que alguns aspectos continuam insuperáveis. E esse é o caso de "O Picolino". As coreografias, ao som da trilha sonora inesquecível, são momentos distintos do cinema. As músicas "Cheeck to Cheeck" e "Top Hat White Tie and Tails" são os dois grandes momentos do filme.
Uma das provas da imortalidade de "O Picolino" é a homenagem que o diretor Woody Allen fez ao filme. Em "A Rosa Púrpura do Cairo", Cecília (Mia Farrow) assiste a uma cena do filme de Fred Astaire e Ginger Rogers e sonha com o glamour do mundo do cinema.
É verdade que "O Picolino" só reproduziu o estilo de comédia que era realizada nos Estados Unidos dos anos 30; e que a própria fórmula já havia sido utilizada pela dupla de atores/dançarinos em outras produções ("A Alegre Divorciada", por exemplo). Mas "O Picolino" vai muito além da trama. Se esta é fraca, outros aspectos do filme o tornam um clássico e fazem com que ele seja o mais lembrado, entre os 10, que Fred Astaire e Ginger Rogers realizaram juntos.
Ficha Técnica:
O Picolino (Top Hat)
Estados Unidos - 1935
Direção: Mark Sandrich
Produção: Pandro S. Berman
Roteiro: Dwight Taylor
Fotografia: David Abel
Trilha Sonora: Irving Berlin
Elenco: Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Heverett Horton, Erik Rodhes, Eric Blore, Lucille Ball, Robert Adair, Gino Corrado, Tom Ricketts
Duração: 101 minutos
Marcadores:
Cheeck to Cheeck,
Cinema Americano,
Fred Astaire,
Ginger Rogers,
O Picolino
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Ratatouille
Ainda na década de 30, o Walt Disney Studios lançou uma obra inovadora para o cinema. "A Branca de Neve e os Sete Anões", primeiro filme do estúdio, revolucionou a maneira de criar animações para o cinema. A partir daí, os desenhos feitos à mão pela Disney seguiram uma trajetória de sucessos. Mas com o desenvolvimento tecnológico ela perdeu espaço para outros estúdios que utilizavam o computador para criar personagens e cenários. Esse foi o primeiro momento que a Disney balançou, após anos de dominação no mercado. E o responsável por essa instabilidade foi, principalmente, a Pixar. Para não perder o ritmo - e o lucro - a Disney comprou a concorrente e, a partir daí, eles lançaram uma série de sucessos. E Ratatouille é um exemplo deles.
Remy (Patton Oswalt) é um ratinho que sonha em ser chef de cozinha. Mas ele encontra dois grandes problemas para realizar o sonho: o próprio fator de ser um rato e a falta de apoio da família. Mas, por acaso, ele encontra Linguini (Lou Romano) que é um atrapalhado ajudante no famoso restaurante Gusteau's. Remy e Linguini fazem um pacto de cooperação: o rato ensina o rapaz a cozinhar e Linguini garante o emprego.
As animações, principalmente as da Disney, são famosas por serem filmes "família" e por ensinar às crianças uma série de virtudes. E apesar de ter mudado o tipo de "desenho", essa intenção de ensinar "boas maneiras" da Disney continua enraizada em seus filmes. Ratatouille é uma estória de amizade e de realização de sonhos. Mas, como é necessário divertir também os pais que levam as crianças ao cinema, Ratatouille é cheio de indiretas e alfinetadas. Uma delas é a alfinetada aos críticos dos restaurantes. Anton Ego (e o sobrenome "Ego" não é à toa) é o terror dos chefs do Gusteau's. Ele conseguiu acabar com a reputação do restaurante só com os artigos que escreveu. Esses são aqueles detalhes que as crianças só vão perceber quando assistirem ao filme de novo, muito tempo depois.
Ratatouille é mais uma prova do sucesso que foi a parceria entre a Disney e a Pixar. E o melhor de tudo isso é que os dois estúdios continuaram tendo extrema liberdade para criar e inovar no campo da animação.
Ficha Técnica:
Ratatouille (Ratatouille)
Estados Unidos - 2007
Direção: Brad Bird
Produção: Brad Lewis
Roteiro: Brad Bird e Jim Copobianco
Fotografia: Sharan Calahan
Trilha Sonora: Michael Giacchino
Elenco: Patton Oswalt, Lou Romano, Peter Sohn, Brad Garett, Janeane Garofalo, Ian Holm, Brian Dennehy, Peter O'Toole
Duração: 111 minutos
Marcadores:
Animação,
Cinema Americano,
Disney,
Pixar,
Ratatouille
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Ladrão de Casaca
Dizer que "Ladrão de Casaca" é um filme fraco seria uma injustiça. É certo que ele não apresenta toda a complexidade das outras obras de Alfred Hitchcock, mas nem por isso deixa de ter os principais elementos que constituem os filmes do diretor. Estabelecer uma comparação entre os filmes de Hitchcock é uma tarefa difícil. As obras têm tanta qualidade, que qualquer simplicidade é percebida. E é o que acontece com "Ladrão de Casaca".
John Robie (Cary Grant) é um ex-ladrão de jóias conhecido como "O Gato". Pela fama que conquistou ao longo dos anos, Robie tornou-se o principal suspeito de uma série de roubos que vinham acontecendo na Riviera Francesa. Para não ser acusado de um crime que não cometeu, "O Gato" utiliza as jóias da mãe de Frances Steves (Grace Kelly), uma jovem que ele conheceu na Riviera, para apanhar o verdadeiro culpado. O roteiro não é nada original; Hitchcock já havia utilizado o drama do inocente sendo injustiçado em "39 Degraus" e "Festim Diabólico". Mas mesmo que a base da trama não seja de um todo original, o diretor sabe como fazer com que "Ladrão de Casaca" seja um filme completamente diferente dos outros. O cenário romântico da Riviera Francesa, a atmosfera do local, o figurino e Grace Kelly são o principal diferencial da produção.
As cores quentes utilizadas nas filmagens - que ressaltam a beleza do local - fazem com que a ilha francesa seja mais encantadora ainda. A impressão que o espectador tem é que tudo em "Ladrão de Casaca" foi cuidadosamente planejado. Principalmente a fotografia de Robert Burks e o figurino. A direção de fotografia consegue criar um clima de romance, quando necessário, e muda bruscamente para uma atmosfera tensa. A cena da perseguição no telhado, o passeio de carro de Robie e Steves e a cena em que eles estão juntos vendo os fogos, são um ótimo exemplo dessa versatilidade de Burks, que foi vencedor de um Oscar por esse filme.
Já o figurino de Edith Head é um capítulo à parte. Os vestido que Grace Kelly usa são um clássico do cinema. Não é a toa que a figurinista continua sendo a mais premiada de toda a históra de Hollywood: foi indicada a 35 Oscar - incluindo "Ladrão de Casaca" - e venceu 8. Edith Head também serviu de inspiração para a criação da personagem Edna Moda no filme "Os Íncríveis". Os vestidos continuam atuais e poderiam servir de modelo para muitos estilistas.
Por todos esses motivos, fica claro que "Ladrão de Casaca" é menos um filme que uma ode à beleza de Grace Kelly. Tudo foi escolhido a dedo para elevar e homenagear a beleza da atriz, por quem Hitchcock era apaixonado. Na verdade, o diretor conseguiu enfatizar tanto a beleza de Grace Kelly que ela acabou chamando a atenção do Príncipe Rainier de Mônaco. É como se o tiro tivesse saído pela culatra: Grace Kelly se tornou a Princesa de Mônaco e nunca mais viria a atuar.
"Ladrão de Casaca" é um filme encantador. É, na verdade, o filme de um apaixonado. A maior preocupação de Alfred Hitchcock não era o roteiro, a direção ou qualquer outro aspecto técnico do filme. A intenção do diretor era homenagear a beleza, a vida e o encantamento; tudo isso personificado na figura de Grace Kelly.
Ficha Técnica:
Ladrão de Casaca (To Catch a Thief)
Estados Unidos - 1955
Direção: Alfred Hitchcock
Produção: Alfred Hitchcock
Roteiro: John Michael Hayes, baseado no livro de David Dodge
Fotografia: Robert Burks
Trilha Sonora: Lyn Murray
Elenco: Cary Grant, Grace Kelly, Jassie Royce Landis, John Williams, Charles Vanel, Brigitte Auber, Jean Martinelli, Georgette Anys, Alberto Morin, Eugene Borden, Philip Van Zandt, Guy de Vestel, John Alderson, George Adrian, Rebé Blancard, Jean Hébey, Dominique Davray, Russell Gaie, Michael Hadlow, Gladys Holland, Roland Lesaffre, Marie Stoddard, Alfred Hitchcock
Duração: 106 minutos
Marcadores:
Alfred Hitchcok,
Cinema Americano,
Grace Kelly
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Leão no Inverno
O Rei Henry II (Peter O'Toole) e a Rainha Eleanor (Katharine Hepburn) encontram-se com os três filhos para comemorar o Natal e definir qual deles vai assumir o reinado quando o pai morrer. A dificuldade em tomar essa decisão é que os três filhos têm personalidades muito distintas e os defeitos de cada um podem atrapalhar um futura administração. O Rei tem o filho preferido e a Rainha também. Nenhum dos dois pensa em dar o braço a torcer. Eles vão defender seus interesses até o fim.
É muito interessante ver como a corrupção, a chantagem, o egoísmo e o benefício próprio afetam a política há milhares de anos. "Leão no Inverno" se passa no século XII e é possível ver muitas coincidências com o modo de governar um Estado. No começo, Eleonora é uma boa mãe, mesmo protegendo um dos filhos, a impressão é de que ela é muito dedicada. Mas com o desenrolar da trama a Rainha torna-se tão maléfica e tão obstinada quanto o marido. Os dois deixam os interesses próprios ultrapassarem o amor familiar.
O destaque de "Leão no Inverno" são as atuações. Peter O'Toole consegue fazer com que o personagem se confunda com o próprio ator. É impressionante como ele incorporou o autoritarismo e a maldade de um rei corrupto. A outra atuação é a de Katharine Hepburn - que ganhou um Oscar por essa atuação. Ela sabe como transitar de uma mãe preocupada, para uma mulher forte e com interesses definidos. Na verdade, o casal O'Toole/Hepburn estão maravilhosos juntos. Para se ter uma ideia, Henry II deixa a Rainha trancada na torre de um castelo. Ele só desce de lá para celebrar momentos importantes, como o Natal por exemplo. Com todo o ódio cultivado pelo casal, em alguns momentos o espectador tem a ideia de que o conturbado relacionamento dos dois vai ser finalmente resolvido. Apesar de toda a dominação e a busca pelo poder, o casal parece ainda conservar um grande amor. Além dos veteranos atores, quem merece destaque é o ator Anthony Hopkins como Ricardo, um dos filhos do casal. Em seu primeiro papel em um filme, o ator já recebeu indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Se por um lado "Leão no Inverno" tem atuações brilhantes, por outro lado ele erra na quantidade de diálogos e o ritmo. O diretor Anthony Harvey preferiu utilizar a fala, em detrimento da imagem. A quantidade de planos que o casal real faz acaba confundindo e espectador e dificulta o acompanhamento da história. Não que o diálogo seja dispensável no cinema, mas às vezes é melhor mostrar algum pensamento que falar; afinal, pra isso os recursos de câmera foram criados. Anthony Harvey poderia ter utilizados os closes como recurso de afirmação de uma ideia.
"Leão no Inverno" não é um filme imperdível. Fora as atuações de Peter O'Toole, Katharine Hepburn e Anthony Hopkins, não há muito o que exaltar. As mais de duas horas de produção são bem cansativas. "Leão no Inverno" pode também ser um exemplo de como a imagem deve ser extremamente explorada no cinema. Diálogos são também importantes, mas é necessário utilizá-los de uma maneira que não deixe o espectador exausto.
Leão no Inverno (The Lion in the Winter)
Reino Unido - 1968
Direção: Anthony Harvey
Produção: Martin Poll
Roteiro: James Goldman
Fotografia: Douglas Slocombe
Trilha Sonora: John Barry
Elenco: Peter O'Toole, Katharine Hepburn, John Castle, Nigel Terry, Timothy Dalton, Jane Merrow, Anthony Hopkins, Nigel Stock
Duração: 134 minutos
Marcadores:
Anthony Hopkins,
Cinema Inglês,
Katharine Hepburn,
Peter O'Toole
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Barravento
Alguns cineastas demoram anos e até décadas para definir um estilo de filmagem. Um exemplo disso é Francis Ford Coppola que começou a carreira de dirigindo "Demência 13", Filme B que pouco ou nada teria a ver com os clássicos que dirigiu, como a trilogia de "O Poderoso Chefão". Mas no caso de Glauber Rocha é muito difícil adivinhar que "Barravento" foi seu primeiro filme. É certo que o diretor ainda estava experimentando e aprendendo a lidar com a linguagem cinematográfica, mas desde seu primeiro filme, o estilo do diretor já era marcante e diferente do que até então se produzia no Brasil.
O cinema brasileiro passava por um período de transição. Enquanto as chanchadas e os filmes produzidos em Hollywood levavam uma multidão aos cinemas, um grupo de jovens pensava que o cinema brasileiro deveria ter linguagem própria e adequada à sociedade local. Ou seja, a cultura popular era a principal aliada dessa nova maneira de fazer cinema. Esse grupo de cineastas viria a "criar" o Cinema Novo. Os "cinemanovistas" perceberam que só seria possível recriar a produção cinematográfica no país se todos estivessem unidos. Eles então se uniram por ideologias, pela política e pela arte. As questões políticas integram a tríade, porque as revoluções anti-imperialistas, como a de Cuba, acenderam nesses jovens a vontade de fazer o mesmo pelo Brasil, mas utilizando arte no lugar de armas. “Nossa geração tem consciência: sabe o que deseja. Queremos fazer filmes antiindustriais (...)”, disse Glauber Rocha.
Com essa visão, Glauber Rocha realizou "Barravento" no começo dos anos 60. Ele incorporou tudo o que o Cinema Novo pretendia (linguagem própria, utilização da cultura popular etc) e revelou o cotidiano de uma pequena comunidade no interior da Bahia. Utilizando os deuses da religião umbanda, cantigas populares e a pobreza da cidade de todos os santos, Glauber Rocha começou a carreira de muitas inovações e de novas leituras da produção cinematográfica.
Firmino (Antônio Pitanga) é um antigo morador da comunidade de pescadores, que foi para Salvador na tentativa de fugir da pobreza. Ao retornar ele se apaixona por Cota (Luíza Maranhão), mas não consegue esquecer Naína (Lucy Carvalho). O problema é que ela está apaixonada por Aruã (Aldo Teixeira), que é considerado "sagrado" pelos mais velhos da aldeia. Para acabar com esse amor, Firmino apela aos deuses e a uma rede de intrigas. Em "Barravento" o que menos importa é a trama. O grande aspecto do filme é a estética e a apresentação da cultura popular da Bahia.
A fotografia de Tony Rabatony capta os diversos ângulos das manifestações dos deuses da religião umbanda e a difícil batalha dos pescadores em busca do sustento. Tudo isso em locação; o que então era uma nova tarefa do cinema brasileiro, já que a maioria dos filmes eram realizados em estúdios. Outra questão pontual do filme é a trilha sonora. Todas as músicas que compõem o filme são típicas da comunidade de pescadores. Eles fazem rodas de samba, evocam os deuses e pedem a melhoria de vida por meio da música; que acaba sendo uma aliada importante na composição do filme.
Os filmes do Cinema Novo podem parecer meio difíceis de entender. É necessário que o espectador esteja disposto a compreender que, apesar de pecar no ritmo - o que acontece também em "Barravento" -, os filmes possuem uma estetica diferente do que até então era feito no Brasil, no que se tratava de cinema. Mais que entreter, os filmes do "Cinema Novo" serviam para cutucar e criticar a sociedade e a maneira importada dos Estados Unidos de filmar.
Ficha Técnica:
Barravento (Barravento)
Brasil - 1961
Direção: Glauber Rocha;
Produção: Rex Schindler, Braga Neto;
Roteiro: Glauber Rocha, José Telles de Magalhães;
Fotografia: Tony Rabatony;
Trilha Sonora: Washington Bruno;
Elenco: Antônio Sampaio, Luiza Maranhão, Lucy Carvalho, Aldo Teixeira, Lídio Cirillo dos Santos, Rosalvo Plínio, Alair Liguori, Antônio Carlos dos Santos, D. Zezé, Flora Vasconcelos, Jota Luna, Hélio Moreno Lima, Francisco dos Santos Brito;
Duração: 80 minutos.
Marcadores:
Cinema Brasileiro,
Cinema Novo,
Glauber Rocha
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Doutor Jivago
Doutor Jivago é uma adaptação do livro de Boris Pasternak, que trata da história da Rússia do início do século XX. Primeira Guerra Mundial, Revolução Socialista e Guerra Civil, Jivago (Omar Sharif) e Lara (Julie Christie) precisam passar por todos esses acontecimentos para tentar ficar juntos. Se não bastasse os fatos históricos, os dois são casados e passaram anos sem se ver. "Doutor Jivago" é uma trama de amor e um grande relato sobre a história de um povo e de uma nação que enfrentaram tantas dificuldades em tão pouco tempo.
"Doutor Jivago" tem todos os elementos que um grande filme precisa ter: uma bela estória de amor, a exploração de uma cultura pouco exposta - a Rússia -, atores muito talentosos, uma trilha sonora marcante e uma fotografia maravilhosa. O romance de Jivago e Lara não é comum. Eles enfrentam acontecimentos históricos na Rússia. É como hoje em dia assistir um épico chinês, talvez. Para a juventude atual, a China é cheia de encantos e mistérios, para os americanos dos anos 60, a Rússia fazia esse papel. Era ela o país "desconhecido" e problemático, quando levado em conta a rivalidade entre Estados Unidos e Rússia na Guerra Fria, contemporânea a "Doutor Jivago". Omar Sharif e Julie Christie foram o casal preferido de toda uma geração que lotava os cinemas na década de 60. Yuri Jivago é, a princípio, frio. Mas o espectador consegue perceber que ele sofre por amor e que em meio a tantos problemas que o país enfrentava, a única coisa que ele realmente desejava era estar ao lado do grande amor de sua vida. E Lara, que no começo é vista como a "vilã", acaba conquistando a compaixão da platéia.
Os aspectos técnicos do filme que mais chamam a atenção são a trilha sonora e a fotografia. Maurice Jarre compôs um dos clássicos do século XX. O "Tema de Lara" é um dos temas de filme mais marcantes de todos os tempos. A música é essencial para conferir dramaticidade e personalidade as personagens. Já o trabalho de Freddie Young, diretor de fotografia, foi captar a imagem do inverno russo e da solidão que isso significa na maior parte do filme. Apesar de não ter sido filmado na Rússia, Young utilizou o inverno do Canadá e da Inglaterra para construir os cenários do filme. Uma das cenas mais impressionantes é da casa de campo da família de Jivago, que da primeira vez é mostrada em uma grande panorâmica, como é característica dos filmes do diretor David Lean.
Lean foi acusado de dar mais enfoque à Revolução Russa que ao caso de amor de Jivago e Lara. Mas a maneira como o cineasta tratou do assunto não trouxe nenhum problema ao filme, principalmente para quem se interessa pelo assunto. É difícil filmar mais de 4 horas de filme, sem perder a concentração do espectador, principalmente quando se usa um fator "coadjuvante" do filme - no caso, os contextos históricos. Mas David Lean consegue fazer isso de maneira brilhante. "Doutor Jivago" é um filme maravilhoso em todos os aspectos. Assim como nos anos 60 conquistou milhões de fãs no mundo inteiro, o filme de David Lean continua impressionando e encantando os espectadores.
Ficha Técnica:
Doutor Jivago - Doctor Zhivago
Estados Unidos - 1964
Direção: David Lean
Produção: Arvid Griffe, David Lean, Carlo Ponti
Roteiro: Robert Bolt, baseado no livro de Boris Pasternak
Fotografia: Freddie Young
Trilha Sonora: Maurice Jarre
Elenco: Omar Sharif, Julie Christie, Gerladine Chaplin, Rod Steiger, Alec Guiness, Tom Courtnay, Siobhan McKenna, Ralph Richardson, Rita Tushingham, Jeffrey Rockland, Tarek Sharif, Bernard Kay, Klaus Kinski, Gerard Tichy, Noel William
Duração: 200 minutos
Marcadores:
Cinema Americano,
David Lean,
Doutor Jivago,
Omar Sharif
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
A Carga da Brigada Ligeira
"A Carga da Brigada Ligeira" é um remake do filme homônimo dos anos 30, protagonizado por Errol Flynn e Olivia de Havilland. A produção é baseada em fatos reais e narra a história da Guerra da Criméia - conflito entre Rússia e a aliança de países que envolvia Reino Unido, França, Itália e Turquia. As batalhas começaram após o Czar russo Nicolau I tentar expandir sua influência nos Balcãs, região entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo. Com a desculpa de que pretendia proteger os lugares "santos" dos cristãos em Jerusalém, as tropas russas invadiram os principados Otomanos do Danúbio (atual Turquia). Então, o sultão turco declarou guerra à Russia e recebeu o apoio de vários países. "A Carga da Brigada Ligeira" trata de uma das batalhas entre o Reino Unido e a Rússia.
O Capitão britânico Nolan (David Hemmings) é um oficial desacreditado de seu comandante, Lorde Cardigan (Trevor Howard). Outro Lorde britânico Raglan (John Gielgud), se junta a eles quando são mandados à Turquia para combater a invasão Russa. Como os três não conseguem chegar a um denominador comum, centenas de soldados da cavalaria são mandados para a morte em uma das batalhas mais desastrosas da história do Reino Unido.
O filme de Tony Richardson é considerado, ao lado de "Mash" (1970), uma das filmagens mais anti-bélicas do período. Ao contrário do que a maioria dos filmes mostram, o exército não é um lugar glamouroso, nem romântico. "A Carga da Brigada Ligeira" também conta com outra provocação: a Guerra da Criméia foi a primeira batalha a receber cobertura jornalística. O diretor e o roteiro conseguem explorar esse diferencial, que é mostrado na figura de um repórter e um fotógrafo que acompanham as tropas até a batalha final. Na maior parte do filme, o espectador é apresentado às difíceis situações do front e só na última parte é possível ver o enfrentamento entre os países inimigos.
Essa maneira de "dividir" o filme serviu para desfazer o mito de que se alistar para a Guerra é um ato de heroísmo. A vida dos homens das tropas do Reino Unido é bastante difícil e eles sofrem com as maiores adversidades do meio ambiente e das estratégias de batalha. Apesar de propor essa desmistificação da vida no front, "A Carga da Brigada Ligeira" é um filme apenas razoável. Nos filmes de guerra é necessário que o roteiro seja cheio de surpresas e reviravoltas, mesmo quando é baseado em fatos reais. Caso contrário o filme pode se tornar cansativo e descartável, como é o caso de "A Carga da Brigada Ligeira".
Ficha Técnica:
A Carga da Brigada Ligeira (The Charge of the Light Brigade)
Grã-Bretanha - 1968
Direção: Tony Richardson
Produção: Neil Hartley
Roteiro: Charles Wood
Fotografia: David Watkin
Trilha Sonora: John Addison
Elenco: Trevor Howard, Vanessa Redgrave, John Gielgud, Harry Andrews, Jill Bennet, David Hemmings
Duração: 139 minutos
Marcadores:
A Carga da Brigada Ligeira (1968),
Cinema Inglês,
Tony Richardson
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