É curioso que um dos melhores filmes brasileiros já produzidos, tenha sido feito pelas mãos de um argentino. Em "Pixote - A Lei do Mais Fraco", o diretor Hector Babenco leva para as telas a dura realidade das crianças de rua de São Paulo. Jovens de 11 anos, ou menos, já devem aprender - da maneira mais difícil possível - a lidar com o mundo adulto, com a dificuldade de dizer "não", de garantir comida e entender a sexualidade. Com pouco tempo de vida, a missão deles é a aprender a sobreviver.
A batalha de Pixote (Fernando Ramos da Silva) começa quando ele é abandonado pelos pais e precisa morar na rua para sobreviver. Ele acaba indo parar na FEBEM, vê amigos morrerem e convive com vários tipos de criminosos. "Pixote - A Lei do Mais Fraco" é um retrato do precário investimento em políticas públicas para auxiliar no crescimento das crianças de rua; já que um dos piores momentos da vida de Pixote é quando ele vai parar na FEBEM e entra em contato com um mundo completamente errado.
Hector Babenco é um cineasta conhecido por retratar assuntos polêmicos e por abordar as mazelas do ser humano em seus filmes. Em "Pixote" ele junta os dois elementos que o fizeram ser reconhecido e constrói uma realidade até difícil de aceitar. E para conferir esse tom mais real ainda, o diretor se inspira no neo-realismo italiano para filmar. A maioria dos atores escolhidos por Babenco, tem a vida muito parecida com aquela retratada no filme e nem são atores profissionais. Outra preferência do diretor foi o tom documental do filme. Quase não há efeitos especiais e elementos que deem um caráter suave à narrativa. A ideia é que a realidade seja representada o mais próximo possível do cotidiano daquelas pessoas.
Ao assistir o filme, é impossível não se deixar cativar por alguns personagens e sua visão a respeito da vida. O público cria um carinho tão especial por Pixote, que é difícil enxergá-lo de maneira dura, ríspida; o diretor contextualiza tão bem a história de vida do garoto, que o espectador entende que os erros que ele comente são naturais de alguém que é abandonado e fica sem rumo. Também é interessante prestar atenção em Lilica (Jorge Julião), o travesti da turma de Pixote. Mais velho, o personagem já tem uma visão dura da vida e de como a sobrevivência na rua é difícil. Lilica acaba sendo a referência adulta para Pixote.
Assim como "Cidade de Deus" foi um dos destaques do cinema brasileiro dos anos 2000, "Pixote" teve um tom bastante polêmico na década de 80. Se hoje em dia ainda é difícil aceitar que crianças tenham que roubar e matar para poder viver, há 30 anos, essa realidade era ainda mais intragável.
Ficha Técnica:
Brasil - 1981
Direção: Hector Babenco
Produção: Paulo Francini e José Pinto
Roteiro: Hector Babenco e Jorge Durán
Fotografia: Rodolfo Sanchez
Trilha Sonora: John Neschling
Elenco: Fernando Ramos da Silva, Marília Pera, Jorge Julião, Gilberto Moura, Edílson Lino, Zenildo Oliveira Santos, Cláudio Bernardo, Israel Feres David, José Nílson Martins dos Santos, Jardel Filho, Rubens de Falco, Elke Marailha, Beatriz Segall, Ariclê Perez, Emílio Fontana
Duração: 127 minutos
Olá, Carolina. Antes de tudo: parabéns pelo excelente blogger. O texto, as imagens confluem para uma ideia harmoniosa perfeita. Ótima postagem essa, Pixote. Faz um bom tempo que vi. Preciso urgetemente revê-lo. Um abraço. Seguindo...
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