segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pixote - A Lei do Mais Fraco


É curioso que um dos melhores filmes brasileiros já produzidos, tenha sido feito pelas mãos de um argentino. Em "Pixote - A Lei do Mais Fraco", o diretor Hector Babenco leva para as telas a dura realidade das crianças de rua de São Paulo. Jovens de 11 anos, ou menos, já devem aprender - da maneira mais difícil possível - a lidar com o mundo adulto, com a dificuldade de dizer "não", de garantir comida e entender a sexualidade. Com pouco tempo de vida, a missão deles é a aprender a sobreviver.

A batalha de Pixote (Fernando Ramos da Silva) começa quando ele é abandonado pelos pais e precisa morar na rua para sobreviver. Ele acaba indo parar na FEBEM, vê amigos morrerem e convive com vários tipos de criminosos. "Pixote - A Lei do Mais Fraco" é um retrato do precário investimento em políticas públicas para auxiliar no crescimento das crianças de rua; já que um dos piores momentos da vida de Pixote é quando ele vai parar na FEBEM e entra em contato com um mundo completamente errado.

Hector Babenco é um cineasta conhecido por retratar assuntos polêmicos e por abordar as mazelas do ser humano em seus filmes. Em "Pixote" ele junta os dois elementos que o fizeram ser reconhecido e constrói uma realidade até difícil de aceitar. E para conferir esse tom mais real ainda, o diretor se inspira no neo-realismo italiano para filmar. A maioria dos atores escolhidos por Babenco, tem a vida muito parecida com aquela retratada no filme e nem são atores profissionais. Outra preferência do diretor foi o tom documental do filme. Quase não há efeitos especiais e elementos que deem um caráter suave à narrativa. A ideia é que a realidade seja representada o mais próximo possível do cotidiano daquelas pessoas.

Ao assistir o filme, é impossível não se deixar cativar por alguns personagens e sua visão a respeito da vida. O público cria um carinho tão especial por Pixote, que é difícil enxergá-lo de maneira dura, ríspida; o diretor contextualiza tão bem a história de vida do garoto, que o espectador entende que os erros que ele comente são naturais de alguém que é abandonado e fica sem rumo. Também é interessante prestar atenção em Lilica (Jorge Julião), o travesti da turma de Pixote. Mais velho, o personagem já tem uma visão dura da vida e de como a sobrevivência na rua é difícil. Lilica acaba sendo a referência adulta para Pixote.

Assim como "Cidade de Deus" foi um dos destaques do cinema brasileiro dos anos 2000, "Pixote" teve um tom bastante polêmico na década de 80. Se hoje em dia ainda é difícil aceitar que crianças tenham que roubar e matar para poder viver, há 30 anos, essa realidade era ainda mais intragável.


Ficha Técnica:

Pixote - A Lei do Mais Fraco
Brasil - 1981
Direção: Hector Babenco
Produção: Paulo Francini e José Pinto
Roteiro: Hector Babenco e Jorge Durán
Fotografia: Rodolfo Sanchez
Trilha Sonora: John Neschling
Elenco: Fernando Ramos da Silva, Marília Pera, Jorge Julião, Gilberto Moura, Edílson Lino, Zenildo Oliveira Santos, Cláudio Bernardo, Israel Feres David, José Nílson Martins dos Santos, Jardel Filho, Rubens de Falco, Elke Marailha, Beatriz Segall, Ariclê Perez, Emílio Fontana
Duração: 127 minutos

quinta-feira, 21 de julho de 2011

As Confissões de Schmidt

A maioria das pessoas encara a aposentadoria como uma libertação para se dedicar aquilo que realmente goste. Mas existem aquelas que encaram o momento em que param de trabalhar de uma forma angustiante: é como se elas não tivessem mais lugar no mundo. Este é o caso de Warren Schmidt (Jack Nicholson).

A aposentadoria de Schmidt vem acompanhada da morte da esposa. Com os dois acontecimentos, a vida de Warren fica deslocada de um sentido. Ele precisa buscar algum motivo para viver e para não deixar a vidar cair na monotonia. Então, Schmidt resolve partir em seu trailer rumo ao Nebraska para ajudar nos preparativos do casamento da filha, com um homem que ele não aprova. Mas todos os passos que Warren dá, rumo a uma nova vida, parecem estar errados. Tudo sai da maneira totalmente contrária como ele planejou. Já desacreditado em um futuro melhor, Schmidt se corresponde por meio de cartas com um garoto da Tanzânia - que ele ajuda com doações de 73 centavos por dia - e passa a expor toda a sua vida ao menino desconhecido.

Já é possível perceber o foco de "As Confissões de Schmidt" desde os primeiros minutos do filme: a busca de um homem pelo sentido da vida. Para incrementar essa busca, o diretor Alexander Payne não usa nenhum artifício inovador, nem tramas mirabolantes. O que realmente conta nesse filme é a simplicidade. Os personagens são interessantes, mas não são fantásticos - no sentido de serem apenas uma ideia do homem. O que acontece com Warren pode acontecer com qualquer pessoa que busca um algo a mais na vida. Um motivo que talvez tenha sido responsável por esse apoio na simplicidade, é a questão do orçamento. Comparado com os filmes atuais, "As Confissões de Schmidt" teve o "singelo" custo de pouco mais de 30 milhões de dólares.

Apesar de tentar explorar a comédia, o filme não consegue passar uma mensagem de felicidade. "As Confissões de Schmidt" tem um ar meio que desesperado e deslocado de um universo comum. Com todas essas características, parece não haver ator melhor para interpretar Warren que Jack Nicholson. Ele consegue fazer com que o espectador reflita em todos os momentos do filme, inclusive quando a produção acaba e resta aquela dúvida de "será que tenho aproveitado a vida?".

"As Confissões de Schmidt" é um dos melhores road movies feitos recentemente e vale ser lembrado como um dos filmes mais marcantes da década. Alexander Payne consegue reunir e revelar todas as dúvidas da sociedade moderna em uma produção que deixa o espectador pensando no que tem feito até hoje.


Ficha Técnica:

As Confissões de Schmidt (About Schmidt)
Estados Unidos - 2002
Direção: Alexander Payne
Produção: Michael Besman e Harry Gittes
Roteiro: Alexander Payne e Jim Taylor
Fotografia: James Glennon
Trilha Sonora: Rolfe Kent
Elenco: Jack Nicholson, Kathy Bates, Hope Davis, Dermont Mulroney, June Squibb, Howard Hesseman, Harry Groener, Connie Ray, Len Cariou, Mark Venhuizen, Cheryl Hamada, Phil Reeves, Matt Winston, James M. Connor, Jill Anderson.
Duração: 125 minutos

terça-feira, 19 de julho de 2011

De Tanto Bater Meu Coração Parou


"De Tanto Bater Meu Coração Parou" foi - merecidamente - mencionado na lista dos 100 melhores filmes da década, feita pelo jornal britânicoThe Times. Dualidade, escolha, destino e caráter são os principais elementos da produção do diretor francês Jacques Audiard.

Baseado no filme americano "Fingers", de 1978, o cenário deixa de ser Nova York e se muda para Paris, onde uma estória pesada, mas cheia de esperança, toma lugar. Thomas Seyr (Roman Duris) trabalha com o pai no ramo imobiliário. Eles não têm pena de expulsar os inquilinos devedores de maneira violenta e nem de agredir eventuais invasores dos imóveis que tomam conta. Apesar de ter esse exemplo do pai, Thomas tem uma outra metade herdada da mãe, que morreu há muitos anos: ele é um excelente pianista, mas foi deixando a música de lado, para entrar no lucrativo negócio do pai. Mas Thomas começa a deixar transparecer o lado sensível, quando o ex-professor da mãe o encontra e convida para uma audição. Agora, ele precisa voltar a estudar piano, se quiser levar a nova carreira adiante. Uma professora chinesa, que não fala nenhuma palavra de francês, está à frente dessa missão.

Thomas Seyr é um personagem com dois lados bem definidos. Enquanto não mede esforços para levar o negócio da família adiante, se envergonha da maneira corrupta e brutal como as coisas são feitas. A música tem na vida do personagem uma função de fuga, de evasão. É no momento em que está tocando piano, que Thomas parece se conhecer e aceitar o que realmente gostaria de estar fazendo na vida. É a música também a responsável por tornar o personagem uma pessoa determinada e com muito mais personalidade. Ele enfrenta a oposição dos sócios e do pai, abre mão diversas vezes do trabalho para poder ter as aulas de música e até aprende a ter paciência e ultrapassar dificuldades, já que a professora escolhida e ele precisam encontrar um jeito de se comunicar.

Audiard tem uma maneira muito especial de mostrar que a música é uma linguagem universal. A relação da professora chinesa e de um aluno francês só poderia dar certo com algo muito forte para os unir. Para retratar a maneira vazia com que Thomas viveu durante esses 28 anos, Audiard utiliza as cores do filme: nada é vibrante e colorido. As roupas do personagem principal e os locais onde ele frequenta tem aquela aparência meio suja e mórbida. Um dos únicos locais onde o diretor utiliza cores quentes e uma ambientação mais limpa é na casa da professora chinesa.

"De Tanto Bater Meu Coração Parou" é um filme que retrata o drama de milhares de pessoas que ficam divididas entre o que fazer com a razão e a emoção; que precisam escolher entre dois caminhos extremamente diferentes para seguir e, principalmente, como superar as dificuldades e ter coragem para assumir um dos dois caminhos.




Ficha Técnica:
De Tanto Bater Meu Coração Parou (De Battre Mon Coeur S'arrêté)
França - 2005
Direção: Jaques Audiard
Produção: Pascal Cacheteux
Roteiro: Jacques Audiard e Tonino Belacquista, baseado em roteiro de James Toback
Trilha Sonora: Alexandre Desplat
Fotografia: Stéphanie Fontaine
Elenco: Roman Duris, Neils Arestrup, Jonathan Zaccai, Giles Cohen, Linh Dan Pham, Aure Atika, Emanuelle Devos, Anton Yokovlev, Mélanie Laurent, Agnés Aubé
Duração: 108 minutos

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Galante Mr. Deeds

Foi a partir de "O Galante Mr. Deeds" que Frank Capra definiu o estilo e os temas dos filmes que iria realizar durante toda sua vida. O diretor, que ficou famoso por abordar o "american way of life", via na simplicidade e na ingenuidade, uma fonte inesgotável de estórias. Os filmes de Capra não serviam apenas para entreter a plateia: a intenção do diretor era fazer com que as pessoas saíssem dos cinemas com uma visão melhor da vida ou que acreditassem um pouco mais na espontaneidade do ser humano.

Longfellow Deeds (Gary Cooper) levava uma vida pacata em uma pequena cidade americana, até herdar uma fortuna de um tio que faleceu. Os advogados que cuidavam do dinheiro do milionário tentam convencer Deeds a ir para a cidade grande, Nova York, e conhecer o tipo de vida que o dinheiro pode proporcionar. Lá, ele se depara com uma outra realidade social e com tipos de pessoas que sua ingenuidade jamais poderia imaginar que existissem. Pelo jeito de ser, Deeds vira atração nacional e sofre com diversas tentativas de exploração.

Apesar de ser uma comédia escrachada, Frank Capra não deixa de realizar várias críticas em "O Galante Mr. Deeds".
As principais vítimas do diretor são: os advogados, a imprensa e os artistas. Ou seja, todos aqueles tipos "parasitas" que são capazes de tudo para atingir um determinado objetivo. Apesar de todos tentarem usar o novo milionário, é ele quem faz com que cada um desses profissionais entenda o seu devido lugar e o que eles deveriam fazer para viver honestamente. Deeds é uma figura tão carismática, que algumas das pessoas que mais tentam se aproveitar dele, acabam se rendendo à ingenuidade e a espontaneidade do personagem.

"O Galante Mr. Deeds" é um ótimo filme para entender porque Frank Capra é um cineasta tão aclamado e qual a sua importância para o cinema americano. O diretor conseguia desenvolver estórias excelentes, com atores fabulosos, sempre buscando o melhor do ser humano em todas elas. Em 2002, Steven Brill refilmou "O Galante Mr. Deeds" sob o nome de "A Herança de Mr. Deeds". Adam Sandler e Winona Ryder estrelam a produção.


Ficha Técnica:

O Galante Mr. Deeds (Mr. Deeds Goes To Town)
Estados Unidos - 1936
Direção: Frank Capra
Produção: Frank Capra
Roteiro: Clarence Budington Kelland e Robert Riskin
Fotografia: Joseph Walker
Trilha Sonora: Howard Jackson
Elenco: Gary Cooper, Jean Arthur, George Bancroft, Lionel Stander, Douglas Dumbrille, Raymond Walburn,H. B. Warner, Ruth Donelly, Walter Catlett e John Wray
Duração: 115 minutos

terça-feira, 24 de maio de 2011

Stromboli


Ao final da II Guerra Mundial, Karin (Ingrid Bergman) está presa em um campo de concentração na Itália. Ela pretende fugir do local e buscar abrigo político na Argentina, mas o visto não é concedido e Karin decide se casar com o pescador Antonio (Mario Vitale), que a cortejava por trás do arame que separava o campo de concentração da "liberdade". Sem estar apaixonada por ele, o pescador leva Karin para morar na pequena ilha de Stromboli, ao norte da Itália. Lá, eles percebem como vai ser a vida a dois.

Stromboli é o lugar ideal para realizar um filme sobre prisão e solidão. O ritmo dos habitantes e a paisagem do local são dependentes da atividade do vulcão que entra em erupção constantemente. Os hábitos e o jeito das pessoas da ilha acabam deixando Karin se sentindo desconfortável. Como ela vem de um lugar distante e tem costumes de uma pessoa da cidade, a estrangeira acaba sendo julgada e é vítima de preconceito da população de Stromboli. As mulheres consideram Karin infiel e excluem a "novata" das atividades praticadas por elas.

A grande questão do filme é mostrar o cotidiano dessas pessoas e como Karin, mesmo longe do campo de concentração, ainda se sente presa, sem liberdade. Além de ter esse sentimento porque a ilha não oferece nenhum entretenimento ou distração, ela ainda é vítima dos comentários das mulheres de Stromboli que acabam contaminando a cabeça do marido.

Roberto Rossellini foi um dos grandes nomes do neo-realismo italiano. Ele fez parte de um grupo de cineastas que preferiu retratar a realidade, com poucos recursos, a realizar mega produções que não davam conta da realidade do pós-guerra. Stromboli pode não ter a mesma força que os outros filmes do diretor realizados no período, mas consegue transmitir ao espectador um pouco do sentimento da população que viveu essa época.

Um dos grandes pontos de "Stromboli" é a cena final. Rossellini preferiu deixar que o espectador reflita sobre o destino de Karin que revelar o que realmente aconteceu com a personagem. Os últimos minutos de filme, interpretados praticamente apenas por Ingrid Bergman, ficam na cabeça do espectador durante um bom tempo. "Stromboli" é um ótimo filme e é diferente dos demais que já abordaram o tema da prisão e da solidão. Nele o espectador também incorpora uma parcela do sentimento de quem viveu o período da guerra.


Ficha Técnica:

Stromboli (Stromboli, Terra di Dio)
Itália / Estados Unidos - 1949
Direção: Roberto Rossellini
Produção: Roberto Rossellini
Roteiro: Roberto Rossellini, Sergio Amidei, Art Cohn, Gian Paolo Callegari, Renzo Cesana
Fotografia: Otello Martelli
Trilha Sonora: Renzo Rossellini
Elenco: Ingrid Bergman, Mario Vitale, Renzo Cesana, Mario Sponzo, Gaetano Formularo, Angelo Molino
Duração: 102 minutos

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Inferno na Torre


"Inferno na Torre" é mais um representante dos filmes de catástrofe que foram feitos em série pelos Estados Unidos durante os anos 70. A fórmula utilizada por outros representantes do gênero também se repete neste filme: um elenco cheio de estrelas, um herói que está disposto a perder a vida para salvar as pessoas, os personagens estereotipados e o clima de tensão no ar, sustentado por milhões de tentativas de sair do edifício e salvar a própria vida.

Doug Roberts (Paul Newman) é o arquiteto que projetou o edifício mais alto do mundo. Ele tem 138 andares e está localizado em São Francisco, nos Estados Unidos. No dia da inauguração do prédio, ele descobre que a construção está sujeita a curtos-circuitos, por conta de erros na parte elétrica. O receio do arquiteto toma corpo e um grupo de convidados da inauguração fica preso em um dos últimos andares do edifício quando um enorme incêndio começa. Apagar o fogo é a missão dos bombeiros, comandados por Michael O' Hallorhan (Steve McQueen).

Diferente de "O Destino do Poseidon", por exemplo, "Inferno na Torre", não tem toda aquela tensão que consegue prender o espectador do início do fim da projeção; é muito mais fácil a exploração de um navio, cheio de passagens, que de um prédio onde as pessoas estão trancadas em apenas um andar. Sendo assim, "Inferno na Torre" não consegue fazer com que o público fique preso à história, principalmente por o filme ter, desnecessárias, 2 horas e meia de duração. O roteiro tinha que ser extremamente bem amarrado para conquistar o público durante tanto tempo.

Assistir "Inferno na Torre" é interessante para entender uma parte da indústria do cinema dos anos 70 e compreender como essas catástrofes eram muito lucrativas para os estúdios. Também não é possível desprezar o que o filme significou para a época: simular um incêndio, em um edifício de mais de 130 andares e criar uma salvação, do jeito que o roteirista e os diretores fizeram, com certeza eram uns dos pontos altos de "Inferno na Torre" para a plateia da época.


Ficha Técnica:

Inferno na Torre (The Towering Inferno)
Estados Unidos - 1974
Direção: John Guillemin, Irwin Allen
Produção: Irwin Allen
Roteiro: Stirling Silliphant, Thomas N. Scortia, Richard Martin Stern, baseado no livro de Frank M. Robinson
Fotografia: Joseph F. Biroc e Fred J. Koenekamp
Trilha Sonora: John Williams
Elenco: Paul Newman, William Holden, Fred Astaire, Steve McQueen, Richard Chamberlain, Robert Vaughn, Sheilla Allen, Jack Collins, Faye Dunaway, Susan Blakely, Jennifer Jones, O. J. Simpson, Robert Wagner, Susan Flannery, Norman Burton, Dabney Coleman
Duração: 158 minutos

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Guerra ao Terror




Quando a lista dos indicados ao Oscar de Melhor Filme de 2010 foi divulgada, a imprensa deu mais importância ao fato de Kathryn Bigelow, que concorria com "Guerra ao Terror", e James Cameron, que concorria com "Avatar", terem sido casados. Além de competirem pelo prêmio principal, os dois cineastas também foram indicados para várias categorias em comum. O fato é que a imprensa, por um bom tempo, deu mais destaque a antiga relação conjugal dos diretores que as próprias obras em si.

Enquanto "Avatar" investia em tecnologia e filmar aquilo que já havia sido visto, "Guerra ao Terror" mostrava uma nova face da guerra. Sem a grandiosidade spielberguiana, mas com um cuidadoso realismo, Kathryn Bigelow mostra a guerra como uma droga; não no sentido de ser dolorosa, mas sim no âmbito de ser viciante.

A apenas 38 dias de voltar para casa, o sargento William James (Jeremy Renner) é enviado para integrar o esquadrão anti-bombas do exército americano. O sangue-frio do sargento gera alguns desentendimentos com os outros integrantes do grupo, que o consideram descuidado e irresponsável. Apesar dos perigos, eles seguem realizando a missão, sabendo que um dia de trabalho bem feito, é um dia a mais de vida.

Kathryn Bigelow escolheu retratar soldados que salvam vidas, no lugar de soldados que matam. O esquadrão anti-bombas atua junto à sociedade civil do Iraque. Eles trabalham perto de residências, shoppings e ruas movimentadas do país, o que significa que além de ter cuidado com a própria vida, eles precisam ser mais cuidadosos ainda com a vida dos outros.

A grande sustentação de "Guerra ao Terror" é o momento de tensão que precede a tentativa de desarmar as bombas; até porque antes de ser um filme de ação, a produção é um ótimo drama. É verdade que os filmes sobre as guerras americanas já se tornaram quase um gênero no país, mas "Guerra ao Terror" é, realmente, diferente de tudo que vem sendo feito. Seja pela escolha de abordar a guerra sem o glamour e a romantização geralmente imposta pelos diretores ou pela opção de filmar com o maior realismo possível.

Para dar a mais perfeita ideia de realidade ao espectador, o diretor de fotografia Barry Ackroyd realizou um belo trabalho fotográfico e de câmeras. Quem assiste "Guerra ao Terror" tem a sensação de estar no meio do Iraque, envolto pela quentura e aridez do país. Ackroyd também faz da câmera os olhos dos personagens, o que enfatiza ainda mais o suspense do filme.

"Guerra ao Terror" é um filme muito interessante, que leva ao público uma outra ideia do que é a guerra de verdade. Também é uma ótima oportunidade para ver um belo trabalho de fotografia, que busca aproximar a plateia da tensão que aqueles que são convocados para "defender o país" passam diariamante.


Ficha Técnica:

Guerra ao Terror (The Hurt Locker)
Estados Unidos - 2008
Direção: Kathryn Bigelow
Produção: Kathryn Bigelow, Mark Boal e Nicolas Chartier
Roteiro: Mark Boal
Fotografia: Barry Ackroyd
Trilha Sonora: Marco Beltrami e Buck Sanders
Elenco: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Bruan Geraghty, Guy Pearce, Ralph Fiennes, David Morse, Evangeline Lilly
Duração: 113 minutos