quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Homem Que Virou Suco




O Homem Que Virou Suco (O Homem Que Virou Suco)
Brasil - 1981
Direção: João Batista de Andrade

O diretor João Batista de Andrade é um cineasta premiado nacional e internacionalmente. Seus filmes já foram vencedores de prêmios como: Festival Internazionale del Giallo e del Mistero di Cattolica 1984 (Itália) - Indicado a Melhor Filme, Festival Internacional de Moscou (1981)- Medalha de Ouro (Melhor Filme), Festival de Gramado (1981) - Venceu nas categorias de Melhor Roteiro, Melhor Ator, Melhor Ator Codjuvante, entre outros. E O Homem que Virou Suco é um de seus trabalhos mais aclamados.

O enredo do filme é curioso: Deraldo (José Dumont), poeta nordestino que acabou de chegar em São Paulo é confundido com um assassino procurado pela polícia. A partir do momento em que precisa sair de casa para não ser mais perseguido, seus problemas começam a despontar.

Porém, o filme não aborda este tema superficialmente. Ele trata da viva de um nordestino em São Paulo de uma maneira diferente, sem mostrar uma vida cheia de sofrimentos, com mortes, pesares e clichês. Pelo contrário, Deraldo é uma pessoa com um senso de humor enorme, logo, é extremamente bem humorado. Ao passo que coisas ruins acontecem, ele tenta pensar em tudo pelo lado positivo; o que faz com imensa
malandragem.

O Homem Que Virou Suco tem um contexto muito especial, pois entre as décadas de 1960 e 1980 a migração nordestina para o Sudeste foi intensificada devido à industrialização do Brasil. E, assim como o filme de João Batista de Andrade, outros abordaram a migração nordestina para São Paulo, por exemplo, Viramundo (de Thomaz Farkas).

Mas o grande diferencial de O Homem Que Virou Suco é a abordagem do problema da migração e modo como o diretor intercala os momentos de descontração e reflexão e sua construção. Ao invés de o espectador sentir pena de Deraldo, ele se identifica com alguém que faz de tudo para conseguir um trabalho digno e se ver livre de falsas acusações.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Quarto do Filho




O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio)
Itália - 2001
Direção: Nanni Moretti

Giovanni (Nanni Moretti) é casado com Paola (Laura Morante) e tem dois filhos: Andrea (Giseppe Sanfelice) e Irene (Jasmine Trinca). Tudo corre tranquilamente na família, o pai divide seu tempo entre a vida familiar e o consultório. A relação de Giovanni com a esposa é ótima e com os filhos também. Até que um dia ele vai à casa de um paciente atender um pedido urgente e quando está voltando para encontrar a mulher e os filhos fica sabendo que um acidente horrível aconteceu.
O Quarto do Filho divide bem o tempo entre o antes e o depois da tragédia. Primeiro o diretor situa o espectador, faz com que conheça os personagens e suas características principais. Em seguida, ele mostra a transformação da família após o acidente. Mostra a relação estável entre todos ficar abalada com momentos até de histeria e profundo sentimento de culpa.
O interessante do filme é que aquilo que poderia ser contato de maneira lenta e profunda demais, é transmitido ao espectador de maneira simples; Moretti preocupa-se, acima de tudo, com o sentimento da família, com as sensações do ser humano diante de uma perda. E também não faz com que o espectador sinta-se deprimido, mas que reflita sobre o que significa uma situação dessas para uma família.
Moretti mostra nesse filme que é possível emocionar o público sem apelar, contando uma estória simples, sem muitos rodeios. E vale também mencionar a importância do diretor, pois além de ator e diretor, também é roteirista de O Quarto do Filho e fez do seu filme o vencedor da Palma de Ouro em Cannes e indicado à doze categorias no prêmio David di Donatello, o oscar da Itália.


terça-feira, 27 de abril de 2010

O Atalante




O Atalante (L'Atalante)
França - 1934
Direção: Jean Vigo

O Atalante é considerado por muitos críticos como a obra-prima de Jean Vigo( cineasta francês que morreu aos 29 anos), que tem uma filmografia breve, com destaque para O Atalante e Zero de Conduta.
O filme conta a história do casal Jean (Jean Dasté) e Juliette (Dita Parlo), que após se casarem, passam a lua de mel em um navio, cujo capitão é Père Jules (Michel Simom). O marido, um amante do mar, não vê problemas em passar semanas dentro do navio, mas Juliette começa a ficar entediada e resolve fugir do navio por algumas horas para passar uma noite em Paris. Jean fica desapontado com a esposa e foge junto com Père Jules. É nesse momento que o filme faz justiça às críticas positivas que recebeu durante tantos anos.
O casal Jean e Juliette é um dos mais intensos da história do cinema. A atuação de Dasté e Parlo é tão real que parece que, de fato, eles são marido e mulher fora das telas. Em uma das principais e mais elogiadas cenas do filme, o casal está separado (ela em Paris e ele no navio), mas se imaginam um do lado do outro, em um ato de amor. Graças ao recurso da montagem, o espectador percebe a ligação existente entre o casal.
Mas o destaque da atuação também vai para Père Jules (Michel Simon). Em O Atalante, ele interpreta um personagem que é aquele tipo de pessoa que todos queríamos ter ao lado: engraçado, otimista e com ótimas estórias para contar. Alguns críticos dizem que Père Jules é a materialização do personagem surrealista de Jean Vigo.
A parte técnica do filme também merece menção. Jean Vigo consegue transmitir uma atmosfera específica para o espectador na hora que usa uma iluminação fantasmagórica fora do navio e cria um cenário exótico dentro do barco. Um lugar cheio de gatos, bagunçado e até com aspecto de sujo é o local onde o casal passa a lua de mel. E a ligação dos dois é tão grande que toda a precariedade do lugar não parece afetar Juliette.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Yojimbo





Yojimbo (Yojimbo)
Japão - 1961
Direção: Akira Kurosawa

Yojimbo tem todos os elementos para ser um faroeste americano; mas não é. O filme vai além disso, é um bang-bang do melhor estilo e japonês. Os elementos técnicos como fotografia e trilha sonora são destaques, assim como a atuação de Toshiro Mifune (que já havia trabalhado com Kurosawa várias vezes). Yojimbo é um dos melhores filmes de Kurosawa e inspirou obras primas como Por Um Punhado de Dólares (de Sérgio Leone) e Kill Bill (de Quentin Tarantino).
Sanujuro (Toshiro Mifune) é um samurai desempregado que chega a uma cidade à procura de emprego. Lá ele descobre que o poder está nas mãos de dois irmãos rivais. Logo ele oferece seus serviços aos dois. Mas quando eles descobrem a esperteza do Samurai, ele começa a sofrer graves consequeências.
A adaptação de faroeste de Kurosawa apresenta vários elementos clássicos do bang-bang: trilha sonora marcante, o uso de armas (que neste caso são as espadas), cidades quase fantasmas, entre outros.
Os filmes de Kurosawa sempre são marcados por uma fotografia belíssima. E neste caso não é diferente. O modo como Kazuo Miyagawa, diretor de fotografia, escolhe para enquadar as cenas é característico de Kurosawa. Em um dos momentos do filme, Sanjuro está avisando um dos irmãos sobre a possibilidade de um ataquele. Ele está sentado ao pé da escada e o irmão em um dos degraus mais acima. Cada passo desesperado que o irmão dá, uma parte da trilha sonora é tocada. Percebe-se a harmonia perfeita entre fotografia e trilha sonora.
Yojimbo foi uma obra tão marcante que influenciou várias gerações do cinema: Por Um Punhado de Dólares (de Sergio Leone, primeiro filme da trilogia do "homem sem nome"), é praticamente uma refilmagem de Yojimbo, alterando apenas alguns detalhes. Já Kill Bill usa a luta de espadas como principal acessório das lutas entre os personagens. Vale a pena assistir o filme de Leone para perceber as semelhanças entre as duas produções.

sábado, 24 de abril de 2010

Corações e Mentes




Corações e Mentes (Minds and Hearts)
Estados Unidos - 1974
Direção: Peter Davis

Corações e Mentes é o retrato mais cruel da Guerra do Vietnã. O diretor Peter Davis colheu depoimentos de oficiais, políticos, familiares de soldados, civis e autoridades européis e asiáticas, para montar um fiel retrato do que acontecia nos anos de ocupação americana no Vietnã. O documentário é tão chocante que faz com que o espectador sinta como se fizesse parte de tudo o que aconteceu na Guerra e como se uma daquelas vítimas fosse parte de sua família; o que só acontece devido ao diretor ter conseguido retirar daqueles atores de guerra seu lado mais humano e sensível. Não é preciso usar nenhuma trilha sonora e nenhum ator para conferir ao documentário dramaticidade, só a exposição dos fatos já se encarrega disso.
O documentário vai no rumo contrário de tudo que era apresentado sobre o Vietnã até então. Normalmente os filmes ficavam concentrados em pequenos conflitos e fazia um crítica indireta aos Estados Unidos. Peter Davis fez tudo diferente: mostrou a face do conflito e fez uma crítica mais indireta possível aos americanos. Outra inovação do diretor foi a possibilidade dos vietnamitas expressarem o que estavam sentindo com a Guerra e pedir por justiça. Fica nítido também a pretensão dos americanos de serem sempre os justiceiros, tentando afastar o "mal" de todas as frágeis nações em qualquer continente.
O maior mérito de Peter Davis foi fazer um documentário que foge do sensacionalismo, diferente do que acontece com Michael Moore, por exemplo. Corações e Mentes trata seus entrevistados com respeito, não persegue ninguém para colher informações e faz as perguntas mais ácidas da forma mais sutil possível. É uma aula de como fazer documentário, de como o diretor deve proceder e de como emocionar o espectador usando apenas a vida real como elemento, sem trilhas sonoras e interpretações forçadas.
E falando em emoções, a última cena do filme é inesquecível: a equipe estava filmando exatamente no momento em que bombas de Napalm caíram e, então, aparece uma menina correndo com o corpo todo queimado, junto com outras crianças, e até um bêbê no colo do pai na mesma situação. A menina com o corpo queimado é a mesma da foto histórica que é usada sempre que se fala na Guerra do Vietnã.



sexta-feira, 23 de abril de 2010

Intolerância




Intolerância (Intolerance)
Estados Unidos - 1916
Direção: David W. Griffth

Lembro que da primeira vez que assisti Intolerância e fiquei com o filme vários dias na cabeça. Tudo acontece de forma tão poética e singela, que é impossível esquecer suas cenas. E vi Intolerância alguns dias depois de assistir O Nascimento de Uma Nação; a diferença entre os dois aparece imediatamente. Enquanto O Nascimento de Uma Nação é um filme ríspido e racional, em Intolerância Griffth conseguiu tratar de um tema tão difícil de uma maneira única. Alguns estudiosos de cinema até dizem que Intolerância foi um modo de Griffth se redimir com a sociedade depois de fazer o "racista" O Nascimento de Uma Nação, que causou enorme polêmica na época.
O filme trata do tema intolerância em quatro períodos da história: na Babilônia; na Judéia, passando pela condenação de Jesus Cristo; em Paris no Massacre de São Bartolomeu e na América, retratando a ruína de um casal de jovens. As cenas vão sendo contadas de forma intercalada (no mesmo modo como "21 Gramas", por exemplo)e este modo de levar o roteiro faz toda diferença.
Outro destaque do filme é a atriz Lilian Gish, que participou de diversas produções de Griffth. Sua atuação como "a mulher do berço" confere uma autenticidade impressionante àquela situação.
Vale a pena assistir o filme para conhecer o trabalho de um dos mais famosos diretores de cinema de todos os tempos, a forma inovadora como contou a estória (tendo em vista que Intolerância é de 1916) e para ver como o filme parece uma longa poesia, sem ser cansativo.


quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Anjo Exterminador




O Anjo Exterminador (El Angel Exterminador)
México - 1962
Direção: Luis Buñuel

Talvez O Anjo Exterminador seja o exemplo máximo daquilo que pode ser chamado de filme surrealista e a obra prima do diretor Luis Buñuel. E como exemplo de sua configuração neste movimento do cinema, o diretor não interpreta a realidade como tal, mas a transforma. Nos filmes surrealista o sentido não é um objetivo, mas pode ser uma consequência do efeito das imagens no espectador.
Luis Buñuel passou a maior parte de sua vida inserido nessa estética. Além de O Anjo Exterminador, dois de seus filmes mais famosos exemplificam essa "fuga da realidade": A Idade do Ouro e Um Cão Andaluz. Nestes dois casos as imagens são provenientes de sonhos do artista Salvador Dalí, que Buñuel levou para as telas.
A princípio a trama de O Anjo Exterminador parece simples: um casal resolve dar uma festa para vários amigos em sua casa. Porém, a festa vai chegando ao fim e nenhum deles consegue sair do local. Mas é aí que nota-se a forma brilhante como Buñuel conduz o filme.
Logo na primeira cena os empregados, sem motivo aparente, fazem de tudo pra sair da casa, deixando seus patrões na mão. Só um deles, o mais obediente, resiste e fica para trabalhar na festa.
Conforme os dias vão passando, os convidados não conseguem sair da casa e começam a ficar apavorados com a ideia de passar o resto de seus dias dentro daquele local. A partir daí eles pensam em suas famílias, na comida e na água que vão acabar, no que está acontecendo fora daquele mundo e outras coisas. É neste momento em que os convidados mudam radicalmente seus comportamentos: vão da nobreza ao comportamento animalesco. Aí está a principal crítica do diretor à sociedade. Percebe-se a degradação daqueles que forjavam máscara e enquadravam-se em convenções sociais. A mundança de personalidade dos personagens são tão fortes, que o espectador esquece, por alguns momentos, de se perguntar o que faz aquelas pessoas não tomarem nenhuma atitude para sair da casa. E com o tempo, nota-se que este não é realmente o principal foco do filme, mas sim, a crítica à sociedade.
Outra crítica do diretor é ao catolicismo. Como na maioria de seus filmes, a Igreja não poderia deixar de ser alvo de especulações por parte de Buñuel.
Com certeza essa é uma obra que possibilita o espectador a conhecer as principais características da obra de Buñuel e os principais elementos do movimento surrealista.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Manhattan




Manhattan (Manhattan)
Estados Unidos - 1979
Direção: Woody Allen

Manhattan é a definitiva declaração de amor de Woody Allen por Nova York (porém longe de ser a última). É neste filme que ele exalta a cidade de Manhattan como sua alegria diária, como um de seus maiores amores. E realiza essa declaração optando por usar o preto e branco e uma fotografia brilhante!
Logo no começo do filme, ele tenta de várias formas demonstrar tudo aquilo que sente pela cidade, usando como a frase inicial do livro que seu personagem, Isaac Davis, está escrevendo.
Isaac é a consolidação dos personagens neuróticos de Woody Allen. Ele é um judeu de 42 anos, tem uma namorada de 17, que não ama, uma ex-esposa lésbica que está escrevendo um livro falando do fracasso de seu casamento e se vê completamente apaixonado pela amante de seu melhor amigo. Sua namorada é Tracy (Mariel Hemingway), a ex-esposa é Jill (Meryl Streep) e a amante é Mary (Diane Keaton).
Manhattan é um filme cheio de afirmações: como já foi dito antes, da paixão por Nova York e da neurose de seus personagens. Mas afirmou-se também a enorme química existente entre ele e Diane Keaton, a parceria entre fotógrafos, roteiristas, produtores etc.
Há também uma característica que se tornou marca registrada dos filmes de Woody Allen: a referência a escritores, filósofos, músicos e cineastas. A partir de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, parece que não há quase nenhum filme que o diretor não faça referência à artistas que admira. Em Manhattan, por exemplo, ele cita Kafka, Ingmar Bergman, Groucho Marx, entre outros.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Festim Diabólico




Festim Diabólico (Rope)
Estados Unidos - 1948
Direção: Alfred Hitchcock

Festim Diabólico é uma aula de como fazer cinema: da iluminação até a direção do filme, tudo é feito com maestria por Alfred Hitchcock. Do ponto de vista técnico, ele realiza um dos maiores sonhos de alguns cineastas: fazer um filme como uma peça de teatro, usando apenas planos-sequências (técnica usada por diretores que não usa cortes, as cenas são filmadas como sequências ininterruptas. E do ponto de vista mais emocional, ele obteve uma interpretação fantástica de James Stuart e o roteiro enigmático.
O filme conta a estória de um assassinato que dois amigos de colégio realizam só para provar que são capazes de cometer um crime perfeito. Os amigos são Brandon Shaw (John Dall) e Philip Morgan (Farley Granger), na verdade supõem-se que eles sejam um casal homossexual, e a vítima é David Kentley (Dick Hogan).Apesar de que Philip age muito mais influenciado por Brandon do que por vontade própria. Após o crime, eles escondem o corpo do antigo amigo de escola em um baú e resolvem dar uma festa para mostrar como são inteligentes e competentes. O jantar é servido em cima do baú com o corpo de David. Os dois só não contavam com a perspicácia de seu antigo professor Rupert Cadell (James Stuart).
No desenrolar dos fatos, o professor vai ficando desconfiado da ausência de David, que supostamente deveria estar na festa, e começa a interpretar sinais que os dois amigos fornecem; um, por ser seguro demais, e o outro, por ser apavorado demais.
Outra prova da maestria do diretor é o modo que ele consegue direcionar a atenção do espectador. Em uma das cenas mais tensas do filme, há um diálogo ao fundo, mas a concentração de quem assiste ao filme fica centrada apenas da imagem, sem nem notar no que as pessoas estão conversando.
Festim Diabólico também é um filme extremamente ideológico. A teoria do personagem de James Stuart é que os seres superiores deveriam matar os inferiores para "purificar" a sociedade. Tendo em vista que o filme foi filmado em 1948, 4 anos após o fim da 2º Guerra Mundial e na iminência do começo da Guerra Fria, a ideia do professor é uma mensagem direta para a sociedade mundial.
Filme ideológico, filmado com a perfeição de uma orquestra, com atuações inesquecíveis, um roteiro de deixar qualquer espectador extremamente apreensivo e usando a subjetividade para expressar os pontos de vista do diretor foram os ingredientes que Hitchcock usou para produzir essa obra prima do cinema.


domingo, 18 de abril de 2010

O Tesouro de Sierra Madre



O Tesouro de Sierra Madre (The Treasure of the Sierra Madre)
Estados Unidos - 1948
Direção: John Huston

Dois aventureiros contratados por um empresário desonesto juntam-se a um velho explorador de minas, que lhes convence a subir as montanhas do México em busca de ouro. Os três vão juntos nessa aventura que promete muitas surpresas.
Os dois aventureiros são Humphrey Bogart (Dobbs), Walter Huston (pai do diretor, que interpreta o velho Howard) e Tim Holt (Curtin).
O filme é baseado no livro homônimo de Berwick Traven Torsvan e faz um fina crítica ao capitalismo, mostrando a ganância dos personagens, a forma como se enganam para conseguir o ouro e as desconfianças que vão surgindo ao longo da aventura; por isso o autor do livro teve receios na adaptação de John Huston para o cinema.
Um dos maiores prazeres do filme é assistir Humphrey Bogart, que sempre é muito elegante em seus papéis, transformando-se em um ser decadente na busca busca do ouro. Seu personagem, Dobbs, é, de longe, o mais fanático por dinheiro, o mais desconfiado e o mais ambicioso.
Durante esse filme, perde-se a imagem do fino Rick Blane (de Casablanca) e somos deparados com uma pessoa paranóica, suja e desesperada. A atuação de Bogart é uma das melhores do filme, ao lado de Walter Huston.
John Huston e Humphrey Bogart já haviam trabalhado juntos no noir: O Falcão Maltês (1941), que, curiosamente, também abordava a ganância como elemento principal da trama.
Outro aspecto muito interessante do filme é a forma como a personalidade dos personagens são construídas e logo depois desconstruídas. Enquanto Dobbs representa o homem chegando ao "fundo do poço" e o velho Howard é a personificação da experiência, Holt simboliza a crença de Huston no caráter dos homens.
Apesar de ter momentos brilhantes, O Tesouro de Sierra Madre também tem momentos em que o espectador não consegue acompanhar a trama por ser lenta ou então prolongada sem necessidade.

O Tesouro de Sierra Madre foi premiado no Oscar de 1949 nas categorias:
Melhor Ator Coadjuvante - Walter Huston
Melhor Diretor - Joh Huston

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Enigma de Kaspar Hauser



O Enigma de Kaspar Hauser (Jeder Für Sich und Gott Gegen Alle)
Alemanha - 1974
Direção: Werner Herzog

Falar sobre o Enigma de Kaspar Hauser requer uma bagagem de conhecimentos muito abrangente. O filme engloba assuntos que podem ser analisados por diversos aspectos: psicológico, sociológico, comunicacional, psiquiátrico, filosófico, pedagógico etc. Também é possível fazer referência a muitos estudos sobre o homem, convenções sociais e sua interação com a sociedade.
Imagine alguém que até os 15,16 anos de idade nunca teve contato com outros seres humanos, nunca deixou o quarto onde morava e mal aprendeu a comunicar-se. Esse é Kaspar Hauser (Bruno S). Quando finalmente é retirado do cativeiro em que vivia, ele se vê com enormes dificuldades para interagir com outros homens e para aprender aquilo que a sociedade considera como certo e errado.
O filme mostra a tragetória desse homem que foi abandonado na cidade de Nuremberg vendo-se assustado com tudo que acontecia ao seu redor e observando tudo com ingenuidade, já que não conhecia nenhum sentimento maléfico. Tudo é baseado em fatos reais.
Até que a população percebe que a exploração dessa figura tão diferente pode render lucros à cidade. Logo, membros da prefeitura e da mídia retiram dele tudo que pode ser proveitoso; expondo-o em um circo, divulgando para população que um ser "anormal" está presente entre eles e outras atitudes.
Em todos os momentos do filme, a difícil aceitação de Kaspar Hauser das convenções da sociedade é posta à prova. Em uma cena, ele vê uma senhora fazendo tricô e pergunta a ela qual o papel da mulher na sociedade, afinal? Se ela só serve pra fazer trabalhos domésticos e costurar ou se faz outra coisa?. Toda a sua ingenuidade perante a sociedade é uma aula de socialização do homem.
Com certeza o filme é tão enigmático como é, graças à brilhante de direção de Herzog(Fitzcarraldo) e a impecável atuação de Bruno S. O diretor o viu em um documentário e o convidou para trabalhar com ele em O Enigma de Kaspar Hauser. Coincidentemente, o ator também teve uma vida bastante complicada: é filho de uma prostituta e até os 3 anos era espancado por ela. Passou então a viver em hospitais psiquiátricos até os 23 anos, quando fugiu e nunca mais voltou.
Mas o que realmente chamou atenção no conjunto da obra foi o título original, inspirado na obra Macunaíma: CADA UM POR SI E DEUS CONTRA TODOS. Depois de assistir o filme, parece que não existe título melhor para representar toda a vida de Kaspar Hauser na sociedade.

Cena quando Kaspar Hauser é exposto diante da sociedade em um tipo de circo:

terça-feira, 13 de abril de 2010

Monstros S/A



Monstros S/A (Monsters, INC)
Estados Unidos - 2001
Direção: Peter Docter e David Silverman

Apesar da maioria das pessoas subestimar as animações ou achar que elas só servem para ganhar Oscar de Melhor Canção ou Melhor Trilha Sonora, elas alcançam um espaço muito especial entre as produções cinematográficas.
Um exemplo dessa constante visibilidade, desde que a Disney resolveu revolucionar esse gênero, foi o crescimento do festival Anima Mundi, que reune curtas e longas metragens de animação (salvo algumas exceções) de todos os lugares do mundo.
Para comprovar a expansão dos filmes de animação uma lista que reúne mais de 70 melhores "desenhos", engloba tanto as décadas de 30, 70, 90 e vai até os anos 2000. Entre tantos filmes estão Up - Altas Aventuras, A Branca de Neve, Valsa com Bashir, Persépolis etc. E claro, Monstros S/A.
O filme apresenta uma temática voltada ao público infantil, mas, como na maioria das animações da Disney/Pixar, o contexto pode ser aplicado a pessoas de todas as idades.
James P. Sullivan, ou Sully, e seu amigo Mike Wzowski, estão cumprindo mais um dia de atividades em Monstrópolis: gerar energia para a cidade, dando sustos em crianças. Porém, em um determinado dia, uma garotinha, Boo, foge do seu quarto e entra na cidade. O problema é que as crianças apresentam ameaça mortal para os monstros. Agora, Sully e Wzowski precisam devolver a garota ao seu quarto o mais rápido possível.
É bem previsível que os dois vão aprender muitas lições de vida com Boo, mas o jeito que a trama se desenvolve é bem especial. Eles enfrentam um malvado monstro que concorre com Sully como o mais assustador, sofrem com baixas temperaturas quando são expulsos da fábrica que trabalham, tentam disfarçar a presença da garotinha de formas engraçadíssimas, entre outras aventuras.
A animação é muito bem feita, tem cores belas e os personagens são apaixonantes! É impossível não torcer para que Boo e Sully consigam ser amigos para sempre, rir muito com Wzowski e esperar que tudo dê certo e que o verdadeiro vilão dessa estória seja encontrado.

Trailer do filme:

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sob a Areia



Sob a Areia (Sous le Sable)
França - 2000
Direção: François Ozon

Particularmente, um dos principais aspectos que dá sustentação a um filme é a criação de uma atmosfera própria; e Sob a Areia consegue fazer isso brilhantemente. O diretor François Ozon consegue inserir o espectador em cada fotograma do filme, como se ele pudesse interagir de alguma forma com os atores.
Sob a Areia conta a relação de um casal, Marie (Charlotte Rampling)e Jean (Bruno Cremer), que são casados há 25 anos e sempre passam suas férias em uma cidade no sudoeste da França. Em uma das vezes, Jean deixa a esposa tomando sol e sai para nadar. Porém, ele não volta à areia e Marie fica desesperada sem saber o paradeiro do marido. Para "fugir" da dúvida do que aconteceu com Jean, a esposa finge que ele ainda faz parte de seu cotidiano. Vive como se ainda fosse uma mulher casada e com o marido presente em todas as horas do dia.
A transformação da personagem de Charlotte Rampling é um dos aspectos mais interessantes do filme. Ela, que era uma mulher fria e calada, passa a ser mais extrovertida, permitindo até algumas atitudes que não tomaria enquanto era casada. A cena que mais esclarece essa mudança é a de quando tem sua primeira relação sexual após o desaparecimento do marido. Enquanto estão transando, Jean assiste a tudo sem fazer nenhuma reprovação.
Com o desenrolar da trama, o espectador adquire um sentimento de dúvida implantado pelo diretor: Jean fugiu? se suicidou?. Este é o principal elemento do filme: o mistério. O roteiro misterioso desenvolve-se ao mesmo passo que a fuga dos fatos de Marie. Já que ela quer fugir da verdade, ela é mostrada subjetivamente, o que permite que o espectador tome suas próprias conclusões.

Tentei achar o trailer com a legenda em português, mas não encontrei. Mas mesmo assim é bom assistir para ter idéia da atmosfera que o diretor criou.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Triunfo da Vontade



O Triunfo da Vontade (Triumph des Willens)
Alemanha - 1935
Direção: Leni Riefenstahl

Talvez Leni Riefenstahl seja uma das diretoras mais polêmicas de toda a história do cinema. Isso porque alguns de seus filmes mais famosos foram encomendado por Adolf Hitler para fazer propaganda de seu estado nazista. Olympia e O Triunfo da Vontade são dois desses exemplos.
Em O Triunfo da Vontade ela documenta o VI Congresso Nacional-Socialista ocorrido em Nuremberg (fato curioso, pois com o fim da Segunda Guerra Mundial, Nuremberg foi a cidade que sediou o tribunal que julgou os 24 principais criminosos de guerra da Alemanha).
Tudo que é mostrado no filme é grandioso e magistral: os desfiles, os discursos, as paradas... A diretora utiliza o contra-plongée para enfatizar a grandiosidade dos políticos nazistas perante o público que assistia seus discursos. O filme também aposta na fala de jovens soldados para engrandecer o estado nazista.
Os grandes planos-sequências na filmagem das paradas e dos desfiles mostra milhares de pessoas que ficavam na expectativa para ver o führer mais de perto. Percebe-se também a expressão de emoção da população com a chegada de Hitler em um avião na primeira cena do filme. Esta cena, por sinal, é uma referência de filmagem até hoje para muitos cineastas.
Na tentativa de mostrar a grandiosidade da Alemanha de Hitler, Leni Riefenstahl acaba prolongando algumas tomadas que poderiam ser menores. Quase no final do filme, ela mostra um desfile de oficiais que dura quase 20 minutos. Porém, estas tomadas são perfeitamente compreensiveis quando o espectador sabe da real intenção da diretora.
Hoje, passados mais de 60 anos do fim do regime nazista o filme choca por ver a emoção dos alemães em apoiar alguém com idéias tão preconceituosas e depreciativas. Porém, a diretora atinge sua missão em mostrar ao espectador que este regime era apoiado por milhões de cidadãos que encontravam-se em desespero para ver seu país crescer e tornar a ser a potência que era antes da Primeira Guerra Mundial.

A seguir, a primeira e, talvez, mais famosa cena do filme:

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Escravos do Rancor



Escravos do Rancor (Abismos de Pasíon)
México - 1954
Direção: Luis Buñuel

Luis Buñuel encaixa-se no movimento surrealista do cinema. Os surrealistas tinham como proposta a transformação do mundo, ao invés de sua interpretação. Para eles, a arte não deveria ser uma parcela de nossas experiências, mas uma síntese de todos os aspectos de nossa existência. É possível perceber esse movimento em dois filmes de Buñuel: Um Cão Andaluz e A Idade Do Ouro.
Mas o diretor não realizou apenas filmes inseridos na estética surrealista. Durante os anos 50, passou um tempo filmando no México e fazendo filmes mais comerciais. "Escravos do Rancor" faz parte desta "fase mexicana" do diretor, ao lado de filmes como Os Esquecidos, O Alucinado, Robinson Crusoe e outros.
Mas "Escravos do Rancor" não é um filme que referencia a obra de Buñuel. Comparado com Os Esquecidos, por exemplo, é um filme fraco: foge da característica do diretor de fazer o espectador refletir após assistir a obra.
A trama do filme gira em torno de um filho adotivo que era rejeitado quando criança, e volta, já adulto e rico, para vingar-se daqueles que o tratavam mal. Ele também pretende conquistar o amor de sua irmã, que já está casada.
Os personagens intercalam uma paixão brutal com o desapego e a indiferença. Em alguns momentos tem-se a impressão de que o amor é tudo em suas vidas, já em outras sequências o que parece é que o que realmente importa é o egoísmo de cada um, o fato de botarem-se sempre em primeiro lugar.
É possível afirmar que "Escravos do Rancor" foi uma pequena queda na filmografia do diretor, já que antes deste filme, ele já tinha feito obras brilhantes e intrigantes.

Uma sequência do filme:

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Gavião do Mar



O Gavião do Mar (The Sea Hawk)
Estados Unidos, 1940
Direção: Michael Curtiz

Desde que o cinema tornou-se um fenômeno comercial, as produtoras tendem a manter a mesma equipe para realizar um filme quando ele torna-se um sucesso. Dentre vários exemplos é possível encaixar O Gavião do Mar entre eles. A Warner não exitou em continuar trabalhando com os atores Errol Flynn, Claude Rains e Alan Hale. Com o diretor Michael Curtiz e com o compositor Erich Wolfgang Korngold. Todos eles estiveram juntos na produção do filme "As Aventuras de Robin Hood", grande sucesso do estúdio em 1938.
O fato é que O Gavião do Mar é considerado até hoje como um dos nomes máximos do gênero "capa e espada"ou espadachim. Erron Flynn mostra uma charmosa atuação no papel de Geoffrey Thorpe: um pirata que em segredo faz um pacto com a rainha da Inglaterra para atacar navios espanhóis no Panamá que, supostamente, estão abarrotados de ouro. O filme gira em torno da viagem do capitão Thorpe para chegar aos navios espanhóis.
Porém, como todo filme, O Gavião do Mar não é isento de ideologia: no final da aventura, a Rainha Elizabeth (Flora Robinson), faz um discurso encorajando os ingleses a batalharem pela pátria, por justiça e para que não permitam que o mundo inteiro seja dominado por apenas um homem. De acordo com o contexto histórico da época, este era um discurso que se aplicava aos ingleses para reagirem contra o domínio de Hitler.


Abaixo o trailer do filme: